O que a “trend do corretivo” nos comunica sobre os jovens? - Rede Gazeta de Comunicação
O que a “trend do corretivo” nos comunica sobre os jovens?

ANDRÉA LADISLAU

Psicanalista

Para começar, vamos entender o que são “trends”: são as tendências do momento. O que está em pauta e o que está viralizando nas redes sociais. E seguindo este conceito, nas últimas semanas nos deparamos com uma trend, no mínimo, curiosa e assustadora: A “trend do corretivo”.

Vídeos de alunos inalando pó de corretivo, com o objetivo de simular a utilização de entorpecentes, tomaram a internet, gerando preocupação em educadores, pais e responsáveis.

Mas o que está por trás dessas tendências? Porque situações destrutivas e que suscitam riscos á saúde física e emocional, podem viralizar entre nossas crianças e adolescentes? Qual o gatilho motivador faz com que eles busquem acompanhar e fazer parte de tais “trends”?

Psicanaliticamente falando, devemos lembrar que o ser humano possui o desejo inerente do pertencimento. Uma necessidade de pertencer a alguma tribo ou a algum grupo. Esses jovens e crianças ainda estão passando pelo processo de construção de sua personalidade e tendem a ter mais aflorado esse desejo de fazer parte de algum tipo de “comunidade”.

Motivo pelo qual, os pais ou responsáveis devem manter uma rotina de diálogo, uma comunicação aberta, uma escuta ativa, além da abertura da possibilidade e flexibilização para que os filhos possam externar seus sentimentos e suas emoções. Sem dúvida alguma, através do diálogo é possível investigar qual a motivação leva esse indivíduo a se aventurar por ações coletivas duvidosas, viralizadas nas redes sociais.

Um outro aspecto, muito importante, tem chamado a atenção da psicopedagogia já há algum tempo: a busca pela popularidade. Ser popular, ter a atenção de todos no ambiente acadêmico, ser querido, ser o “bom” ou a “boa”, ou mesmo ser notado. Um tipo de comportamento que denuncia sinais de autoestima baixa, complexo de inferioridade ou fobia e neurose relacionados à rejeição.

E ainda podemos levantar mais alguns questionamentos relacionados à motivação: será que esse indivíduo não está buscando ser notado na escola, por não estar sendo visto ou acompanhado em casa? Precisa chamar a atenção de seu entorno pela impossibilidade de se expressar e ser compreendido por todos?

A subjetividade mostra que muitas são as perguntas e diversas podem ser as respostas. Mas, não podemos fechar os olhos ao que tem sido ofertado aos jovens. Pois, visto toda a urgência e velocidade tecnológica que estamos vivenciando nos últimos anos, existe uma necessidade iminente dos pais estarem atentos ao que é consumido pelos filhos nas redes sociais.

Estão se alimentando de que tipo de conteúdo? Estão gastando tempo e energia com que tipo de informação? Esse controle mais presente, recheado de diálogo e informação e sem imposições, é fundamental para que não sejam influenciados por ações destrutivas que possam afetar seu equilíbrio físico e emocional.

Por fim, o âmbito familiar é a base de construção do caráter, da personalidade, dos valores e do comportamental de nossos adolescentes. Enquanto a escola faz a complementação através de boas práticas de convivência, orientação sobre posicionamentos, desenvolvimento cognitivo e foco diante da construção da trajetória acadêmica deste ser humano.

Porém, os perigos fazem parte da vida e a sabedoria está em fortalecer a comunicação, a educação e a formação do caráter e do estado emocional desse indivíduo que, muitas vezes clama por socorro, pede limites e acena por atenção e pela possibilidade de poder posicionar sua voz em muitos momentos.

Basta que estejamos dispostos a ouvir e atender aos apelos silenciosos. Desta forma, podemos evitar a proliferação de um exército de adolescentes perdidos e sem foco, afundados em abusos e excessos, consumidos através das redes sociais.

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