Um novo iluminismo (parte 1) - Rede Gazeta de Comunicação

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Um novo iluminismo (parte 1)

GAUDÊNCIO TORQUATO

Jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político

A humanidade vive às margens de um dilema: resgatar os paradigmas da ciência, da razão, do humanismo ou derrubar os ideais do Iluminismo, dando impulso aos tribalistas, com sua visão retrógrada, postura autoritária, culto ao passado e desprezo pelos avanços proporcionados pelo conhecimento.

Norberto Bobbio, em O Futuro da Democracia, já fizera o alerta sobre a era da insídia, das ciladas, que se fortalece com as promessas não cumpridas pela democracia, e aponta para a necessidade de um “novo contrato social, capaz de administrar as paixões do indivíduo, regular e coordenar seus interesses e satisfazer suas necessidades. Já Steven Pinker argumenta na direção de um Novo Iluminismo, obra em que prega a defesa da razão e da ciência.

O fato é que a sociedade global está à procura de uma bússola que indique o rumo dos ventos que a conduzirão a uma vida melhor. A credibilidade nas instituições desabou. A harmonia na tríade do Poder, arquitetada pelo barão de Montesquieu, dá lugar a tensões intermitentes, bastando olhar para o caso brasileiro, onde o Poder Executivo é referenciado por abuso da caneta, o Poder Legislativo não cumpre a contento suas funções representativas e o Poder Judiciário é acusado de legislar.

Os pressupostos de igualdade, justiça para todos, elevação da cidadania, transparência dos governos, combate às máfias que se formam nos intestinos da administração pública e o próprio combate à violência estão muito aquém das metas programadas pelos sistemas democráticos. No vácuo gerado por deveres e princípios não cumpridos, floresce o neopopulismo, forma rasteira de governantes de todos os calibres adotarem políticas de agrado das massas, mesmo que essa vertente inviabilize no longo prazo o equilíbrio (administrativo e financeiro) do Estado.

Os horizontes do planeta estão distantes da paz e da felicidade. Conflitos se multiplicam ou se repetem, disputas por território registram a mortandade de civis inocentes, entre as quais crianças, como se vê nas escaramuças entre Israel e a Faixa de Gaza (Hamas). Instala-se o paradigma do “puro caos”, como descreve Samuel Huntington, em O Choque das Civilizações: a quebra da lei e da ordem, Estados fracassados, anarquia crescente, onda global de criminalidade, imigração e deportação, debilitação da família, cartéis de drogas, declínio da confiança e da solidariedade.