MARCELLA ROCHA DE OLIVEIRA
Advogada trabalhista, pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho
Um dos reflexos desses dilemas do cotidiano da enfermagem é a grande quantidade de licenças por motivo de saúde. Se por um lado uns precisam de licença e saem, do outro os que ficam são sobrecarregados ainda mais, gerando um ciclo de adoecimento.
Abuso de drogas e álcool
A licença é uma saída, mas muitos enfermeiros acabam lidando com esses problemas todos usando álcool ou outras drogas e, em casos extremos, chegam ao suicídio.
O alcoolismo é o terceiro motivo para faltas e a causa mais frequente de acidentes de trabalho.
Em muitas dessas situações de abuso de drogas, seja pelo álcool ou outro tipo de entorpecente, o profissional vivencia um quadro clínico complexo de transtorno de ansiedade ou um distúrbio depressivo que é uma das doenças mais incapacitantes, conforme relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 2014.
Suicídio
Um estudo publicado na Revista da Escola de Enfermagem da USP concluiu que o risco de suicídio entre os profissionais de enfermagem está associado principalmente a sintomas depressivos e os correlacionados com a Síndrome de Burnout. E, infelizmente, a taxa de suicídio embora não seja divulgada, é enorme.
Entre 2008 e 2017, 48 enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem cometeram suicídio no Estado do Paraná, conforme as notificações do SIM (Sistema de Informação de Mortalidade). O levantamento foi feito por técnicos da Sesa (Secretaria Estadual de Saúde), autores do trabalho Perfil Epidemiológico da Mortalidade por Suicídio na Categoria de Enfermagem no Paraná, apresentado durante a 5ª Mostra de Pesquisa em Saúde.
Transtorno de ansiedade, depressão, Burnout
Não é à toa que a enfermagem é a categoria profissional mais afetada por esses problemas psíquicos. Sendo que a depressão está entre as três maiores causas de afastamento entre os enfermeiros.
Outra doença que seguidamente atinge esses profissionais é a síndrome de Burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, causada por excesso de trabalho ou por estresse decorrente da atividade profissional, razão pela qual a doença também é reconhecida pela Previdência Social como doença laboral, conforme Anexo II do regulamento da Previdência Social – Decreto 3.048/99.
Estima-se que ao menos um em cada seis profissionais de saúde apresenta sinais de Burnout, de acordo com estudo realizado por pesquisadores do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).
Quem trabalha em UTIs está mais exposto a situações de alto estresse e, consequentemente, ao Burnout, já que esse é um distúrbio psíquico de exaustão física e mental crônica relacionada a condições de trabalho desgastantes.
Leis e direitos
Os profissionais de enfermagem estão sim no grupo dos mais propensos aos problemas de saúde mental devido a precarização das condições laborais sendo que a principal queixa é a carga de trabalho, ou melhor dizendo, a sobrecarga que está ligada aos riscos ocupacionais, interagindo com corpo e mente do empregado de tal forma que se o corpo sofre, a mente também sofre.
No caso específico desta classe, embora exista projeto de lei (PL-2295) desde 2000 que proponha uma redução da jornada de trabalho para 6 horas diárias e 30 horas semanais, os enfermeiros ainda não conseguiram essa legalização. Além disso, os baixos salários obrigam tais profissionais a assumirem mais de um emprego para manterem o seu sustento e o de sua família.
Outro fator importante e que colabora diretamente para essa sobrecarga é o baixo número de profissionais. Mesmo havendo resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) estabelecendo um cálculo adequado de trabalhadores por ambiente para tentar equilibrar a jornada, as recomendações nem sempre são cumpridas pelas empresas e instituições.
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