JEFFERSON RUSSO VICTOR
Biomédico imunologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa
Contudo, embora seja um vírus mais complexo, isso não significa que a ciência já não esteja correndo atrás há bastante tempo. Ao longo dos quase 40 anos de pesquisas sobre o HIV, investimentos de centenas de milhões de dólares e dedicação ferrenha de milhares de cientistas, embora até o momento não exista nenhuma vacina capaz de mostrar suficiente eficácia para que seja utilizada em massa, muito trabalho foi e vem sendo realizado. Entre diversas frentes de investigação científica, é interessante destacar a da IAVI (International AIDS Vaccine Initiative), uma fundação internacional sem fins lucrativos que tem como objetivo primordial desenvolver uma vacina contra o HIV. Em fevereiro de 2021, a IAVI anunciou a realização de um teste clínico de fase I (primeira etapa na produção de uma vacina, com testes de segurança em humanos) de um tipo de vacina absolutamente inédito do ponto de vista técnico e científico e que parece ter mostrado alguns dos melhores resultados observados até hoje. Essa vacina, que atualmente representa nossa maior chance na luta contra o HIV, está sendo desenvolvida com a utilização de tecnologias genéticas e computacionais que nunca foram utilizadas para o desenvolvimento de outras vacinas de uso em massa. De uma forma muito geral, esta nova tecnologia permite “escolher” raras células (estimadas em uma a cada 1 milhão de células que produzem anticorpos) que são estimuladas na pessoa vacinada para que ela produza resposta imunológica adequada. Aparentemente, nos primeiros grupos de pessoas testadas, essa vacina parece ter finalmente induzido a produção de anticorpos capazes de impedir a infecção pelo HIV, o que sugere que o mais alto grau de indução de resposta imunológica protetora e poderá, portanto, tornar-se funcional contra o HIV. Porém, outras fases de testes ainda são necessárias para se confirmar essas observações. Além disso, considerando o vasto histórico de estudos que também foram promissores em fases iniciais, mas chegaram a ser interrompidos por não terem se mostrado eficientes, cabe prudência.
Por fim, é importante que as pessoas entendam que a ciência na área biológica nunca gera observações absolutamente exatas e sempre exige tempo, só assim hipóteses são descartadas ou confirmadas indicando a utilidade das descobertas relacionadas a vacinas por exemplo. Lembrando ainda que qualquer descoberta está continuamente sujeita a questionamentos que permitem constantes melhorias. O conhecimento científico na área biológica é muito amplo, a ponto de estimarmos que todo o conhecimento histórico pode se duplicar anualmente, mas é preciso separar as coisas: HIV e SARS-Cov-2 são vírus completamente diferentes, e como eu disse, exigem abordagens diferentes, e estas estão sendo feitas, incansavelmente, por milhares de cientistas do mundo todo. Cabe a nós, portanto, torcer e atuar para que respostas, incluindo uma vacina contra o HIV, sejam alcançadas o mais rápido possível. Em paralelo, também podemos admirar o triunfo da ciência, pois ela foi capaz de gerar, no período historicamente mais curto já registrado, diversas vacinas extremamente eficientes contra o vírus causador da pandemia mais grave dos últimos 100 anos, a da Covid-19.
Compartilhe isso:
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)