A gravidez é um momento marcante para as famílias e a espera pelo bebê durante os nove meses é cercada de expectativa e ansiedade. Tornar-se mãe durante a adolescência, entretanto, pode apresentar certas dificuldades e perigos, porque a gestação neste período tem mais chances de complicações, tanto para o bebê quanto para a adolescente. Além das dificuldades naturais, como a mudança do corpo e a adaptação da rotina familiar, existem as alterações emocionais, inerentes ao período gestacional, e a evasão escolar. Por isso, o principal fator de prevenção à gravidez durante a adolescência é a educação sexual.
Para disseminar informações relevantes para a população e tentar reduzir o número de adolescentes grávidas no Brasil, entre os dias 1º e 8 de fevereiro é realizada a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. A campanha tem caráter educativo e preventivo. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) realiza ações de conscientização direcionadas aos profissionais de saúde e à população que abordam desde a sensibilização da temática entre o público adolescente e seus cuidadores aos métodos contraceptivos disponíveis atualmente.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a gestação na adolescência é uma condição que eleva a prevalência de complicações maternas, fetais e neonatais, além de agravar problemas socioeconômicos existentes. As complicações e gravidade da gestação correlacionam-se, principalmente, à idade.
De acordo com a diretora de Gestão da Integralidade do Cuidado da SES-MG, Lírica Mattos, é importante entender que todo adolescente tem direito ao atendimento e acolhimento correto no Sistema Único de Saúde (SUS) e que pais, educadores, profissionais de saúde e toda a sociedade têm um papel fundamental na educação desses jovens.
“O primeiro passo para a prevenção da gravidez na adolescência é a informação qualificada. O SUS oferece métodos contraceptivos como pílula combinada, anticoncepcional injetável, dispositivo intrauterino (DIU), bem como preservativos, tanto femininos quanto masculinos porque a responsabilidade da prevenção é compartilhada. A porta de entrada para receber essas gestantes são o centro de saúde mais próximo da população. Lá, será ofertado acolhimento, planejamento reprodutivo e sexual, captação precoce de gestantes para a realização de pré-natal adequado, cuidado no parto, puerpério e cuidado com o bebê”, explica.
Em 2020, 14% dos nascidos vivos no Brasil foram de mães adolescentes e em Minas Gerais, entre 2019 e 2022, cerca de 10% dos nascidos vivos são filhos de mães na faixa etária de 10 a 19 anos que, de acordo com o Censo de 2022 somam uma população de 2,6 milhões de pessoas.
De acordo com o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), a Macrorregião de Saúde Centro registrou o maior número de gestações em adolescentes de todo o estado, com mais de 28 mil bebês nascidos entre 2019 e 2022, aproximadamente 25% dos casos em Minas Gerais. A Macrorregião de Saúde Norte está em segundo lugar nesse ranking, com 11.613 bebês.
A gestação na adolescência aumenta as chances de prematuridade e complicações durante o parto, como pré-eclâmpsia, desproporção pélvica-fetal, entre outras. A realização do pré-natal de maneira adequada impacta diretamente nesse desfecho. Segundo dados disponíveis no Sinasc, no ano de 2023, foram 20.961 nascidos vivos de mães adolescentes, sendo 758 de mães com idade entre 10 e 14 anos e 20.203 bebês de mães com idade entre 15 e 19 anos. Destas, 322 declararam não ter feito nenhuma consulta pré-natal.
Lírica Mattos ressalta que esse acompanhamento é uma das principais formas de prevenir a mortalidade materno-infantil e de garantir o acompanhamento adequado do desenvolvimento do bebê. “O pré-natal é um dos principais pontos de assistência para a saúde durante a gestação. Deve ser iniciado no primeiro trimestre e garantido o número mínimo de seis consultas. Assim, aumenta-se a chance de desfechos favoráveis tanto para adolescente quanto para o bebê”, explica.
“A oferta do planejamento reprodutivo também deve ser abordada durante a gestação, permitindo que essa menina possa conhecer os métodos contraceptivos disponíveis, receber orientações, tirar dúvidas e, assim, possa decidir pelo método de sua escolha. Caso o parceiro da adolescente esteja presente, é importante que ele seja implicado no processo de planejamento reprodutivo”, aponta.
A diretora salienta que a gravidez em adolescentes de 10 a 14 anos é considerada estupro de vulnerável dentro da legislação vigente. Portanto, toda oferta de cuidado vai ser pautada no que preconizam as leis brasileiras. “A gravidez pode trazer complicações, tanto para o bebê quanto para a mãe, então é muito importante trabalhar na perspectiva de prevenção. Outro ponto que temos trabalhado na SES-MG são as ações de enfrentamento, inclusive no Plano de Enfrentamento à Mortalidade Materna e Infantil, porque essa faixa etária é a que apresenta mais risco de mortalidade materna e prematuridade do bebê”, destaca Lírica Mattos.
O referido Plano, desenvolvido pela SES-MG, tem como finalidade a redução do número de óbitos maternos e infantis por causas evitáveis em todo o território estadual. Esse instrumento é composto por quatro áreas estratégicas: prevenção da gravidez não desejada e/ou planejada e das complicações dela decorrentes; mobilização social e comunicação; qualificação profissional e acesso universal a serviços de qualidade na Rede de Atenção à Saúde (RAS).
Com intuito de sensibilizar e qualificar os profissionais da saúde sobre o tema, a SES-MG realizou um webinário, em setembro de 2023, voltado para profissionais atuantes nas consultas e ações de mobilização e representantes das Unidades Regionais de Saúde de Minas. Foram repassadas informações abrangentes e atualizadas sobre a prevenção e o apoio à gravidez na adolescência na Atenção Primária à Saúde e abordados a importância do planejamento reprodutivo na adolescência, gravidez na adolescência e seus reflexos na saúde mental e impactos para a saúde materno-infantil.
Informação é a melhor forma de prevenção
Os desafios enfrentados pelas mães adolescentes, suas famílias e companheiros são múltiplos e, por isso, a necessidade de acolhimento, acompanhamento pré-natal e medidas de promoção e prevenção de saúde destas jovens. É necessário que o diagnóstico, manejo clínico precoce da gravidez, condução da gestação, acompanhamento no puerpério e o estímulo à amamentação, além do controle nutricional sejam realizados por equipe multidisciplinar para garantir o bem-estar físico, psicológico e social dessas mães adolescentes, dos parceiros, filhos e familiares.
Camila Lares Pereira tinha 15 anos e cursava o segundo ano do ensino médio quando descobriu a gravidez. O pai da criança também era adolescente e tinha 17 anos. Ela relata que foi um período complicado e considera a orientação correta e educação sexual primordiais. “A gravidez mudou a minha vida por completo. Eu era uma criança, precisei cuidar de outra criança e, para viver a maternidade, não pude vivenciar aquilo que é próprio dos jovens. Faltou orientação, tanto da parte da escola como das pessoas que me acompanhavam com relação ao uso de preservativo ou de medicamentos. Não era comum ver jovens grávidas, então todo mundo da escola queria colocar a mão na barriga, saber como era, como que eu estava, e eu me senti um pouco constrangida na época”, lembra.
“A princípio, meu pai não conversava comigo e só depois que a barriga cresceu e o bebê já mexia, ele se aproximou e nós conversamos. Eu enfrentei várias dificuldades, o parto foi uma experiência única e me assustei muito. Depois, vieram as dificuldades da amamentação e de entender que tinha uma criança que dependia de mim. Pensei em largar os estudos, mas meus pais e minha família me incentivaram a continuar. Esse apoio foi essencial. Além da família, recebi muito apoio da família do pai da minha filha, eles fizeram tudo que estava ao alcance”, ressalta Camila Pereira.
Atualmente, Camila Pereira é gerente financeira e sua filha, Sabrina Lares Tonani, tem 16 anos. Ela conta que mantém diálogo aberto com a filha para conscientizá-la da importância da prevenção de uma gravidez precoce. “Conversamos abertamente e claramente sobre métodos de prevenção e cuidados. A Sabrina é muito consciente, até porque eu conto a minha história para ela. Falo sempre que para ter relação, ela precisa se cuidar para que evite passar pelo que eu passei”, pontua. (Poliana Gois/ SES-MG)
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