Restauração de ecossistemas é fundamental para preservar a saúde do planeta - Rede Gazeta de Comunicação

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Restauração de ecossistemas é fundamental para preservar a saúde do planeta

EMERSON OLIVEIRA

Gerente de Conservação da Biodiversidade

O Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no sábado, 5 de junho, chama a atenção sobre a necessidade do reequilíbrio da natureza para garantir a saúde do planeta e, consequentemente, da humanidade. A data marca também o lançamento da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas (2021-2030), com o objetivo de aumentar em grande escala a restauração de ecossistemas destruídos para combater a crise climática, evitar a perda de um milhão de espécies e aumentar a segurança alimentar, o abastecimento de água e a subsistência. A Década lembra que, sem os ecossistemas regenerados, não será possível alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ou do Acordo de Paris, que estabelece metas para mitigar os efeitos do aquecimento global.

O Brasil lembra o Dia Mundial do Meio Ambiente em meio a inúmeros desafios, como a escalada do desmatamento ilegal em biomas como a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica; o retorno do risco de apagão e a crise no abastecimento de água em grandes metrópoles; além de uma série de problemas urbanos que são recorrentes principalmente no verão, como enchentes, ilhas de calor e problemas de saúde.

Carlos Rittl, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e senior fellow no Instituto para Estudos Avançados em Sustentabilidade (IASS) na Alemanha, ressalta que a perda de ambientes naturais e as mudanças climáticas estão interligadas. Para ele, a capacidade de enfrentar os desafios impostos pelo aquecimento global depende totalmente da proteção, da restauração e da gestão sustentável de ecossistemas naturais, conforme alerta a Organização das Nações Unidas (ONU). “Além da redução de emissões de gases de efeito estufa, cuidar da natureza é também o melhor seguro para nossa adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Proteger e restaurar florestas assegura água para nossas lavouras, para nossas torneiras e chuveiros e também para a geração de energia”, explica o pesquisador.

No contexto de eventos climáticos extremos, cada vez mais recorrentes devido ao aquecimento do planeta, aliar serviços oferecidos pela natureza ao planejamento urbano torna-se um fator estratégico. “As Soluções Baseadas na Natureza promovem intervenções inspiradas em ecossistemas saudáveis para enfrentar desafios urgentes da sociedade, especialmente nas grandes metrópoles. Escassez hídrica, enchentes, desaparecimento da biodiversidade, problemas de saúde e avanço do nível do mar são algumas das questões que podem ser enfrentadas considerando a natureza como parte da solução, gerando benefícios ambientais, sociais e econômicos”, conta André Ferretti, gerente sênior de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário e também membro da RECN.

Nesse sentido, Rittl ressalta que, além de cuidar melhor das florestas, a reconexão com a natureza deveria ser prioridade nas áreas urbanas e regiões costeiras. “Arborizar as cidades, além de cuidar e ampliar as áreas verdes existentes nas metrópoles, ajuda a reduzir os efeitos das elevações da temperatura do ar e as ilhas de calor. E preservar e restaurar manguezais nos protege da erosão costeira provocada pela elevação do nível do mar.”

Inclusive, um dos ecossistemas mais ameaçados e, em grande medida, ainda desconhecido da maioria da população é o oceano. Apesar de cobrir mais de 70% da Terra, regular o clima, gerar mais de 50% do oxigênio que respiramos e ainda oferecer diversas oportunidades econômicas, como o turismo e a pesca, a saúde dos mares corre perigo. O aquecimento global, que ameaça especialmente os recifes de coral, a sobrepesca e a poluição decorrente de atividades econômicas insustentáveis são algumas das principais ameaças. “Precisamos unir esforços para restaurar ecossistemas marinhos e tornar as comunidades costeiras mais resilientes. O primeiro passo é ampliar nossa consciência sobre o problema e compartilhar ideias e soluções para que possamos usufruir os benefícios de um oceano limpo e saudável”, avalia o gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, Emerson Oliveira.

O Brasil inicia o período de seca na maior parte do seu território com o menor volume de chuvas registrado nos reservatórios em 91 anos. Embora autoridades afirmem que não haverá apagão neste ano, muito por causa da reativação de usinas termelétricas, a situação é classificada como “preocupante” pelo próprio Ministério de Minas e Energia. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, que representam 70% da capacidade de armazenamento do País, finalizaram o mês de abril com nível médio de armazenamento de 34,7%.

Para Rittl, as alterações nos padrões de chuvas provocadas pelas mudanças climáticas já impactam a produção de energia em usinas hidrelétricas e, ao longo do tempo, o cenário tende a ficar ainda mais crítico. “Falta de chuva gera menor produção de energia. Mas o excesso de chuva também é um problema que pode levar as hidrelétricas a pararem de operar pelo risco de alagamentos nas áreas de seu entorno. Isto tende a se agravar com a intensificação do aquecimento global. E a combinação entre mudanças climáticas e altas taxas de desmatamento torna a situação ainda pior”, alerta o pesquisador.