O paradoxo do mentiroso (parte 1) - Rede Gazeta de Comunicação
O paradoxo do mentiroso (parte 1)

GAUDÊNCIO TORQUATO

Jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político

Eubulides, aluno de Euclides, o matemático de Alexandria, no Egito, também conhecido como pai da Geometria, marca presença em nossa árida paisagem institucional. Ele criou o “paradoxo do mentiroso”, que tem sido lume de bandas adversárias na arena política, impulsionando seus ditos, benditos e malditos, mentiras e versões.

Vamos lá: se alguém – parlamentar, governante, ministro, ex-ministro – disser “essa afirmação é falsa”, tende a criar grande confusão, porque um paradoxo se forma na cabeça dos ouvintes. Se a afirmação for falsa, então o dito do emissor é verdadeiro, pois foi exatamente o que ele disse. Mas se ele falou uma grande verdade, a afirmação será falsa, porque ele garantiu que era falsa. Donde se conclui que se é falsa, a afirmação do orador é verdadeira; e se é verdadeira, segue-se que a afirmação é falsa. Lógica simples.

Os argumentos usados pelos integrantes da CPI da Covid 19 dão margem a que, uns e outros, ancorados em afirmações falsas e verdadeiras, mudem de posição a todo momento, trocando com grande desembaraço os papéis de bandidos e mocinhos. Como o palco da crise sanitária ganha, via trombeta midiática, novos capítulos recheados de mortes, contaminados e projeções de uma terceira onda, aqui e alhures, infere-se que a má gestão da pandemia fica no território dos agentes do mal, enquanto combatentes da oposição lutam na arena do bem. Por isso, é visível na CPI o favoritismo dos oradores contrários ao negacionismo que corrói a imagem do governo.

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