Positividade tóxica e o mergulho na depressão - Rede Gazeta de Comunicação

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Positividade tóxica e o mergulho na depressão

LEONARDO TORRES

Psicoterapeuta junguiano e palestrante

Nas últimas semanas, o conceito de “Positividade Tóxica” esteve em alta. Esse assunto não deveria ser surpresa para ninguém, já que os últimos anos foram marcados por uma exagerada ostentação de felicidade, riqueza e status nas redes sociais digitais por parte da sociedade e ainda legitimada por indivíduos que se intitulavam como coaches motivacionais e similares.

A sociedade tem vivido uma grande ilusão nas redes sociais digitais: postam fotografias photoshopadas; sacrificam-se em dietas infindáveis; fazem o que chamam de harmonização facial, cirurgias plásticas e outros nomes da moda; ostentam com seus carros, celulares e joias; ostentam lugares, viagens, hotéis, voos. Tudo isso somente para passar a imagem de uma vida perfeita, longe das infelicidades e das dificuldades.

Estão chamado de “Positividade Tóxica” o que parte dos psicoterapeutas junguianos já conhecem muito bem: a unilateralidade da vida. Tóxico sempre é algo que está em excesso ou falta. Felicidade em excesso é tóxica, assim como a tristeza em excesso.

É uma ilusão do indivíduo querer que exista somente uma única emoção e/ou sentimento em sua vida. O ser humano concebe o mundo e passa pelo mundo de acordo com os contrastes, ou seja, assim como é impossível conhecer o salgado sem o doce, a luz sem a sombra, o mal sem o bem, é impossível ser feliz sem passar por momentos de tristeza, infelicidade e depressão.

Quem possui a expectativa de ser apenas feliz somente frustra-se rapidamente quando outras emoções e/ou sentimentos eclodem, fazendo com que estes dominem com maior facilidade as atitudes e os comportamentos dos indivíduos. Quando um cliente chega em minha clínica afirmando que tem depressão, eu pergunto: “você pode mandar a sua depressão embora? Se não pode, é porque ela que possui você”. Não é evitando emoções consideradas negativas que o indivíduo ganhará autonomia sobre elas; mas sim, “mergulhando” nelas.

Se o indivíduo acredita piamente que há somente uma única emoção ou sentimento em sua vida, é porque ele está cego para as outras. E como o filósofo Heráclito aponta por meio da enantiodromia, quanto mais você caminha para a felicidade, ostentação e status, mais também é o movimento contrário. Não à toa, hoje, já é possível presenciar influencers com alguns transtornos psicológicos e uma sociedade neurótica tentando copiar as imagens destas celebridades.