O trabalho foi aprovado pela banca examinadora, que enalteceu o estudo pela sua profundidade e relevância social
Liderança da comunidade quilombola Buriti do Meio, em São Francisco, Claudiomar Luiz de Souza concluiu o Mestrado do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Social (PPGDS) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Ele defendeu uma dissertação sobre a história da comunidade à qual pertence. Claudiomar Luiz tornou-se o primeiro quilombola a alcançar o título de mestre em Desenvolvimento Social, sendo também o mestre da comunidade de Buriti do Meio.
A defesa da dissertação de mestrado, realizada no auditório do Centro de Ciências Humanas (CCH), prédio 2 do campus-sede da Unimontes, contou com as presenças de membros da comunidade acadêmica e representantes da comunidade quilombola Buriti do Meio, juntamente com familiares de Claudiomar e convidados.
A dissertação de mestrado foi intitulada ““Um Olhar De Dentro”: das origens do quilombo à oferta de educação escolar diferenciada e seus desafios na Comunidade Quilombola Buriti do Meio / São Francisco – MG. O trabalho foi aprovado pela banca examinadora, que enalteceu o estudo pela sua profundidade e relevância social.
Claudiomar Luiz de Souza destacou a importância desse momento não apenas para ele, mas para toda a sua comunidade. “Concluir o mestrado para mim não foi apenas uma realização individual, mas uma vitória para toda a minha comunidade quilombola. Sinto-me honrado em poder representar nossa comunidade no meio acadêmico, trazendo à tona nossas histórias, nossas lutas, nossa identidade e nossos valores. O diploma de mestre que recebo é o testemunho de que, apesar dos desafios, podemos alcançar nossos sonhos e fazer a diferença. Podemos ocupar todos os espaços, desde que nunca desistamos de esperançar”, afirmou.
História marcada por desafios
A comunidade Buriti do Meio tem uma história rica e marcada por desafios. Formada há mais de 200 anos, a comunidade foi fundada por Euzébio Gonçalves Gramacho, um ex-escravizado que fugiu da Bahia e adquiriu terras na região. Em 2004, Buriti do Meio foi oficialmente reconhecida como comunidade quilombola pela Fundação Cultural Palmares, reforçando sua luta por direitos e pela preservação de sua identidade cultural.
A dissertação de Claudiomar focou na discussão sobre a oferta de educação diferenciada na Escola do Quilombo Buriti do Meio, analisando propostas, ações e desafios envolvidos no processo. Também abordou a história da comunidade, sua luta pelo reconhecimento e certificação pela FCP. Além disso, discutiu as especificidades da Educação Escolar Quilombola, as legislações que a instituem e os desafios relacionados à sua implementação no Brasil, explicou Claudiomar.
A orientadora da dissertação de mestrado, professora Mônica Maria Teixeira Amorim, ressaltou a importância do trabalho não apenas em função de sua contribuição para o debate sobre a educação quilombola, mas para suscitar a reflexão sobre o ingresso de povos e comunidades tradicionais na pós-graduação.
“A construção de uma universidade pública mais justa e democrática passa por nossa atuação comprometida com a entrada, presença e permanência de quilombolas, de povos e comunidades tradicionais, seus corpos e saberes, na educação superior brasileira”, enfatizou a professora do PPGDS/Unimontes.
O pró-reitor adjunto de Pós-Graduação da Unimontes, professor Daniel Coelho de Oliveira, que integrou banca examinadora, destacou o orgulho da Universidade em fazer parte desse momento histórico. “É necessário defender a integração de indígenas, quilombolas, negros, pardos e indivíduos com deficiência, bem como aqueles que se identificam como LGBTQIA+, porque de uma Universidade cada vez mais diversa que garanta a esses públicos uma formação de qualidade por meio da pós-graduação”, afirma o pró-reitor adjunto.
Além da orientadora e do pró-reitor adjunto de pós-graduação, a banca contou com a presença da professora Andreia Maria Narciso Rocha de Paula (coorientadora) e com a avaliação dos professores: Heiberle Hirsgberg Horácio (Unimontes) e Johnisson Xavier Silva (IFNMG).
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