CAROLINA ALCOFORADO
Diretora de Novos Negócios e Inovação da Melhoramentos
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, os seres humanos produzem cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano. Metade desse montante foi usado na fabricação de embalagens de uso único, como pacotes, saquinhos e potinhos que são logo descartados (nem sempre no lixo) e acabam indo parar em aterros ou despejados em rios e oceanos. E ao se decomporem, acabam sendo consumidos por toda espécie de vida aquática e, indiretamente, pelas pessoas.
No Brasil, este contexto é ainda mais crítico. A cultura de reciclagem ainda é insípida e não basta ter um programa de reciclagem ou de logística reversa. É preciso ter a cultura do reaproveitamento correto. No próprio lixo doméstico, boa parte dos plásticos separados dos resíduos orgânicos e com destino à reciclagem nem poderia ser reaproveitada. É lixo mesmo e essa lista do que não pode ser reutilizado é bem maior do que imaginamos.
Em todo o mundo, a indústria tem trabalhado em inovações e tentativas para mudar esse cenário. No ano passado, a União Europeia apresentou novas regras para que as empresas que vendem produtos nos países do bloco tornem suas embalagens mais fáceis de reutilizar, reciclar ou compostar.
Evidentemente que não vamos substituir o plástico de uso único de uma hora para outra. Também não é o caso de demonizá-lo. A grande transformação para os produtos plásticos vai além de apenas a sua biodegradabilidade. A indústria também está sendo cobrada pela pegada de carbono dos seus processos produtivos. Quando e como os produtos são fabricados reduzindo os impactos negativos ao meio ambiente, não só depois, como resíduo, mas na sua própria fabricação?
O desafio passa a ser agora criar produtos baseados no conceito que respeite a seguinte lógica: produtos de uso curto devem ter impacto curto na natureza. Como ainda é possível utilizar, por exemplo, uma embalagem por apenas 10 minutos, descartá-la e esperar que ela demore mais de 100 longos anos para desaparecer? A conta não bate.
Portanto, produtos que vão durar menos precisam deixar de utilizar embalagens poluentes o mais rápido possível. Já aqueles que tem longa durabilidade e requerem características técnicas de grande resistência ao tempo, encontram nas embalagens híbridas (aquelas que misturam soluções tradicionais de qualidade com produtos naturais) uma boa solução para o dilema da biodegradabilidade e com pegada de carbono reduzida.
Muitas novidades já estão em curso pelo mundo. Diversas tecnologias, em diversos países, estão a serviço do consumidor que tem impulsionado a indústria global a buscar soluções sustentáveis, pressionando governos e grandes marcas.
A China tem despontado com tecnologias para fabricação de embalagens a base de bambu e cana de açúcar há mais de 30 anos. Também estamos assistindo à ampliação do uso de materiais ecológicos por demanda de brand owners e inovações fantásticas para indústrias que têm maior desafio de descarbonização, como a de alimentos e a da construção civil.
E o mais incrível dessa transformação é que muitas dessas soluções estão focadas em materiais simples e naturais, tendo como seu grande diferencial as propriedades resultantes das combinações destes materiais. Muitas vezes, basta um olhar novo a algo que estava relegado a uma função muito básica ou altamente específica e temos uma inovação de aplicação muito surpreendente, simples e verde. A busca por alternativas sustentáveis ao plástico de uso único tornou-se uma prioridade para a superação dos desafios ambientais globais
Materiais inovadores estão sendo testados como substitutos, com a possibilidade de mitigar os impactos do plástico. Essas alternativas não apenas reduzem a dependência de recursos não renováveis, mas também abordam questões relacionadas à poluição e aos resíduos. Entre elas estão:
Bioplásticos: derivados de fontes renováveis como celulose, amido de milho, cana-de-açúcar ou até mesmo algas. Possuem características semelhantes aos plásticos com a vantagem de serem biodegradáveis. A produção de bioplásticos também emite menos gases de efeito estufa em comparação com os plásticos tradicionais;
Fibras naturais: como algodão orgânico, cânhamo e juta são alternativas aos tecidos sintéticos, frequentemente à base de plástico. Essas fibras naturais são biodegradáveis e renováveis, proporcionando opções mais amigáveis ao meio ambiente na indústria têxtil;
Bambu: uma alternativa versátil e sustentável, sendo utilizado em diversos produtos e de baixo impacto ambiental.
Segundo dados do “Relatório Fechando a torneira: como o mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular”, produzido pela ONU, é possível reduzir a poluição plástica em 80% até 2040, desde que os países e as empresas realizem mudanças profundas nas políticas e no mercado, a partir de três atitudes: reutilizar, reciclar e reorientar e diversificar os produtos.
A transição completa para substitutos do plástico exige uma abordagem multifacetada, com a educação do consumidor, o desenvolvimento de tecnologias inovadoras e a cooperação entre governos, indústrias e comunidades. Ao adotarmos essas alternativas, poderemos não apenas reduzir a pegada ambiental, mas também moldar um futuro mais equilibrado, sustentável e resiliente.
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