GIRLENO ALENCAR
A Sociedade Rural de Montes Claros abriu na manhã de ontem (29), a 47ª Exposição Agropecuária de Montes Claros (Expomontes), com um discurso em defesa do Norte de Minas. O presidente José Moacir Basso mostrou que a região não pode apoiar o projeto aprovado pelo Congresso Nacional, de ampliação da área mineira da Sudene, pois afirma que os municípios indicados não atendem os critérios exigidos, como de chuvas e ainda Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). As suas palavras foram reforçadas pelas do deputado Zé Reis, que é a favor do veto feito pelo presidente Jair Bolsonaro. A Exposição Agropecuária de Montes Claros está sendo realizada pela primeira vez de forma virtual.
O presidente José Moacyr Basso enfatizou que, mesmo em meio a esse “novo normal”, a Expomontes tem cumprido o seu papel de ser palco da economia regional, interação do meio rural, difusora de tecnologia, promotora de desenvolvimento, palanque de reivindicações, sala para debates e oportunidade de negócios. “A Expomontes, evento que marca a grandeza do agronegócio do Norte de Minas, chega a sua 47ª edição com valiosa bagagem, e, enfrenta com coragem o grande desafio que a pandemia nos impôs. Hoje, ela retrata o momento em que vivemos e toma posse de seu lugar de referência no cenário regional, em um formato diferente, mas com a mesma identidade, propósitos e compromissos. Neste momento, abrimos a Expomontes para viajar por ondas que nos permitem chegar aos quatro cantos do mundo. Inauguramos um evento online, e seremos capazes de alcançar um maior número de produtores rurais e interlocutores, com eficiência e rapidez”, destacou Basso.
Um formato diferente exige inovação para todos os lados e, por isso, a esta edição foi desenhada num ambiente virtual, mas sempre prezando o ator mais importante dessa história: o homem do campo. O público pode acompanhar de onde estiver os leilões, estandes, exposição de bovinos e equinos, palestras com filmagens em fazendas, e ainda ter acesso a agências bancárias com linhas de crédito diferenciado e prestigiar a feira da agricultura familiar no modelo delivery.
Nessa perspectiva, o presidente comentou que embora o cenário mude constantemente, os papéis da Sociedade Rural e da Expomontes permanecem: “uma entidade que promove o desenvolvimento do agronegócio e um evento que nos une em torno da nossa causa. E a nossa causa é produzir. A nossa causa é alcançar resultados com tecnologia, sustentabilidade e o respeito ao homem e ao trabalho. Porque somos os homens do campo, com as mãos na terra, plantando, acreditando nas sementes e na força do trabalho. E a Expomontes é a nossa casa”, destaca.
Entidade reivindica mais atenção para o homem do campo
Apesar de o agronegócio ser o carro-chefe do país e também ser uma das molas propulsoras da retomada da economia brasileira, o presidente da Sociedade Rural lamentou o fato de muitas vezes o produtor rural ser associado a adjetivos negativos no que diz respeito ao meio ambiente. Para ele, existem várias evidências de que, na verdade, o produtor é mais uma classe a somar forças na conservação da natureza. “É preciso dizer que existe um movimento neste país que insiste em colocar o produtor rural como um grande vilão, como um depredador do meio ambiente, quando na verdade vivemos outra realidade. No Brasil, cabe ao produtor rural a tarefa de preservar o meio ambiente quando em outros países este papel é dos governos. Mas esta tarefa de preservar através de uma produção sustentável não nos assusta”, pondera.
Para além das atribuições injustas, Basso demonstra indignação ao falar da indiferença quanto às dificuldades do produtor por parte dos órgãos públicos. “Os entraves ambientais são hoje a principal pedra de tropeço do agronegócio, resquícios de uma ideologia que dominou o governo nas últimas duas décadas. Na esfera federal, já estamos sentindo ventos novos de mudança, como a simplificação de procedimentos e redução de exigências previstas no P.L. nº 3729/2004, da Lei Geral do Licenciamento Ambiental, que foi aprovado, no mês passado, pela Câmara dos Deputados e seguiu para aprovação no Senado. Mas, na esfera estadual, contudo, os avanços são muito tímidos e, infelizmente, a situação está piorando, com novas exigências e burocracias criadas a todo o momento”, discorre.
Outra bandeira levantada pelo presidente está no posicionamento contrário à ampliação da área mineira da Sudene. Vale lembrar que a Sociedade Rural trabalhou arduamente para que a região fosse incluída entre os municípios beneficiados da Superintendência, órgão importante no combate aos entraves causados pelas secas e ainda capta investimentos nas indústrias locais. “A Sudene veio para corrigir as distorções do Nordeste e do Semiárido norte-mineiro, com iguais dificuldades, e nos causa grande estranheza que regiões com outras características se beneficiem dos mesmos instrumentos, uma vez que não passam pelos mesmos problemas e possuem outros fatores que possibilitam seu desenvolvimento”.
Na mesma linha, o homenageado na Expomontes, Alisson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura, também agregou conteúdo à discussão e foi enfático: A chamada área do semiárido brasileiro nunca foi problema. Ela é muito mais uma solução. “O clima é extremamente favorável. Temos calor, temos luz. Temos solo e temos gente que pode fazer isso. Eu peço encarecidamente a essas lideranças do Norte de Minas, especialmente Montes Claros, que ela trabalhe no sentido que projetos como o de Jaíba possa ser completado. Faço advertência às lideranças do setor produtivo, vocês tem um campo político a favor”, aconselhou.
Ainda durante a fala, Paolinelli levantou algumas orientações para que os impasses ambientais sejam reduzidos. “Se mantenham unidos, principalmente participando da vida nacional. E essas entidades que se organizam como a Sociedade Rural e o Sindicato Rural, são fundamentais para Montes Claros ter a liderança que ganhou em relação à produção de alimentos no mundo. Ainda temos muito a fazer. As posições que hoje ocupamos internacionalmente nos obrigam a estar a cada dia mais organizados, mais unidos, defendendo a posição da nossa área de trabalho, para que as políticas públicas estejam sempre ajustadas. O mundo depende de nós. Hoje, nós exportamos para mais de 200 países do mundo e abastecemos uma população aproximadamente de 1 bilhão de pessoas”. (GA)
Ex-ministro da Agricultura pede união em prol dos recursos hídricos
Uma das soluções apontadas pelo ex-ministro da Agricultura, Alisson Paolinelli, é a aproximação com as forças políticas e governantes, e ainda o uso planejado dos recursos hídricos. Se vocês souberem utilizar, manejando de forma racional a água que dispõe, temos muito a ganhar. “O Brasil é hoje um país rico em água doce. Fazendo o trabalho, vai dar resultado, como acontece no oeste da Bahia, sendo também produtor de água. Trabalhando junto com o governo. O governo na área da irrigação e na área do uso dos nossos recursos colocou regras que ele mesmo não é capaz de cumprir. E eles travam, atrapalham. Os fiscais consideram os produtores verdadeiros inimigos. É uma tarefa urgente aproximar esses órgãos fiscalizadores dos produtores. Os produtores são verdadeiros homens que sabem manejar e produzir a água, produzir os alimentos. E eles têm que ser parceiros dos governos”, enfatizou.
O prefeito de Montes Claros, Humberto Souto (Cidadania) também participou da cerimônia por videoconferência e destacou a maneira resiliente de viver do norte-mineiro. “Por estarmos no semiárido brasileiro, a cada ano que passa, vemos a luta com as dificuldades naturais da seca desse produtor a quem referencio neste momento como aquele que está fazendo a oportunidade. Mostrando coragem, esperança, perseverança e sobrevivência às dificuldades enfrentadas pela falta de água. Mas, paralelo a isso, a região cresce, a região desenvolve. Parece um milagre o que acontece. Se não fosse por essa capacidade de produzir e desenvolver, era impossível sobreviver nesse processo tão cruel como sofre a nossa região”, refletiu Souto.
Diante das reivindicações levantadas, as palavras finais do presidente José Moacyr Basso dão indícios de que o caminho para solucionar os impasses está cada vez mais claro. “Da mesma forma em que apresentamos os problemas, apontamos a direção para as soluções. E as soluções sempre passam por vontade política, por conhecimento da causa, por valorização da atividade produtora, com o comprometimento com quem trabalha”, finalizou. (GA)
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