Os bastidores do 6 de fevereiro de 1930 em Montes Claros: memória e história (Parte 2) - Rede Gazeta de Comunicação

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Os bastidores do 6 de fevereiro de 1930 em Montes Claros: memória e história (Parte 2)

MARIA DE FÁTIMA GOMES LIMA DO NASCIMENTO

Professora Doutorado Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

Dessa forma, essa análise sobre o 06 de fevereiro de 1930 baseia-se na documentação consultada (Processos-Crime, jornais, revista, cartas, livro, crônicas, dentre outros) à época da realização da pesquisa, entre 2002 e 2004, orientada pelo Dr. José D’Assunção Barros pela Universidade Severino Sombra – Vassouras, RJ. Após a conclusão, orientei outras pesquisas que, ao longo dos anos, vêm corroborando a minha análise e, às vezes, ampliando os horizontes, no que se refere às representações sociais construídas sobre Tiburtina de Andrade Alves, mais conhecida como D. Tiburtina, no período analisado (1907 – 1930), alargado até 1955, ano de seu falecimento.

Nas pesquisas realizadas a partir de 2004, é possível notar que as memórias são sempre recontadas, de forma que, tomam o 06 de fevereiro de 1930 como uma emboscada tramada por uma mulher que, à luz da história, foi construída por seus adversários, nas representações jornalísticas da época.

Vale lembrar que, conforme a minha pesquisa intitulada “Tiburtina de Andrade Alves: Entre as Relações de Poder e as Representações Sociais de uma Mulher (Montes Claros na primeira metade do século XX)”, pode-se afirmar que o 6 de fevereiro de 1930, mesmo sendo um conflito político local, tomou uma dimensão nacional. As querelas políticas no Brasil, como sabemos, passaram por todos os momentos, desde o chamado Brasil Colônia até o Brasil República, e estão sempre relacionadas ao poder. Um poder que incita o homem a determinadas atitudes, inclusive chacinas, como foi a do dia 6 de fevereiro de 1930, denominada como “Tocaia de Bugres” nome que a memória e a história tratam de relembrar, principalmente, quando a referida data se aproxima.

Em 2022, o conflito completa 92 anos e é oportuno estudá-lo como um acontecimento político carregado de rixas políticas que a memória tratou de apresentar como um campo de guerra entre duas facções políticas: Conservadores e Aliança Liberal, e atribuí-lo a uma mulher: D. Tiburtina que, em nenhuma das páginas do processo criminal, aparece como ré. Dessa forma, é pertinente considerar o 6 de fevereiro de 1930 como um confronto de duas forças antagônicas, que buscavam aumentar o poder político no Estado de Minas Gerais, mais especificamente no Norte de Minas.

Esse momento passou a ser representado pelos jornais opositores da Aliança Liberal como se tratando de uma emboscada ou tocaia e atribuída ao chefe local, Dr. João José Alves e sua esposa, D. Tiburtina, mas, principalmente, a ela, como mandante. Assim, construíram, socialmente, a mulher que, em 1930, comandava um bando de jagunços e matava para ver a queda, a “facínora”, a “cangaceira”, a “fera humana”, a “mentirosa”, a “mexeriqueira”[8]. Denota-seque essas expressões de mais baixo nível construíram uma mulher motivada pela sede de poder político e, principalmente, pelo fato de ser mulher que, naquele contexto histórico, ainda não possuía representatividade política, mas que apresentava uma força de mudança na “ordem estabelecida, na década de 1930, (…) como portadora de um poder político que antes lhe fora negado, pela condição feminina, e pelo entendimento do político”.

Visto pela ótica do político, 6 de fevereiro de 1930 pode e deve ser analisado para se “compreender (…) não mais apenas a política em seu sentido tradicional, mas, em nível de representações sociais ou coletivas, os imaginários sociais, a memória ou as memórias coletivas, as mentalidades, bem como as diversas práticas discursivas associadas ao poder”.