MALU NUNES
Diretora executiva da Fundação Grupo Boticário e membro da Rede de Especialistas em Conservação Natureza
Contudo, ampliar as áreas protegidas não é o suficiente se continuarmos a estimular atividades danosas para a biodiversidade, que em geral ocorrem fora das áreas protegidas. Estudo publicado em 2022 pela ONG B Team, que reúne líderes empresariais e fundações internacionais, calculou em US$ 1,8 trilhão os subsídios globais a atividades econômicas que contribuem para a degradação de ecossistemas e destruição de espécies, envolvendo principalmente agricultura, pesca, combustíveis fósseis, extrativismo e exploração da água.
Estamos diante de uma oportunidade de redirecionar incentivos para fortalecer setores econômicos que têm impacto positivo para a biodiversidade. Com pesquisa, inovação, soluções integradas, cocriações e desenvolvimento de novos negócios será possível gerar oportunidades de trabalho e renda estimulando uma economia regenerativa. Essa pode ser uma incrível vantagem competitiva do Brasil, país com a mais rica biodiversidade do planeta.
O novo Marco Global da Biodiversidade também incentiva empresas de grande porte e instituições financeiras a avaliar, monitorar e relatar os riscos, dependências e impactos ambientais relacionados com a perda da biodiversidade. O acordo deve encorajar o setor privado a mapear melhor sua relação com a natureza e seus serviços ecossistêmicos necessários para manter suas operações, como o uso da água e outros recursos naturais que são essenciais para suas atividades, ampliando assim a relação de responsabilidade das empresas com o planeta.
Uma nova consciência empresarial é fundamental para fazer frente ao principal desafio do novo marco global: o financiamento. Apesar da importância de novos fundos internacionais para apoiar governos de países em desenvolvimento – outra conquista anunciada no Canadá -, sem o engajamento das empresas e do setor financeiro não será possível mudar o sentido desta história de degradação. Afinal, as empresas devem assumir que a natureza é a base para uma economia forte, capaz de gerar desenvolvimento com segurança e qualidade de vida.
Os biomas, florestas, nascentes, oceano, fauna e flora dependem desta nova consciência. O tempo está passando, mas ainda é tempo de colocar a biodiversidade no patamar de importância que ela tem para o nosso país e para toda a humanidade.
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