Unimontes participa de programa nos Estados Unidos - Rede Gazeta de Comunicação
Unimontes participa de programa nos Estados Unidos

A Universidade Estadual de Montes Claros passa a participar do programa bianual promovido pela School of Social Science, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, focado na promoção e desenvolvimento de pesquisas desenvolvidas no Sul Global. Com a previsão excepcional de três anos de duração, os trabalhos foram iniciados ontem, concentrados na “School of Social Science”, vinculada ao “Institute for Advanced Study (IAS)”, centro independente de pós-graduação da Princeton University (New Jersey/USA). O professor Gustavo Dias, do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes, está entre os 20 pesquisadores da África, Oriente Médio e América Latina que integram a rede formada pelo IAS/Princeton, todos eles selecionados em critérios como o currículo acadêmico, qualidade da produção científica e o tema do projeto científico proposto ao Instituto, dentre outros.

Os trabalhos teriam início em maio de 2020, com atividades presenciais nos Estados Unidos, mas por causa da pandemia do novo coronavírus, o cronograma do “Summer Program in Social Science” foi replanejado para este ano. E a partir do próximo ano, há a previsão de que suas atividades presenciais voltem a ocorrer. Para este mês, o primeiro evento será remoto, com conferências on-line entre os pesquisadores. “Após este encontro, o propósito será de acompanhar o avanço das pesquisas desenvolvidas por cada um dos participantes, bem como propiciar redes de trabalhos e possíveis parcerias”, destaca Gustavo. Para 2022 e 2023, com a projeção de alcance global na imunização contra a Covid-19, os encontros poderão voltar ao formato presencial. Em 2022, o encontro ocorrerá no IAS e, em seguida, os 20 pesquisadores serão divididos em dois grupos: um irá para a Universidad Nacional de Colombia, em Bogotá (Colômbia), e o outro à University of the Witwatersrand, em Johanesburgo (África do Sul).

O professor Gustavo Dias seguirá desenvolvendo sua pesquisa sobre a migração internacional de brasileiros, que vem sendo desdobrada desde a tese de doutorado defendida na Goldsmiths College (Universidade de Londres) e, posteriormente, no estágio de pós-doutorado no Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, da PUC-SP. “Alguns pontos que não eram centrais para o desenvolvimento da tese apresentaram grande potencialidade para serem aprofundados posteriormente, como acontece agora junto ao IAS. Assim, poderemos ampliar a compreensão da migração internacional de brasileiros. Sobretudo, na dimensão temporal”.

E completa: “atualmente, a pesquisa explica, por exemplo, a intensa mobilidade migratória de brasileiros para o exterior no início dos anos 2000. Porém, não como um fenômeno isolado, mas que guarda sua origem nas decisões políticas e econômicas adotadas pelo País no início da década de 1990”. Segundo o pesquisador da Unimontes, “os dois grandes deslocamentos migratórios de brasileiros que ocorreram ao longo das décadas de 1990 e início de 2000 não são fenômenos isolados ou, então, que possam ser compreendidos apenas pelas redes migratórias que se desenvolveram ao longo das décadas”.

De acordo com o estudo, os deslocamentos migratórios dos anos 90 tiveram a predominância de uma classe média, originária de uma crise econômica provocada pela “Década Perdida” em toda a América Latina; nos anos 2000, “temos um fato novo: a presença de brasileiros oriundos de classes sociais mais baixas. De fato, houve uma melhoria inédita na qualidade de vida e poder de compra de muitos brasileiros ocasionado, sobretudo, pelo aquecimento do mercado interno”. O pesquisador destaca o acesso ao crédito, o aumento do emprego formal e do salário mínimo, bem como barateamento de passagens áreas internacionais como fatores influenciáveis neste fluxo de migração mais recente. Além disso, faz uma projeção: “certamente, no atual momento que vivemos, esse quadro deve acentuar”.

O processo da pesquisa, ainda conforme o professor da Unimontes, considera, também, a circulação transnacional de pessoas, informações e bens materiais. Mas, como o autor destaca: “chama atenção para as transformações políticas e econômicas vividas pelo Brasil nos últimos 30 anos, sobretudo quando assume e aprofunda a agenda neoliberal. Nossa posição periférica na divisão internacional do trabalho, cada vez mais, dependente do agronegócio, do extrativismo e do capital especulativo, gera uma crescente desindustrialização e perda do trabalho formal. A migração de brasileiros para o exterior pode ser compreendida dentro dessa conjuntura histórica”. (GA)

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