Reconectando pela Neurociência - Rede Gazeta de Comunicação

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Reconectando pela Neurociência

ELIANE COMOLI

Professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP

O ser humano tem uma grande capacidade de adaptação ao mundo graças à habilidade extraordinária que o cérebro tem de moldar-se mediante as diferentes demandas do dia a dia. Tudo o que fazemos e aprendemos é capaz de modificar os circuitos neurais já estabelecidos e formar novas conexões. É justamente o mecanismo chamado neuroplasticidade ou plasticidade neural que permite ao cérebro modificar-se constantemente e manter-se continuamente em atualização e preparação para eventos futuros. As experiências vividas diariamente induzem à neuroplasticidade permitindo que o cérebro interaja de maneira permanente com o ambiente, armazenando os resultados aprendidos na forma de memórias. Isso torna o cérebro um dos órgãos mais interessantes. Os avanços conceituais dos últimos 60 anos que demonstram um papel ativo da neuroplasticidade tanto nas mudanças na conectividade neural como no controle e mudança do comportamento foram publicados na revista científica Journal of Neurochemistry.

Um dos maiores desafios da neurociência é compreender os sistemas neurais responsáveis pelas emoções e comportamentos, bem como pelos níveis mais elevados de atividade mental humana, como a consciência, tomada de decisão, imaginação e linguagem. Entretanto, a neurociência tem apontado caminhos para uma melhora substancial nas funções cognitivas, em particular na capacidade de aprender e de usar o conhecimento como uma ferramenta poderosa de desenvolvimento individual e da sociedade. Não há dúvidas que nascemos para aprender e criar. O aprendizado está relacionado não somente ao melhor desempenho acadêmico, mas sobretudo a melhores condições de vida, de satisfação pessoal, de sucesso econômico e de avanço social.

Interesses e curiosidades sobre assuntos de neurociência costumam ser muito comuns entre as pessoas em geral porque são assuntos que podem ser muito facilmente aproximados do cotidiano das pessoas. As emoções, por exemplo, são uma das características essenciais da experiência humana e funcionam como ferramentas adaptativas e indispensáveis nas diversas relações com o meio ambiente e no convívio social, fundamentais no processo de aprendizagem e formação de memórias duradouras. Além do mais a memória é um processo de caráter essencial na aprendizagem e é nela que está depositada a nossa identidade.

Nessa perspectiva, a neurociência funciona como um instrumento que permite entender um pouco de quem somos, como sentimos, como nos movimentamos, como pensamos, como aprendemos e como nos comportamos. Foi nesse contexto que surgiu o projeto Reconectando pela Neurociência, que propõe iniciativas de enfrentamento ao baixo engajamento escolar entre adolescentes de 12 a 18 anos em cumprimento de medida socioeducativa de privação de liberdade (internação) no Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Casa) Cândido Portinari, da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa) de Ribeirão Preto. O Reconectando pela Neurociência foi idealizado pelo professor Guilherme de Araújo Lucas, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, e reúne um grupo de professores da Universidade em colaboração com a coordenadora pedagógica e das atividades didáticas, desenvolvimento e avaliação das ferramentas didáticas da Casa Cândido Portinari, Juliana Chicani.