Um novo iluminismo (parte 2) - Rede Gazeta de Comunicação

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Um novo iluminismo (parte 2)

GAUDÊNCIO TORQUATO

Jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político

O panorama é propício para o reinado de “salvadores da Pátria”, falsos heróis que se abastecem da boa-fé e de réstias de esperança de populações em estado de miséria. Ante economias em estado de refluxo, incapazes de prover a sustentação de milhões de famílias, avolumam-se os pacotes assistencialistas, criando eterna dependência dos habitantes aos governos passageiros ou, como diz o nosso historiador José Murilo de Carvalho, instalando uma “estadania” em contraposição à cidadania.

Sai governo, entra governo, e o “bolsismo” assistencialista torna-se política de Estado, até porque não interessa ao maquiavelismo de muitos governantes a autonomia individual, a autogestão dos cidadãos na vida pessoal. A dependência ao Estado significa cooptar as massas com migalhas de pão sobre a mesa, ainda mais quando o sofrimento se expande com as pandemias que consomem energias de Nações. E, para agravar a situação, a competição eleitoral tem início muito antes do tempo, desviando recursos para ações não prioritárias, desorganizando a administração e abrindo as filas de pedintes nas cercanias da representação política.

Pois é esse retrato que estamos vendo na nossa paisagem. Os mortos pela COVID 19 beiram os 450 mil, devendo atingir logo mais a casa de meio milhão. Responsabilidades são jogadas de um para outro. É um jogo de “esconde-esconde”. O povo clama por vacinas, a floresta amazônica pede socorro, um ministro de Estado é acusado de ajudar as madeireiras, a imagem internacional do Brasil vai à lona, e tudo acontece sob a égide do comando maior do país. A hora chegou. Ou resgatamos a moralidade ou o país afunda no pântano. Ou respeitamos a ciência ou cairemos na vulgaridade. Ou voltamos a ser solidários, elevando os valores do humanismo, ou o nosso habitat será o da barbárie. Evitemos a síndrome do touro – pensar com o coração e arremeter com a cabeça. É hora de cantar um hino à racionalidade.