Cerca de 1,2 milhão de brasileiros têm “Chagas”, mas 70% desconhecem. A afirmação do Ministério da Saúde chama atenção para um problema, tão grave, quanto às consequências da doença: a desinformação. No caso das gestantes, o diagnóstico precoce é ainda mais importante, para impedir que os bebês sejam infectados durante o período gestacional.
Para mudar essas estatísticas e envolver profissionais de saúde e comunidade em geral, o Hospital Universitário da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) lança amanhã (18/12) o projeto CHARGE – Doença de Chagas e Rastreio em Gestantes. A iniciativa pioneira visa identificar a prevalência da Doença de Chagas em gestantes atendidas no HU e estabelecer um protocolo de rastreamento para esse grupo. Os recém-nascidos de mães diagnosticadas com a doença serão encaminhados diretamente para acompanhamento médico especializado.
A ação será conduzida por uma equipe multiprofissional do Hospital Universitário Clemente de Faria e do Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Instituto de Pesquisa em Saúde da Unimontes, com o apoio da Superintendência Regional de Saúde Montes Claros e da Fundação Ezequiel Dias. O projeto foi selecionado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e receberá recursos no valor de R$800 mil que serão aplicados ao longo de aproximadamente um ano, durante o desenvolvimento do trabalho.
A professora do departamento de Biologia Geral, Thallyta Maria Vieira, coordenadora do Laboratório Multiusuário em Doenças Infecciosas e Parasitárias do Instituto de Pesquisa em Saúde (IPS) da Unimontes é a idealizadora e coordenadora do projeto Charge. Dra Thallyta destaca que a transmissão vertical (da mãe para o bebê) é uma das principais preocupações no controle da doença. Ela enfatiza a importância do acompanhamento contínuo da gestante para a detecção precoce da infecção.
“O projeto CHARGE visa não apenas diagnosticar e tratar, mas também educar e promover a prevenção, melhorando a saúde das gestantes e dos recém-nascidos, além de contribuir para o controle da doença na região.”
Thallyta Maria Vieira, professora da Unimontes e uma das coordenadoras do Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias
Programação
A cerimônia de lançamento do projeto está marcada para esta quarta-feira, (18/12), às 10h, no auditório do Hospital Universitário. O evento, com inscrições gratuitas, será destinado à equipe multidisciplinar assistencial do HU, à comunidade acadêmica, além de pacientes, seus familiares e do público em geral.
10h- Abertura
10h30 – Palestra sobre doença de Chagas, rastreio e tratamento em gestantes- Pau Bosch Nicolau – Médico infectologista do Hospital Vall d’Hebron
11h – Apresentação do Estudo CHARGE doença de CHAgas e Rastreio em GEstantes -Thallyta Maria Vieira – Coordenadora do LADIP
11h20 – Encerramento -Bárbara Cerqueira Santos Lopes – Gerente da enfermagem da maternidade do HU
Doença de Chagas: rastreio e tratamento em gestantes
Na programação, está prevista a fala do médico infectologista Pau Bosch-Nicolau, membro do Departamento de Saúde Internacional Vall d’Hebron-Drassanes, do Hospital Universitário Vall d’Hebron, em Barcelona. O médico, que é uma das referências mundiais no tratamento da doença de Chagas e um dos coordenadores do estudo, falará diretamente da Espanha, com participação virtual no evento.
O palestrante é Doutor em Medicina pela Universitat Autònoma de Barcelona e pesquisador em doenças tropicais do Instituto de Pesquisa Vall d’Hebron, Barcelona, Espanha. Ele participa de projetos de pesquisa nacionais e internacionais na área de Parasitologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Doença de Chagas, Leishmaniose, Helmintíase, Tuberculose e saúde única.
Sobre o Projeto CHARGE
O processo de rastreio da doença de Chagas será desenvolvido com 396 gestantes e puérperas que recebem atendimento no Hospital Universitário Clemente de Faria. As participantes terão amostras de sangue coletadas para realização do teste sorológico para identificação da Doença de Chagas. Os recém-nascidos de mães diagnosticadas com a doença serão encaminhados para o Ambulatório de Infectologia Pediátrica do Centro Ambulatorial de Especialidades Tancredo Neves (CAETAN). Já as gestantes com diagnóstico positivo para Chagas serão direcionadas para tratamento e acompanhamento no Sistema Único de Saúde (SUS).
Estima-se que cerca de 590.000 mulheres em idade fértil no Brasil sejam portadoras da Doença de Chagas crônica. A taxa de transmissão vertical é significativa, com até 34 bebês nascendo com a infecção a cada 1.000 gestantes infectadas.
O tratamento, que é mais eficaz quando realizado precocemente. A prevenção está diretamente relacionada ao controle do inseto transmissor e à conscientização da população sobre medidas de proteção.
“Uma gestante que contrai a doença de Chagas pode transmitir o Trypanosoma cruzi ao feto durante a gestação, caracterizando a transmissão congênita. Já nas puérperas, a transmissão pela amamentação é rara. Assim, a amamentação só deve ser contraindicada na fase aguda da doença ou quando houver lesões mamilares com sangramento. Em condições normais, a amamentação não representa risco de transmissão”, explica a professora Thallyta Maria Vieira, uma das coordenadoras da equipe do Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias.
O projeto piloto terá duração de um ano. Com os resultados em mãos, os pesquisadores farão a análise dos dados para incorporação das boas práticas ao pré-natal. “Acreditamos que assim como Goiás já fez, o Norte de Minas precisa ter esse rastreio das gestantes como política pública”, explica Thallyta.
Link para inscrições no evento: https://sigex.unimontes.br/acao/2846
Sobre a Doença de Chagas
A Doença de Chagas é uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitida principalmente pelo inseto barbeiro, mas também por transfusões de sangue, transplantes de órgãos, alimentos contaminados e, em gestantes, por transmissão congênita. Considerada um grave problema de saúde pública, especialmente na América Latina, a doença pode ocasionar complicações cardíacas e digestivas caso não seja tratada adequadamente.
A infecção manifesta sintomas distintos em duas fases: fase aguda: os principais sintomas incluem febre prolongada (mais de 7 dias), dor de cabeça, fraqueza intensa e inchaço no rosto e nas pernas. Quando ocorre picada do barbeiro, pode surgir uma lesão semelhante a um furúnculo no local.
Fase crônica: caso não seja tratada, a doença pode evoluir para esta fase, inicialmente assintomática. Com o passar dos anos, surgem complicações graves, como insuficiência cardíaca, megacólon e megaesôfago.
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