Montes Claros inicia Tríduo Pascal sem os lava-pés - Rede Gazeta de Comunicação

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Montes Claros inicia Tríduo Pascal sem os lava-pés

A Arquidiocese de Montes Claros inicia hoje (1º), o Tríduo Pascal, mas pela segunda vez em toda historia, sem o tradicional ritual de lavar os pés de 12 pessoas, simbolizando os discípulos. Curiosamente, desde que o arcebispo dom João Justino Medeiros foi empossado como titular, ele realizou esse ato apenas em 2019, pois em 2020 e nesse ano, a pandemia coronavírus impediu o ato. No ano de 2019, ele  surpreendeu os fiéis, já que  no presbitério estavam 12 leigos representando os apóstolos para a realização da cerimônia de lava-pés. Depois de repetir o gesto de Jesus, que perpetua desde a celebração da Instituição da Eucaristia, dom Justino desceu do presbitério e começou a lavar os pés de quem estava na assembleia participando da missa.  Atitude que surpreendeu quem foi abordado por ele.

Na  homilia, em, 2019, ele tinha citado que “Não podemos celebrar a Eucaristia, não podemos viver nosso sacerdócio, viver o mandamento novo, se não passarmos pela atitude de servir os irmãos. Que neste gesto de Jesus, entendamos as muitas formas de servir o próximo”, desejou. A Arquidiocese de Montes Claros explicou que a orientação é para os católicos ficarem em casa e evitarem as aglomerações, por causa da Covid-19. Na semana retrasada o arcebispo tinha manifestado a esperança de que pudesse celebrar o Tríduo Pascal com pelo menos uma quantidade menor de fieis dentro das igrejas. É que pelo decreto municipal não podia ficar nenhum fiel. Depois a Prefeitura flexibilizou, para permitir até 10 pessoas nas igrejas, fora do horário das celebrações. Nas missas, não pode ter nenhum fiel.

Em artigo no site da Arquidiocese de Montes Claros, sem data identificada, o arcebispo afirma que “um dos belos ritos da Semana Santa é o lava-pés. Eu tinha oito anos quando fui escolhido em minha comunidade para representar um dos apóstolos na celebração da quinta-feira santa. Lembro-me, como se fosse hoje, da preocupação de lavar bem os meus pés em casa. Penso que isso se passa com todos os que representam os apóstolos a cada quinta-feira santa. Pode parecer estranho que para lavar os pés no rito da Ceia do Senhor nos preparemos antes, deixando-os bem limpos. Acontece que esse cuidado explicita a força da ritualidade. Na verdade, aquele que preside a Missa da Ceia do Senhor, e se põe no lugar do Cristo, lava ritualmente os pés de alguns membros da comunidade que estão a representar os discípulos de Jesus. Pela força visual desse rito, essa página do Evangelho fica na memória de todos que participam ou assistem”.

“Já participei de reuniões de comunidades em que se discutia se convinha que os convidados a representar os discípulos estivessem com túnicas de diferentes cores, como era a veste comum no tempo de Jesus. Ou se seria possível convidar mulheres para integrar o grupo dos discípulos. E ainda se devem ser lavados os dois pés ou basta que seja um. Noutras vezes se discutia se o padre deveria ou não beijar o pé que acabara de lavar. Essas questões podem até ter sua importância, mas elas tendem a abafar o sentido mais importante apontado pelo Evangelho: se dispor a fazer o mesmo que Jesus fez, ou seja, a disposição para se inclinar diante do outro e de lavar os pés dele”.

“Eis a narrativa bíblica: “Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e voltou ao seu lugar. Disse aos discípulos: ‘Compreendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque sou. Se eu, o vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós. Em verdade, em verdade, vos digo: o servo não é maior que seu senhor, e o enviado não é maior do que aquele que o enviou. Já que sabeis disso, sereis felizes se o puserdes em prática’” (Jo 13,12-17). Como se observa, Jesus anuncia uma bem-aventurança, ou uma felicidade, que é colocar em prática o que ele ensinou, ou seja, lavar os pés uns aos outros”.

“Aqui está uma conversão que todos precisamos viver, certamente em intensidades diferentes: dobrar-se a esse ensinamento evangélico e descobrir as muitas formas de lavar os pés dos outros. Dobrar a cerviz com a corajosa atitude de se inclinar diante do outro, mormente de quem necessita de nosso serviço, e oferecer nossas mãos. Pode ser um morador de rua. Ou uma vizinha idosa que não pode sair de casa. Pode ser uma pessoa enferma que precisa de algum auxílio. Ou um pobre que aguarda sua solidariedade. Pode ser uma criança que anseia por uns instantes de atenção. Ou um jovem que precisa ser escutado… “Compreendeis bem o que vos fiz?”. A lição de Jesus não é difícil de ser compreendida, mas é desafiadora. Na liturgia, realiza-se o lava-pés uma vez a cada ano. O rito é, por sinal, facultativo. Mas na vida cristã, não. Ele se repete inúmeras vezes. E não é facultativo para quem aceita o convite de ser discípulo de Jesus. Que a Páscoa seja vivida todos os dias na expressão de seu serviço aos irmãos. Jesus deu-nos o exemplo para que façamos o mesmo. Esse gesto é pascal. Ele muda o mundo inteiro”.

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