As florestas tropicais têm uma rápida regeneração natural após o desmatamento. Esta é a conclusão de estudos de um grupo de pesquisadores apresentada em dois artigos publicados na “Science e Procedings of the National Academy of sciences of the United States of Ameri-ca (PNAS)”, renomadas revistas científicas internacionais. Os trabalhos contam com a participação de três professores/pesquisadores da Unimontes, Maria das Dores Magalhães Veloso, Mário Marcos do Espírito Santo e Yule Roberta Ferreira Nunes, todos do Departamento de Biologia Geral. Eles se somam a pesquisadores de 88 países, que integram as publicações.
O texto publicado pela Science tem o título “Recuperação de Floresta Tropical Multidimensional” (Multidimensional tropical forest recovery) e mostrou a rápida recuperação das matas tropicais. Já o artigo divulgado pela PNAS traz o título “Recuperação funcional de florestas secundárias tropicais” (Functional recovery of secondary tropical forests). Os artigos foram produzidos por pesquisadores da rede internacional de pesquisas colaborativas, a 2ndFOR ou “Rede de Florestas Secundárias”. Formada em 2015, ela é composta por 88 pesquisadores de 18 países das Américas, Europa e África, entre os quais os representantes da Unimontes.
Os artigos buscam entender como as florestas tropicais se regeneram após desmatamento e utilizadas para agropecuária. Líder do grupo da rede 2ndFOR, no Brasil, o professor Mário Marcos do Espírito Santo enfatiza a importância dos trabalhos publicados. “Os dois trabalhos são complementares e foram publicados em periódicos de alto impacto, que são lidos pelos principais pesquisadores do mundo, além de amplamente divulgados na mídia para um público amplo”, observa.
“As publicações trazem importante visibilidade para a Unimontes e para as matas secas do norte de Minas Gerais, onde os pesquisadores trabalham há mais 15 anos, visando sua preservação e uso sustentável dos recursos naturais. Os resultados conscientizam a sociedade e os governantes sobre a necessidade de modelos de desenvolvimento que evitem ao máximo mais desmatamento e promovam a recuperação das florestas já degradadas”, avalia o pesquisador.
O artigo publicado pela Science teve a participação de 91 pesquisadores e apresenta uma análise de dados de 77 localidades e mais de 2.200 parcelas de amostragem de florestas de 12 países na América tropical e subtropical e na África Ocidental. “Parcela é uma técnica de amostragem de vegetação em uma área definida. É como se a gente demarcasse um campo de futebol na floresta e medisse todas as árvores dentro dele”, explica. O professor Mário Marcos do Espírito Santo lembra que os três representantes da Unimontes que participaram da publicação dos artigos estudam a regeneração das matas secas desde 2005 no Norte de Minas, especificamente nos municípios de Manga, Jaíba e Matias Cardoso, bem como na Serra do Cipó, região central do estado. “A participação da rede 2ndFOR ampliou as oportunidades de colaboração internacional e análise de dados em grande escala, o que permite um melhor entendimento de como diferentes tipos de florestas se recuperam após sofrerem impactos ambientais”, observa a publicação.
O pesquisador ressalta que a publicação na Science propicia visibilidade para o trabalho do grupo da Unimontes, aumentando as chances para que os resultados sejam aplicados em políticas públicas, conservação e restauração das matas secas, principalmente, considerando que a Organizações das Nações Unidas (ONU) declarou que o período de 2021 a 2030 será a “Década da Restauração Ecossistêmica”. Além disso, o fato pode facilitar a captação de recursos para a continuidade dos estudos e treinamento de estudantes na Unimontes, acrescenta.
O estudo publicado na Science mostra que as florestas tropicais se regeneram surpreendentemente rápida e podem atingir, após 20 anos, quase 80% da fertilidade e do estoque de carbono do solo e da diversidade de árvores das florestas maduras. A pesquisa conclui que a regeneração natural é uma solução de baixo custo para a mitigação das mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e restauração do ecossistema. Mário Marcos destaca que a equipe internacional de ecólogos (estudiosos) tropicais analisou como 12 atributos florestais se recuperam durante o processo natural de regeneração florestal e como sua recuperação está inter-relacionada, o que é considerado inédito na escala continental estudada.
“Os atributos florestais avaliados foram fertilidade do solo, funcionamento do ecossistema (aspectos morfofisiológicos das diferentes espécies de árvores), estrutura, diversidade e composição de espécies de árvores. A velocidade de recuperação difere dependendo de que característica da floresta é analisado: 90% da fertilidade do solo se recupera em menos de 10 anos, o mesmo ocorrendo em cerca de 25 anos para o funcionamento do ecossistema.
A estrutura florestal e diversidade de espécies é mais lenta, levando de 25 a 60 anos para atingir 90% dos valores observados para florestas maduras”, descreve o especialista. “Os atributos mais difíceis de se recuperar são a biomassa vegetal e a composição de espécies, que levam mais de 120 anos. O estudo conclui que a regeneração natural (sem intervenções humanas diretas) é uma solução de baixo custo para a mitigação das mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e restauração de ecossistemas degradadas”, enfatiza Espírito Santo.
Recuperação de características funcionais de 127 mil árvores para a elaboração do trabalho “Recuperação funcional de florestas secundárias tropicais, publicado pela a Revista PNAS, a rede de pesquisadores analisou a recuperação de características funcionais de 30 florestas tropicais nas Américas (do México ao sul do Brasil), usando dados de mais de mil parcelas e 127 mil árvores. Eles mediram sete características funcionais das árvores – aspectos da morfologia e fisiologia – que indicam como as mesmas interagem com o ecossistema onde se encontram.
“Algumas dessas características são importantes para a tolerância à seca, como folhas pequenas e compostas, madeira densa e a capacidade de perder folhas na estação seca. Outras são importantes para a produtividade, como a capacidade de fixar nitrogênio da atmosfera, a posição das folhas para aumentar a eficiência da fotossíntese e a concentração de nutrientes foliares”, observa Mário Marcos Espírito Santo. Para inferir sobre a regeneração natural a longo prazo, os pesquisadores compararam parcelas em florestas com diferentes idades, variando de 0 a 80 anos. Eles também observaram que os caminhos da regeneração variavam com o clima. “Em florestas secas, a substituição de espécies ao longo dos anos foi inicialmente impulsionada por características que protegem contra a seca, como o tamanho pequeno das folhas, enquanto que em florestas úmidas a substituição de espécies foi inicialmente impulsionada por características que permitem um crescimento mais rápido; e, posteriormente, por características que aumentam a tolerância à sombra nessas florestas altas e sombreadas”, escreve o líder do grupo de pesquisa no Brasil.
“A detecção desses padrões é extremamente importante, pois podem ser usados como um guia de apoio às estratégias de restauração florestal, conforme promovido pela “Década de Restauração do Ecossistema declarada pelas Nações Unidas” (2021 a 2030) e por estratégias de mitigação do clima, conforme proposto pela recente COP26 em Glasgow, realizada em novembro de 2021, avalia Mário Marcos do Espírito Santo. (GA)
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