Profissionais de saúde de oito municípios que integram a macrorregião de saúde do Norte de Minas participaram nos dias 21 e 25 de março de encontros organizados pela Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica e de Saúde da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS), para o repasse do Protocolo de Enfermagem para Atendimento Antirrábico Humano nos serviços de atenção primária. Trata-se de iniciativa pioneira que a SRS está implementando no Norte de Minas, com expectativa de ser difundida para os 853 municípios mineiros, por meio da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG).
O repasse do protocolo aos profissionais de saúde foi iniciada em fevereiro sob a coordenação da referência técnica da SRS, Amanda de Andrade Costa e participação do enfermeiro fiscal do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), Farley Sindeaux, envolvendo os municípios de Monte Azul, Mamonas, Gameleiras, Catuti, Mato Verde e Espinosa. Em Montes Claros foram realizados dois encontros para o repasse do protocolo, com a participação de 160 enfermeiros que atuam em serviços de atenção primária da Secretaria Municipal de Saúde.
No dia 21 de março, o Protocolo foi repassado a enfermeiros, médicos, agentes comunitários de saúde e de endemias do município de São João do Pacuí, integrante da área de jurisdição da SRS de Montes Claros. Também participaram do encontro profissionais que trabalham no Hospital Municipal São Vicente de Paulo, de Coração de Jesus.
O Protocolo de Enfermagem para Atendimento Antirrábico foi apresentado ainda a profissionais de saúde dos municípios que integram a área de atuação da Gerência Regional de Saúde (GRS) de Pirapora: Buritizeiro; Ibiaí; Lassance; Pirapora; Ponto Chique, Santa Fé de Minas e Várzea da Palma.
“Estamos trabalhando para agilizar o atendimento de pessoas vítimas de acidentes com animais transmissores da raiva, uma vez que se trata de doença com alta taxa de letalidade. Com o Protocolo de Atendimento Antirrábico Humano o objetivo é validar a prática da enfermagem e ampliar as atribuições do(a) enfermeiro(a) na atenção primária da rede municipal, através de um guia simples e prático para a consulta do profissional quanto à prescrição de vacina, soro ou imunoglobulina antirrábicos”, explica Amanda Costa.
A referência técnica observa que apesar da adoção e utilização do Protocolo ter respaldo legal dos conselhos Federal e Regional de Enfermagem, bem como da Lei Federal 7.498 que regulamenta o exercício da enfermagem, a utilização depende de aprovação de cada município. Porém, em novembro de 2023 o Comitê de Urgência e Emergência aprovou a adoção do Protocolo pelos 86 municípios que integram a macrorregião de saúde Norte. Na SRS de Montes Claros estão jurisdicionados 54 municípios; 25 localidades pertencem à GRS de Januária e, sete, à GRS de Pirapora.
Cenário
A iniciativa de elaboração do Protocolo de Enfermagem para Atendimento Antirrábico Humano levou em conta o cenário epidemiológico preocupante com aumento de animais positivos para raiva; a rotatividade ou ausência de profissionais médicos em alguns municípios, impactando a assistência recebida pelos usuários vítimas de agressão animal e a letalidade da raiva humana que chega a 99%.
Dados do Centro de Controle de Zoonoses de Montes Claros apontam que entre 2018 e 2023 foram capturados no município 27 morcegos, todos portadores do vírus da raiva. Além disso, em áreas urbanas e rurais a doença pode ser transmitida às pessoas por cães, gatos, equinos, bovinos, suínos e animais silvestres, entre eles morcegos, gambás, micos, saguis, gato do mato e raposas.
Além de Amanda Costa a elaboração do Protocolo contou com a participação de equipe multiprofissional formada por referências técnicas da SRS de Montes Claros e profissionais atuantes nas áreas da enfermagem, veterinária e medicina: Agna Soares da Silva Menezes; Carlos Keliton Nunes de Oliveira; Eusane Ferreira Santos; Helen Regina Pinheiro Rodrigues; Hildeth Maísa Torres Farias; Lucélia Pereira dos Santos Cardoso; Raissa Maeiejewsk Quintino; Simone Queiroz Cordeiro; Thiago Monção; Carolina Lamac Figueiredo; Marcone Alkimim Oliveira; Raimundo Nonato Lopes e Milton Formiga Souza Júnior.
Protocolo estabelece procedimentos para atendimento das vítimas
De acordo com o Protocolo, entre os procedimentos que os profissionais de enfermagem deverão adotar quando uma pessoa vítima de agressão por animal potencialmente portador da raiva procurar uma unidade de saúde estão: consulta de enfermagem; limpeza do ferimento; confirmação da agressão; notificação do agravo; avaliação da imunização antitetânica e aplicação de vacina quando indicado.
O ferimento deve ser lavado imediatamente com água e sabão por 15 minutos, mesmo que o paciente já tenha realizado uma limpeza. Não é recomendada a sutura dos ferimentos. Quando imprescindível, as bordas podem ser aproximadas com pontos isolados, uma hora após a infiltração de soro.
O atendimento de pessoas menores de 18 anos e de portadores de problemas cognitivos, mesmo devido a idade avançada, deve ser realizado pelos enfermeiros mediante a presença de um cuidador ou familiar. A consulta deverá ser registrada em prontuário ou formulário específico cedido pelo município.
A doença
A raiva é uma doença quase sempre fatal, para a qual a melhor medida de prevenção é a vacinação pré ou pós-exposição ao vírus. A doença é transmitida às pessoas pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura. A doença também pode ser transmitida pela arranhadura ou lambedura desses animais.
Após o período de incubação, surgem os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de dois a dez dias. Nesse período, o paciente apresenta mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura, anorexia, cefaleia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia.
Pode ocorrer inchaço, aumento da sensibilidade ao tato ou à dor, frio, calor, formigamento, agulhadas, adormecimento ou pressão no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura e alterações de comportamento.
A infecção da raiva progride, surgindo manifestações mais graves e complicadas, como: ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espasmos musculares involuntários generalizados ou convulsões.
A raiva não tem cura e sua evolução é muito rápida. Entre o começo dos sintomas e o estado de paralisia, podem se passar apenas sete dias.
É por conta disso que, assim que alguém é mordido, lambido ou arranhado por um animal urbano ou silvestre que não esteja vacinado contra a raiva, é preciso tomar a vacina e realizar os procedimentos para impedir que o vírus entre em contato com o sistema nervoso central. (Pedro Ricardo/ SES-MG)
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