Vencer a subnotificação dos casos e compreender que o Parkinson não é uma doença exclusiva da terceira idade foram demandas apresentadas em audiência pública que apontou nessta quinta-feira (4/4) os desafios enfrentados por pacientes e profissionais de saúde.
“Precisamos dos números, temos o direito de saber quanto somos”, defendeu Janette de Melo Franco. Presidenta da Associação de Parkinsonianos de Minas Gerais (Asparmig), a fala de Janette resumiu o sentimento geral manifestado na reunião, realizada a pedido do deputado Doutor Jean Freire (PT) na Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Para Janettte de Melo Franco e especialistas como o neurocirurgião Erich Talamoni Fonoff, pesquisador da Universidade de São Paulo, é preciso ter dados corretos e reais acerca da doença para que as políticas de saúde avancem, a começar por entender que o Parkinson não é doença de idoso.
“Várias pessoas começaram precocemente com sintomas do Parkinson e nos consultórios temos visto um aparente aumento das pessoas mais jovens com a doença”, destaca Fonoff
Neurocirurgião e pesquisador da Universidade de São Paulo
O neurologista chamou a atenção para a importância do diagnóstico precoce e da universalização de programas de tratamento, garantindo, por exemplo, o acesso ao medicamento próprio para o Parkinson com desconto na farmácia popular para todas as pessoas que tenham o diagnóstico, independentemente da idade. Hoje o benefício é dado para pacientes acima de 45 anos.
O especialista também alertou que as políticas públicas precisam levar em conta que o aumento da expectativa de vida da população, em média hoje em torno de 70 anos, vai gerar um aumento do número de pessoas com a doença.
Capacitação para o diagnóstico é defendida
Débora Maia, neurologista do Ambulatório de Distúrbios de Movimento do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), atua há 24 anos na área e endossou a necessidade de o País ter mais dados sobre a incidência do Parkinson.
Ela frisou que a doença ainda é vista como sinônimo de tremor, quando pode apresentar diversos sintomas não motores. “A causa é desconhecida, mas se sabe que envolve fatores genéticos e ambientais”, pontuou ela.
Doença neurodegenerativa, o Parkinson acomete neurônios produtores de monoaminas, dos quais o mais afetado é o da dopamina. Ela leva informações do cérebro para várias partes do corpo e é conhecida como um dos hormônios da felicidade e da motivação.
Ela ressaltou que mesmo incurável, a doença é tratável, mas demanda maior investimento em capacitação do profissional clínico para o diagnóstico, uma vez que não há testes ou exames específicos para o Parkinson.
“Às vezes uma pessoa passa anos e anos sem diagnósitco, chega buscando uma cirurgia para um ombro congelado, quando tinha era uma rigidez do Parkinson”, ilustrou a médica.
A especialista ainda questionou estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que aproximadamente 200 mil pessoas tenham Parkinson no Brasil.
Segundo ela, um estudo sobre a doença (Estudo de Bambuí) apontou uma incidência de Parkinson de 3,2% na população acima de 65 anos de idade. No Estado, esse percentual resultaria em 80 mil casos só nessa faixa etária, tomando como base dados do IBGE de 2022.
O médico ainda frisou que os casos de Parkinson entre as mulheres estão aumentando, por motivo ainda ignorado. A prevalência de dois homens para cada mulher com a doença hoje está em três homens com Parkinson para cada duas mulheres.
Anderson Luiz Coelho, presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) também alertou que a vivência profissional mostra que tem havido um início precoce da doença, ressaltando a importância de um diagnóstico diferencial feito o quanto antes, já que há vantagens para o paciente quando o tratamento é iniciado cedo. (Portal ALMG)
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