Nutrição e trabalho: relação estável? (parte 1) - Rede Gazeta de Comunicação
Nutrição e trabalho: relação estável? (parte 1)

MARI ABREU

Nutricionista

Não há como negar a correlação direta entre os alimentos e a saúde. Nosso corpo depende do aporte dos nutrientes que são essenciais para a vida. À medida que faltam, ou que algo seja consumido em excesso, nossa saúde deteriora.

Em torno do ano 400 antes de Cristo, Hipócrates, considerado por muitos o pai da medicina, junto com seus alunos, registrou suas observações sobre saúde, evidenciando esta relação. Tanto é que o procedimento mais recomendado por ele foi colocar o paciente em jejum, para depois iniciar uma alimentação adequada, antes de aplicar qualquer remédio que fosse. Aliás, uma das maiores preocupações de Hipócrates era que o médico não deveria receitar uma droga, ou iniciar um procedimento, que pudesse resultar em um mal maior para o paciente. E isso continua valendo!

Vamos ao que nos preocupa: se nos alimentarmos mal, mesmo antes que apareça alguma doença decorrente, o corpo manda sinais. Sintomas como azia, refluxo, dificuldades no sono, dor de cabeça ao acordar, irregularidades intestinais, são indicações infalíveis de uma alimentação inadequada. É claro que estes problemas resultam em sensações que influenciam nosso humor e, por consequência, o modo como encaramos a vida e seus desafios. A disposição para o trabalho muda, com repercussão na produtividade e na satisfação com o ambiente de trabalho. O impacto nas relações com os colegas é grande, mas não vem sozinha. Também sofrem as relações com amigos e familiares. A vida fica mais difícil.

O problema maior com uma alimentação inadequada é que os efeitos negativos, na maioria, demoram muito para aparecer. Um deles, fácil de se perceber, embora nem sempre acenda em nossa mente como um alerta, é o sobrepeso. O sobrepeso é, atualmente, um problema mundial: 82% por cento dos norte-americanos estão acima do peso ideal, 42% estão tão acima deste peso, que são considerados obesos. No Brasil 60% das pessoas está acima do peso, 27% são obesas. É pouco? Um em cada quatro brasileiros é obeso!

Hoje em dia, segundo a Organização Mundial da Saúde, o mundo como um todo tem mais problemas por excesso de peso do que pela falta de alimentos ou desnutrição. Veja que estes problemas não são um só: a falta de alimentos é quando as pessoas passam fome. Desnutrição é quando se come errado e falta algum nutriente essencial, de forma que a pessoa adoece.

Por outro lado, excesso de peso somente surge quando se come errado. A repercussão do sobrepeso e obesidade são inúmeras. Na atual pandemia da Covid-19, ficou evidente que a obesidade é o segundo maior fator de mortalidade (ou comorbidade). Só perde, até o momento, para a idade. Ou seja, quanto maior seu sobrepeso, maior a chance de ter quadro grave da Covid-19, ou mesmo ir a óbito. O quadro mais importante, entretanto, está no fato de que as evidências científicas apontam para a obesidade como a base da grande maioria das conhecidas doenças crônicas não transmissíveis, que são pressão alta, esteatose hepática (gordura no fígado), Diabetes Tipo 2, doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, insuficiência renal crônica, demência, Alzheimer e diversos tipos de câncer, se não a maioria. Veja que, somando tudo, estas doenças são a causa de 71% das mortes a cada ano, no mundo.

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