A produção rural de várias cidades no Norte de Minas tem atraído cada vez mais novos mercados, internos e externos. Frutas, grãos, mel, algodão, carne, entre outros itens, estão na lista de crescimento produtivo local. Mesmo com tantas possibilidades, muitos produtores rurais ainda esbarram em problemas logísticos para escoar o que produzem e convivem com a dificuldade para a aquisição de insumos com preços mais atrativos.
Foi pensando exatamente nas alternativas para dinamizar os modais de acesso à região que o Sindicato dos Produtores Rurais de Pirapora reuniu produtores e empresários rurais que atuam na região (que inclui ainda as cidades de Buritizeiro, Várzea da Palma e São Romão) para tratar sobre investimentos, potencialidades produtivas e escoamento dos produtos. Além do modal rodoviário, existe na cidade de Pirapora a alternativa ferroviária e estudos para uso de um modal hidroviário, aproveitando a potencialidade do Rio São Francisco.
“Existe viabilidade e demanda reprimida de cargas. O Rio São Francisco, da integração nacional, é perfeitamente navegável, mesmo em períodos de seca, sendo possível a instalação da operação do modal hidroviário de escoamento de produção. No caso do modal ferroviário ele já existe, mas é preciso aumentar o investimento, para que o produtor não fique somente com a opção de uso de rodovias, que estão sobrecarregadas ou sem qualidade, um risco ainda pior, especialmente, no período chuvoso. O impacto financeiro será muito grande com essas implementações. Com a hidrovia, por exemplo, poderemos fazer a integração dos modais, reduzir o impacto ambiental e consumo de combustíveis, entre outros”, explica o presidente do Sindicato Rural de Pirapora, Helder Braga de Melo.
Ainda segundo o presidente do sindicato, se instalada, a hidroviária ligaria o Sudeste ao Norte e Nordeste, com cerca de 1.371 km de estrutura navegável partindo de Pirapora até Petrolina, no estado do Pernambuco.
Custo e benefício
De acordo com a análise feita pelo Sindicato Rural de Pirapora, os produtores da região escoam atualmente de forma precária, o que impacta no empreendimento e no produto final. “Se tivessem todos os modais prontos seria diferente. Como exemplo, imagine carregar 40 mil sacas de milho só em carretas. Isso retarda o processo, aumenta os gastos, impacta nos preços finais do produto e, principalmente, atrapalha quem produz”, afirma Helder Braga de Melo.
Ele acrescenta que os estudos de viabilidade para estes novos investimentos estão parados e os produtores vivem a expectativa de que o debate possa ser retomado junto a parceiros, entidades representativas de classe e poder público (municipal, estadual e federal). A dinamização dos modais de escoamento produtivo também é defendida pelo Sistema Faemg Senar, que atua como parceiro do Sindicato Rural em diversas ações para a evolução da produção rural na região de Pirapora, com cursos e grupos do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) em diversas cadeias.
“É de fundamental importância o sindicato voltar essa questão à discussão junto a outras entidades da região, visando o maior desenvolvimento da região. O agro é um dos setores mais importantes da economia e temos que nos preocupar com a logística. O Brasil é extremamente dependente da malha rodoviária. E a gente tem um potencial para ter outros modais para escoar essa produção. O Sindicato está de parabéns por ser protagonista neste assunto, buscando que os governos tenham sensibilidade para melhorar a questão da infraestrutura na nossa região”, comenta o gerente regional da Faemg, Dirceu Martins.
Impacto direto em prol do agronegócio
Quem tem feito essa conta de custo e benefício há muitos anos é o produtor rural Cláudio Lara, gerente da Fazenda São Thomé. A propriedade produz feijão, que tem como destino o Nordeste e São Paulo; milho, que vai para a região da Zona da Mata e Campos das Vertentes, em Minas Gerais; soja, que embarca na ferrovia para exportação; e café, que é negociado com traders e estocado na cidade de Patrocínio. Com tanta produção ativa, Cláudio visualiza maior economia se a ferrovia tivesse novo implemento de investimentos para a região.
“A ideia básica é que o trem vem vazio buscar a soja. Poderia trazer adubo e calcário, por exemplo, insumos que precisamos muito para manter a produção. Eu calculo entre R$ 300 a R$ 400 de economia por tonelada de adubo se fosse adotado este tipo de frete, e cerca de R$ 60 no caso do calcário, onde tenho consumo anual de mais de duas mil toneladas. Essa troca viabiliza algumas coisas, nos ajuda a pensar se fazemos investimentos ou não. Da forma como vem hoje, pela rodovia, demora mais tempo e interfere nas ações e investimentos da fazenda”, explica Cláudio.
Na visão dele, a região tem apresentado salto grande na produção agrícola e é o momento mais que oportuno para investimentos na infraestrutura. “Há cinco anos não tinha praticamente ninguém atuando nessa área. Hoje são mais de 10 mil hectares só de fazendas de soja. É preciso abraçar o desenvolvimento para manter a competitividade, para manter os novos projetos chegando na região. Só no nosso caso são 500 empregos diretos. Essa dificuldade de escoar produção e trazer insumos impacta no custo operacional e final. E além dos modais, precisamos da ajuda para melhorar as estradas rurais, que dão acesso aos empreendimentos, que movimentam funcionários e cargas a semana inteira”, lembra Cláudio Lara.
Apoio regional
Apesar da rota em discussão envolver, principalmente, empreendimentos rurais do entorno de Pirapora, a possibilidade de novos investimentos no agronegócio do Norte de Minas é celebrada por diversas entidades. Promotora da Feira da Indústria, Comércio e Serviços (Fenics), a Associação Comercial e Industrial de Montes Claros (ACI-MOC) tem buscado ajudar na ampliação deste tipo de debate durante seus encontros e eventos empresariais, inclusive, colocando os produtores rurais nas rodadas de negócios. O Sistema Faemg Senar participa anualmente da Fenics com estante próprio e exposição de produtos regionais de alunos assistidos pelos programas especiais.
O presidente da ACI, Leonardo Vasconcelos, ressalta que o agro tem grande impacto na movimentação financeira regional e, por isso, a entidade busca ampliar sua participação em movimentos que favoreçam o desenvolvimento da atividade, como é o caso da bandeira de implementação da hidrovia.
“Compreendemos que é de suma importância a ampliação do debate acerca do reforço e ampliação dos estudos para implementação de uma hidrovia a partir de Pirapora, criando este novo terminal intermodal, interligando aos ramais ferroviários e rodoviários que estão em uso. Isso vai aumentar a capacidade de escoamento de produção e as alternativas para receber os produtos que chegam da região Nordeste para o Sudeste. Ocorreu um erro histórico e estratégico quando concentramos o modal rodoviário para o transporte da produção do país. É caro, não tem toda a eficiência. Por isso a ampliação do debate é importante e imprescindível para atrair novos investimentos para o Norte de Minas, que está se tornando polo em vários segmentos da produção rural”, argumenta Leonardo. (RICARDO GUIMARÃES – Colaborador)
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