Roda de conversa sobre violência contra a mulher reúne comunidade acadêmica - Rede Gazeta de Comunicação

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Roda de conversa sobre violência contra a mulher reúne comunidade acadêmica

Dentro das atividades do mês da mulher, foi realizada na quarta-feira (20/3), uma roda de conversa com a advogada, socióloga e mestra em Desenvolvimento Social, Thereza Raquel Bethônico Corrêa Martinez. O evento, teve como tema “Desvendando o Silêncio: um diálogo sobre a violência contra mulheres”. A atividade foi organizada pela Seção de Saúde do Trabalhador, Seção de Psicologia e Serviço Social e Coordenadoria de Recursos Humanos do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG.

Na abertura, a assistente social da Seção de Psicologia e Serviço Social, Michely Gonçalves Mota de Souza, falou sobre a importância da roda de conversa. “Este é um tema que deve ser debatido não só pela comunidade acadêmica, mas por toda a sociedade. E quanto mais a gente falar sobre isso, mais a gente vai conseguir compreender de onde isso surge e o que deve ser feito diante de uma situação de violência, dos diversos tipos de violência que nós, mulheres, temos vivido ao longo do tempo”.

Perspectiva histórica do que é ser mulher

Thereza Raquel Bethônico começou mostrando um histórico dos direitos das mulheres segundo a lei nos últimos cem anos. “Menos de 100 anos atrás, as mulheres ganharam o direito de voto. Em 1962, tinha o estatuto da mulher casada, que deferiu que a mulher não mais precisava de autorização do marido para trabalhar fora, receber herança, vender imóveis, assinar documentos ou até viajar. Em 2005, o termo ‘mulher honesta’ foi efetivamente retirado do Código Penal. Em 2015, a lei dá às mães o direito de registrar os filhos no cartório sem a presença dos pais. Em 2018, foi regulamentada a lei de importunação sexual”, explicou.

A advogada vê este histórico como mudanças na perspectiva do que é ser mulher. “Nós estamos de alguma forma repensando a definição do que é ser mulher. Estas fases da violência nos afetam as mulheres, aos homens, às filhas, aos colegas de trabalho, às pessoas em geral que convivem com a gente. Alcançar a igualdade de gênero é um dos 17 objetivos da agenda da Organização das Nações Unidas (ONU)”.

Sobre os dados de violência contra as mulheres, a Thereza Bethônico aponta que não crê que os números tenham somente aumentado, mas a confiança das mulheres em denunciar tem crescido. Os índices de denúncias de violência doméstica no Hospital Universitário Clemente de Faria, referência neste tipo de atendimento em Montes Claros, mostram que 17,2% das vítimas deste tipo de crime são homens. “Este grupo é formado por crianças e adolescentes. Quem são os agressores destas mulheres e destas crianças? Os agressores das mulheres são homens. E os agressores das crianças e adolescentes também são homens”, pontua.

A palestrante falou também sobre as iniciativas municipais de atendimento às mulheres vítimas de violência como os esforços para a criação da Rede de Enfrentamento à Violência conta Mulheres em Montes Claros. A iniciativa tem como objetivos principais a melhoria da comunicação entre as instituições e as pessoas que trabalham na área, assim como o desenvolvimento de uma metodologia de trabalho sistematizada pautada na cooperação dos envolvidos. “Nós percebíamos uma desconexão entre os serviços e as pessoas. A gente conseguiu organizar o trabalho da rede a partir de 2018. A ideia é criar um protocolo municipal de assistência integral à pessoa em situação de violência”, explicou.

Thereza Raquel Bethônico finalizou destacando a importância da contribuição de cada um para a mudança do cenário atual. “A transformação deve começar dentro de nós, depois no nosso entorno. Nós estamos aqui para formar as próximas gerações. Nós não vamos conseguir mudar o passado, mas podemos mudar a forma como as crianças e adolescentes de hoje enxergam a violência. Nós devemos mostrar que o amor e a violência não caminham juntos”, aponta. (Ana Cláudia Mendes/ Ascom ICA-UFMG)