Seis municípios que integram a microrregião de saúde de Francisco Sá iniciaram a implementação do Projeto de Rastreamento da Doença de Chagas por meio da realização de exames de Eletrocardiograma (ECG). A decisão foi tomada durante reunião preparatória realizada em Francisco Sá envolvendo gestores municipais, o coordenador de atenção à saúde da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, João Alves Pereira, e da referência técnica do Centro Ambulatorial de Especialidades Tancredo Neves (Caetan), Ariela Mota. O Centro é administrado pelo Hospital Universitário Clemente de Faria.
A previsão é de que os exames para o rastreamento da doença de Chagas por meio de ECG sejam realizados até fevereiro de 2024, contemplando além de Francisco Sá pessoas residentes em Grão Mogol, Botumirim, Cristália, Capitão Enéas e Josenópolis.
Todas as pessoas que forem submetidas a exame de eletrocardiograma terão os laudos analisados por sistema de inteligência artificial. Quando forem identificadas alterações sugestivas para a doença de Chagas, um sistema de alerta informará esse resultado aos serviços de vigilância epidemiológica do município de residência do paciente. A partir daí a secretaria municipal de saúde deverá proceder a busca ativa do paciente para a coleta de sorologia e encaminhamento de material para análise no laboratório da Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte.
Para os casos com resultados de sorologia positivos para a doença de Chagas, o município deverá realizar o registro no Sistema de Agravos de Notificação (Sinan), mantido pelo Ministério da Saúde. Em seguida, caso seja recomendado, o município deverá ofertar ao paciente o tratamento antiparasitário, além de acompanhamento médico.
Expansão
Depois de trabalho piloto realizado em abril de 2023 em Monte Azul, o Projeto começou a ser implementado no segundo semestre em cinco municípios da microrregião de Coração de Jesus.
A proposta do Caetan é a de que em março deste ano o Projeto de Rastreamento da Doença de Chagas seja apresentado aos gestores das demais microrregiões de saúde de Montes Claros, Bocaiúva, Janaúba/Monte Azul, Salinas e Taiobeiras, a fim de que a realização de exames de ECG seja ampliado para estas localidades ainda neste semestre.
“Trata-se de uma iniciativa muito importante para o Norte de Minas pois, assim como outros agravos negligenciados, a doença de Chagas está associada a situações de pobreza, envolvendo pessoas que residem em imóveis em situações precárias. O Projeto constitui uma grande oportunidade para o Norte de Minas contribuir para o avanço do diagnóstico, acompanhamento e tratamento de pacientes, além de viabilizar a eficácia e a introdução de novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS)”, frisa João Alves Pereira, coordenador de Atenção à Saúde na SRS de Montes Claros.
A doença
A doença de Chagas é transmitida por diferentes vias, sendo a vetorial que envolve espécies de triatomíneos, insetos chamados popularmente de barbeiros. Estima-se que, no mundo, entre 6 e 8 milhões de pessoas têm a doença e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de contágio. Menos de 10% dos casos são diagnosticados precocemente e menos de 1% dos pacientes são tratados e acabam evoluindo para formas crônicas da doença, com comprometimento cardíaco e digestivo.
O Projeto de Rastreamento da Doença de Chagas por meio de ECG é coordenado pelo Centro São Paulo–Minas Gerais para Tratamento da Doença de Chagas (SaMi-Trop) realiza, desde 2013, pesquisas envolvendo doenças negligenciadas. O Centro é composto por cientistas colaboradores de quatro instituições de ensino: Unimontes; Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Universidade Federal de São João Del Rey e a Universidade de São Paulo (USP).
Os trabalhos são financiados pelo National Institute of Health, um conglomerado de centros de pesquisa que formam a agência governamental de pesquisa biomédica do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. Está sediado em Bethesda, Maryland, e constitui o maior centro de pesquisa biomédica do mundo.
(PEDRO RICARDO/ SES-MG)
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