TJMG comemora 100 anos da visita do rei que doou ponte a Pirapora - Rede Gazeta de Comunicação

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TJMG comemora 100 anos da visita do rei que doou ponte a Pirapora

GIRLENO ALENCAR

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) promoveu ontem e prossegue hoje (28) com as comemorações do centenário da visita do Rei Alberto, da Bélgica a Minas Gerais. Conhecido também por Rei Soldado ou Rei Herói, sua visita constituiu-se na primeira visita de um chefe de Estado estrangeiro ao Brasil. Além de Minas Gerais, o Rei esteve em São Paulo e no Rio de Janeiro, então Capital da República. As festividades, em Belo Horizonte e Nova Lima, contam com a presença do Embaixador da Bélgica no Brasil, Patrick Hermann, do Cônsul Geral da Bélgica (RJ), Daniel Dargent, do Cônsul Honorário da Bélgica em Minas Gerais, Henrique Machado Rabelo, do presidente do TJMG, desembargador Gilson Soares Lemes, do superintendente-adjunto da Memória do Judiciário, desembargador Marcos Henrique Caldeira Brant, além de políticos e empresários. A Bélgica doou a Minas Gerais a ponte Marechal Hermes, sobre o rio São Francisco, interligando as cidades de Pirapora e Buritizeiro, inaugurada no inicio de 1922 e tombada pelo patrimônio histórico.

As comemorações do centenário da visita do Rei belga terão início nesta quarta-feira (27) com uma solenidade no 1º Batalhão da Polícia Militar, no bairro Santa Efigênia, às 9h. Em seguida, será realizada sessão cívica do Órgão Especial do TJMG em razão da data, sob a presidência do desembargador Gilson Lemes. Logo após, outra sessão marca a data no Palácio da Liberdade. Para fechar o primeiro dia, a programação prevê uma missa no Colégio Santa Maria, no bairro Floresta. Na quinta-feira, a data será comemorada na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, às 9h. À tarde, A Câmara Municipal de Belo Horizonte e Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), será realizada um ato cívico celebrativo e uma reunião especial, respectivamente, em comemoração ao centenário da vista da Corte belga. As festividades se encerram com solenidade no Museu de Minas e do Metal, na Praça da Liberdade.

O convite para o rei Alberto I visitar o Brasil, quando ele veio acompanhado de sua esposa, a Rainha consorte Elisabeth da Bélgica, e seu filho, o príncipe herdeiro Leopoldo (mais tarde Rei Leopoldo III), partiu do Presidente da República Epitácio Pessoa em maio de 1919, que chefiava a delegação brasileira na Conferência de Paz em Paris após o fim da Primeira Guerra Mundial. A visita do Rei Alberto I, ao Brasil, entre 19 de setembro e 16 de outubro de 1920. A família real chegou a Belo Horizonte acompanhada pelo Presidente da República Epitácio Pessoa, e de grande comitiva, em um sábado, dia 2 de outubro, permanecendo na capital mineira até terça-feira, dia 5. Hospedaram-se no Palácio da Liberdade (cedido pelo então Presidente do Estado Arthur Bernardes) que, juntamente com a Praça da Liberdade, foram amplamente reformados para receber os ilustres visitantes.

A ponte Marechal Hermes, foi iniciada em 1912 e inaugurada em 10 de novembro de 1922 foi a primeira a ser construída sobre o rio São Francisco. É feita com ferro da Bélgica e madeira e tombada pelos patrimônios municipal e estadual em 1995. A construção da ponte estava inserida no ambicioso projeto de expansão da Ferrovia Central do Brasil que pretendia interligar a então capital do Brasil, Rio de Janeiro, a Belém do Pará, no norte do País. A integração do litoral com o interior do Brasil sempre foi vontade das administrações luso-brasileiras e foi planejada, de diferentes formas, em outros momentos da história.

Segundo o relatório do Ministério de Viação e Obras Públicas de 1911, os primeiros estudos para transpor o rio São Francisco indicavam que seria necessária uma ponte com 835 metros de comprimento; no entanto, no mesmo relatório, tal levantamento foi reavaliado e se escolheu um “outro local, a jusante da cachoeira, reduzindo a ponte a 420 metros de extensão com uma economia de cerca de um terço sobre o orçamento da obra d’arte primitivamente projetada”. A mudança fez com que o local da construção da estação Pirapora também fosse modificado. No entanto, as dificuldades encontradas para a construção da ponte foram muitas e o projeto foi diversas vezes modificado, inclusive com alteração da localização original, e com a paralisação das obras, como apontam os relatórios do Ministério de Viação e Obras Públicas.

Os principais problemas enfrentados estavam relacionados com as constantes enchentes do rio, o que impedia a construção das fundações. Em 1912, o ministro da Viação e Obras Públicas relatou a retomada das obras e informou que a “superestrutura metálica estava encomendada, devendo o trabalho das fundações, já atacado, continuar por ocasião da vazante do rio na estação da seca”. No ano seguinte, 1913, as obras continuaram em ritmo mais acelerado, a nova estação de Pirapora já estava concluída, assim como o assentamento dos trilhos até a margem direita do rio São Francisco. O “encontro do lado esquerdo”, também chamado cabeceira, já estava pronto e a as obras do “encontro”, cabeceira, do lado direito e dos pilares já estavam iniciadas. Além disso, a superestrutura metálica, importada da Bélgica, já estava em Pirapora. Tudo parecia caminhar bem quando, em 1914, todo o trabalho desenvolvido foi praticamente perdido. O relatório do Ministro de Viação e Obras Públicas informava que naquele ano a construção da Ponte foi abandonada “tendo as cheias do S. Francisco inutilizado o último encontro e as ensecadeiras para a elevação dos pilares.” Não bastassem as cheias do rio, os trabalhadores também sofreram com doenças e enfermidades. A notícia foi que “todos os trabalhos de construção foram prejudicados pela epidemia de gripe, da mesma forma dolorosa por que o foram todos os serviços de trafego.”

Como características técnicas, a Ponte Marechal Hermes é uma ponte ferroviária metálica, estruturada em treliça, com ligações rebitadas. A ponte se apoia em 13 pilares de concreto e tem uma extensão total de 694 metros em 14 vãos, sendo dez centrais de 50 metros e os marginais de 35 metros cada um. Ele tem 8,40 metros de largura com dois passeios laterais para uso dos pedestres, que foram colocados mais tarde. Estas passarelas são sustentadas por mãos francesas metálicas engastadas no vigamento horizontal inferior. Possuem piso de tábuas corridas assentadas sobre perfis de ferro e a proteção é feita por guarda-corpo também metálico cujo desenho contrasta com a estrutura principal por seu frágil aspecto. Na mesma época foram colocadas também, ao lado dos trilhos, peças de madeira para trânsito de carros.