VINÍCIOS SANTOS
Jornalista e professor
Tornar-se pai é, sem dúvida nenhuma, um grande desafio pelo qual muitos homens acabam passando, seja por escolha, seja por descuido. E infelizmente os números são negativos. Conforme a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em seu Portal da Transparência, em 2022 aproximadamente 12 milhões de mulheres criavam seus filhos sem a companhia dos pais.
Entretanto, além dos números – já assustadores – há ainda o que a estatística não mostra: incontáveis casos em que os pais estão em casa, mas têm condutas indiscutivelmente inadequadas para com os seus filhos. Agressivos, alcoólatras, ou mesmo indiferentes às necessidades dos filhos, “ausentes de corpo presente”.
Nessa quinta-feira, me deparei com um vídeo viralizado no Instagram, no qual um menino, 10, 11 anos no máximo, chora emocionado após a conquista de um torneio de futebol. A equipe sagrou-se campeã nos pênaltis, e ele foi o escolhido para dar uma das entrevistas, na oportunidade. Chorando, ele agradece ao “pai de consideração”, que o levou em todos os jogos, e que, nas palavras dele, “era quem o dava cuidado, carinho e atenção”. Há grande sinceridade nas palavras do garoto e eu, como muitos, fiquei emocionado pelo carinho com que ele fala do padrasto.
Só que um comentário me chamou atenção. Uma pessoa mencionou que as lágrimas, além do carinho pelo pai presente, também representavam dor pelo pai que nunca o verá campeão, que nem se sabe por onde anda. E a pessoa afirmava “se identificar com tal sentimento, de amor e dor ao mesmo tempo”. E isto me deixou pensativo.
Pai não é só o que se faz presente. Se você tem um filho, uma filha, você é um pai, amigo. Isto parece óbvio, aliás. Mas aparentemente é necessário esclarecer isto. Onde quer que esteja, você é, Quer queira, quer não. E esta criança vai crescer, vai ter amigos, vitórias e derrotas, histórias para contar, sobre como foi o caminho. E você pode não fazer parte desta jornada. Mas ela é, sim, sobre você. Ainda que na pessoa do “pai ausente”.
Não sou nenhum sábio ou vidente, entretanto, as complexas emoções humanas às vezes são simples e previsíveis. Eu aposto que, em alguns anos, mais velho, você não vai se orgulhar em ser o vilão da história do seu filho. Então, aproveite o hoje, e simplesmente, faça a sua parte.
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