Nascido em berço político no Norte de Minas, o emedebista Tadeuzinho, candidato único ao comando da Casa, é hábil, adepto ao diálogo e valoriza o papel do Poder
Candidato único à presidência da Assembleia Legislativa Minas Gerais (ALMG), o deputado estadual Tadeu Martins Leite (MDB), o Tadeuzinho, nasceu em berço político. Ele é filho de Luiz Tadeu Leite, ex-prefeito de Montes Claros, cidade do Norte mineiro, onde nasceu. O parentesco explica o apelido dado ao emedebista, chamado no diminutivo, inclusive, pelos colegas de Parlamento. A relação familiar e o nome no diminutivo se relacionam também ao fato de ele, atualmente o 1º Secretário da Assembleia, ter sido eleito deputado pela primeira vez em 2010, aos 24 anos. Hoje, aos 36, é tido como um político hábil nos bastidores e adepto ao diálogo. Nos bastidores da Assembleia, segundo apurou o Estado de Minas, Tadeuzinho é conhecido por ajudar a distensionar conflitos e buscar saídas pacíficas para impasses.
Formado em gestão pública, ele foi o mais votado entre os 42 candidatos à Assembleia lançados pelo MDB mineiro em 2022, com 96,8 mil votos. No ranking geral, ficou na 10ª colocação entre os 77 eleitos. Apesar da ligação com Montes Claros, cidade de 414,4 mil habitantes, uma de suas bases eleitorais, conseguiu expandir a atuação para outros municípios norte-mineiros. Tem relações, também, com o Nordeste do estado e com o Vale do Jequitinhonha.
Um experiente assessor parlamentar ouvido pela reportagem, sob reservas, classifica Tadeuzinho como um deputado que “ouve mais do que fala”, mas sem abrir mão de valorizar o papel do Poder Legislativo na engrenagem política. Na 1ª Secretaria, atua como “síndico” da Assembleia. Durante as reuniões de plenário, costuma assentar-se perto do atual presidente, o aliado Agostinho Patrus (PSD), e ler a chamada para verificar o quórum. É responsável, também, por ceder a assinatura vista nos crachás funcionais de servidores e estagiários. Outras questões ligadas ao funcionamento do Palácio da Inconfidência e do edifício anexo, o Tiradentes, também cabem a ele.
A 1ª Secretaria, agora, deve ser ocupada por Antônio Carlos Arantes (PL). Na Assembleia desde 2006, o veterano, hoje vice-presidente, celebra o acordo por chapa única liderada por Tadeuzinho. “É um dos nossos parlamentares mais talentosos e possui grande experiência legislativa, em seu quarto mandato. Tem excelente relacionamento com os colegas e o perfil de conciliador, que é o que precisamos”, diz.
O também experiente Arlen Santiago (Avante), reeleito para o sétimo mandato, afirma que Tadeuzinho consegue manter boa relação com todas as alas da Assembleia. “Normalmente, o que temos visto é que as candidaturas (à Mesa) da Assembleia começam muitas e vão afunilando. Agora, foi conseguido um acordo entre todas as correntes da Assembleia em torno de Tadeuzinho”, assinala. Santiago, a princípio, apoiou a candidatura de Roberto Andrade (Patriota), que deixou o páreo.
Entre 2015 e 2016, a reboque do apoio dado pelo MDB ao governo de Fernando Pimentel (PT), Tadeuzinho se afastou da Assembleia. À época, foi secretário de Estado de Desenvolvimento Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana.
Apesar da herança política, Tadeuzinho é visto como um parlamentar de perfil diferente do pai. O candidato ao comando da Assembleia não é afeito a embates públicos. Luiz Tadeu, por sua vez, chegou a viajar 430 quilômetros, de Montes Claros a BH, para denunciar ser vítima de um “complô” por parte do governo estadual. O caso ocorreu em 2012, quando era prefeito da cidade norte-mineira e o estado era comandado por Antonio Anastasia (então no PSDB). À ocasião, o filho assistiu ao pronunciamento em uma cadeira ao lado do pai, na antiga sala de entrevistas coletivas da Assembleia.
Tadeuzinho e Santiago têm a mesma região como reduto. “Com a provável eleição dele, o Norte de Minas será mais bem olhado ainda, com nossas pautas tendo (a atenção de) um presidente da Assembleia que conhece os problemas da região”, vislumbra Santiago.
Equilíbrio e independência são a dinâmica do emedebista
Até o meio da semana passada, aliados do governador Romeu Zema (Novo) buscavam erguer chapa própria para enfrentar Tadeu Martins Leite. Além do movimento em torno de Roberto Andrade, o líder do governo, houve articulação a favor de Duarte Bechir (PSD), em candidatura que também não ganhou musculatura. Mesmo antes da costura que deu ao MDB a liderança de uma chapa única, PT e PL, donos de duas das maiores bancadas do Parlamento, já haviam anunciado apoio a Tadeuzinho.
A união pode parecer incomum, tendo em vista que petistas e liberais estão em espectros ideológicos opostos. Nos corredores da Assembleia, porém, deputados costumam ter uma explicação: o candidato a presidente consegue transitar bem junto ao governo e à oposição. Por isso, há a avaliação de que o pleito pelo comando do Legislativo não trata de correntes políticas, mas de interlocução e bom trânsito com os colegas.
Nos cálculos de apoiadores, Tadeuzinho teria cerca de 45 votos em caso de disputa de chapas – o suficiente para vencer. Outros, mais otimistas, contavam com mais de 50 apoios. Um dos fatores que levaram deputados de diferentes pensamentos a embarcar na candidatura dele foi o temor de que um nome ligado a Zema pudesse comprometer a independência do Legislativo. Foi, aliás, a justificativa do PL – que, ao mesmo tempo em que se acertou com o emedebista, decidiu engrossar a base aliada ao governo.
O triunfo de Tadeuzinho foi uma vitória política de Agostinho Patrus sobre Zema, de quem é oponente público. Eles colecionaram desavenças nos últimos quatro anos, com direito a acusações mútuas de “sabotagem” a Minas. Na disputa eleitoral do ano passado, o grupo político de Patrus ajudou a sustentar a candidatura de Alexandre Kalil (PSD) ao governo. “A luta contra a Liberdade é inglória. Quem experimenta o delicioso sabor da independência não agrada mais do fel da subordinação. O gosto está na boca dos parlamentares. Parabéns, Tadeu, sucesso!”, escreveu Agostinho no dia em que a candidatura única do aliado foi definida.
Há, ainda, expectativa de que Tadeuzinho seja uma das vozes de Minas Gerais na interlocução junto ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O estado, vale lembrar, só tem a titularidade de um dos 37 ministérios – com Alexandre Silveira (PSD), na pasta de Minas e Energia.
Boa relação com ‘porta-voz’ de Zema
Apesar do revés sofrido ao não conseguir emplacar a candidatura de nenhum dos nomes desejados pelo Executivo, o clima no governo Zema não é de pessimismo. Isso porque Tadeuzinho tem boa relação com Igor Eto, secretário de Estado de Governo. São, inclusive, amigos. Eto liderou as buscas pela construção de uma chapa favorável à Cidade Administrativa e, normalmente, é o escalado pelo governador para tocar as relações com o Poder vizinho. Na atual legislatura, Zema encontrou resistência para aprovar projetos caros ao governo, como a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), visto como saída para renegociar a dívida de quase R$ 150 bilhões do estado junto à União. Outras matérias nem sequer chegaram ao plenário.
“(Tadeuzinho) é um deputado que vai favorecer o bom relacionamento com o governo do estado. Juntos, vamos trabalhar para o desenvolvimento de Minas e do Brasil”, projeta Antonio Carlos Arantes. Na visão de Arlen Santiago, Tadeuzinho construiu boas relações não apenas com Zema, mas, também, com os governos anteriores – de Pimentel e Anastasia. “Tenho a certeza de que ele terá um bom relacionamento com o governo, colocando em votação as pautas que considera importantes. Com isso, ganha toda a população de Minas Gerais”.
No campo pessoal, Tadeuzinho, pai da menina Valentina, de 5 anos, é admirador de vôlei. Foi, inclusive, apoiador informal do time da modalidade de Montes Claros que, em 2010, chegou à final da Superliga Masculina. Com a “sacada” do diálogo e bom entrosamento com seus colegas, ele conseguiu bloquear adversários e ganhar projeção no jogo político como único candidato à eleição, marcada para quarta-feira (1º/2), quando serão empossados os integrantes da 20ª Legislatura do Parlamento mineiro. (Portal Estado de Minas)
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