LARA MARIN
Pesquisadora, mestre em Estudos Culturais pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e autora de projetos e materiais didáticos
O debate sobre o retorno às aulas presenciais no meio da segunda onda da pandemia no Brasil continua presente e rodeado de opiniões de especialistas em saúde, governantes e familiares. Mas não temos ouvido quem mais conhece as escolas: professores e demais especialistas em educação.
Esses profissionais têm mostrado que não há condições reais de segurança sanitária para a comunidade escolar e temem que essa responsabilidade recaia sobre seus ombros, deixando de ser professores para se tornar fiscais de máscara e distanciamento social.
As equipes pedagógicas não deixaram de se preocupar com seus estudantes um dia sequer. Adaptaram bruscamente seu modo de trabalhar até encontrarem um funcionamento para o ensino remoto, o qual será trocado pelo ensino híbrido, forçando professores a operar com planejamentos em constante transformação, feitos às pressas, e a temer que a tão almejada qualidade da educação fique de lado por uma questão que não é só escolar, mas também social e de saúde.
Não há dúvidas do quanto crianças, jovens e suas famílias têm sofrido durante este período pandêmico. A escola é a instituição que mais sabe disso e opera junto à comunidade para que seus alunos continuem estudando. Portanto, também deveria ter voz nesta decisão tão delicada, mas se sente calada por decretos e abaixo-assinados daqueles que não vivem o funcionamento diário dessa instituição.
Outros profissionais temem a reabertura das escolas no momento em que o número de infectados e mortos pela pandemia só aumenta. Especialistas demonstram cientificamente o risco de se manter pessoas em um mesmo ambiente por muito tempo, alertam para a grande quantidade de contatos cruzados, para o aumento da circulação de pessoas na cidade e lembram que a vacina está aí e também deveria ser oferecida como prioridade para agentes educacionais.
É claro que a escola é uma das instituições mais fundamentais para o crescimento humano e social. Assim também pensam os profissionais da educação, que estão preocupados não só com o risco de contágio, mas também com a qualidade do ensino. É justamente por isso que o governo deve ouvir e legitimar o que dizem essas pessoas: para que as escolas não sejam a única instituição responsável pelas dificuldades sociais de seus alunos, e que outros órgãos possam atuar no apoio de que muitas famílias necessitam para a continuidade do aprendizado, como redes de amparo social, equipamentos eletrônicos, acesso ao mundo virtual, merendas e materiais escolares.
Precisamos ouvir com respeito e atenção o que os profissionais da educação dizem sobre as necessidades do ambiente que mais conhecem – a escola – e quais os riscos e possibilidades da reabertura neste momento, para que essa decisão deixe de ser uma pressão política e passe a ser técnica.
E que o governo invista de uma vez por todas na educação, vacinando seus profissionais, amparando e estruturando as escolas e acionando órgãos e medidas sociais para sustentá-las. Além, é claro, de apoiar as famílias, mantendo crianças e jovens saudáveis, em condições de estudar em um local salubre.
Compartilhe isso:
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)