A educação ocupa papel central nos projetos de vida de 83% dos 2 mil professores que pretendem seguir atuando na educação pública. Este foi o resultado de uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Novas Arquiteturas Pedagógicas da Universidade de São Paulo (NAP/USP) em parceria com o Instituto iungo. A conclusão foi feita com base nos estudos: “Desejos e Projetos de vida docentes”, coordenado pela professora livre-docente, Valéria Arantes e; “A escola pública dos sonhos para os educadores brasileiros”, coordenado pelo professor Ulisses Araújo.
Os dados surpreendem, principalmente, porque as pesquisas foram feitas em 2021 – cenário ainda de suspensão das aulas presenciais devido à pandemia da Covid-19, que causou grande impacto no cotidiano dos professores, com maior estresse e pressão para que reinventassem sua forma de trabalho em um curto espaço de tempo.
Um dos professores demonstra esse compromisso, quando responde sobre seus projetos de vida: “Quero passar em um concurso público, e com isso poder atuar por mais tempo em uma escola, para realizar alguns projetos. Quero passar em um concurso público para ter estabilidade e mais liberdade de ação com meus alunos. Quero fazer um mestrado em educação especial, gosto muito de trabalhar com esse público”.
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Já este depoimento coletado da pesquisa, exemplifica essa busca pela qualidade: “Já com 28 anos de magistério, ainda tenho muito fôlego e desejo contribuir mais. Tenho planos de criar um espaço mais envolvente para o ensino de ciências, um clube de ciências no contraturno, um espaço da robótica. Ano passado criamos um grupo de estudo com professores e desejamos retomar os estudos e trocas de experiências”.
Os resultados do segundo estudo, “A escola pública dos sonhos para os educadores brasileiros”, que ouviu 1500 professores, mostraram, também, que para 97% dos professores a escola ideal seria diferente da atual e mais inovadora: com metodologias ativas (que focam no protagonismo dos estudantes em seu processo de aprendizagem), melhor infraestrutura, relações mais democráticas e um currículo mais flexível e conectado à formação cidadã.
A resposta de um dos participantes da pesquisa reflete de forma bastante concreta o desejo de uma escola mais instigante: “Para reinventar as práticas escolares e minha aula, começaria com a parte física das salas: mais amplas, com acesso à internet. Neste espaço, haveria mais espaços para os alunos trabalharem em grupo, telas, obras de arte, mapas, estantes com livros. Com esse ambiente físico, poderia propor aulas mais dinâmicas. Os alunos trabalhariam mais em dupla ou grupos, pesquisariam através dos sites, livros. Outra coisa bacana é desenvolver parcerias com outros colegas professores. Dependendo do tema, poderíamos trabalhar no mesmo espaço. O aluno seria menos passivo”.
Segundo diretor do Instituto iungo, Paulo Andrade, embora possa parecer contraditório, o desejo de ter uma escola diferente é um sintoma positivo e esperado daqueles que têm a Educação como um aspecto central de seu projeto de vida. “Ter um projeto de vida é o que nos move a olhar criticamente para o nosso entorno, desejar e buscar ferramentas para tornar o nosso sonho, o mais real possível. O estudo nos mostra que, apesar dos conhecidos desafios da docência, agravados pela pandemia, os professores acreditam no poder transformador da Educação e têm ideias muito concretas sobre como melhorar a escola pública. Ouvi-los, é também essencial para a construção de políticas de desenvolvimento profissional docente significativas e efetivas”, afirma Andrade.
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