RODRIGO SCOTTI
CEO da Nama
Sabemos que instituições públicas têm características específicas e, em muitas aspectos, uma maior burocracia em relação às empresas privadas, principalmente em países de dimensões continentais como o Brasil, com diferentes realidades em cada região do país. Prefeituras de grandes cidades, secretarias de governo e órgãos federais, lidam diariamente com a necessidade de prestar serviços a centenas de milhares e até milhões de pessoas. Neste sentido, a implementação de uma solução em inteligência artificial pode solucionar gargalos até então impossíveis de serem manejados, escalando a prestação de serviços públicos e dando andamento a procedimentos, ampliando índices de satisfação do cidadão.
No entanto, ainda há entraves significativos, muito por conta de processos burocráticos de contratação e implementação dos serviços. No final de 2019, mediei um evento em São Paulo, que tratou desta difícil equação envolvendo poder público e inteligência artificial. A mesa redonda contou com a participação de José Gontijo, diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital na Secretaria de Empreendedorismo e Inovação | MCTIC, de Tulio Werneck, subsecretário de Tecnologia da Informação do Estado de Goiás e de Carlos Affonso de Souza, diretor do Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio de Janeiro.
Comecei o debate pedindo aos participantes que comentassem como a inteligência artificial é vista pelos respectivos órgãos públicos que representavam no evento e pudemos perceber que ainda não chegamos ao ponto de a IA ser uma política pública, institucionalizada. Mas que também evoluímos em relação a anos atrás, quando a inteligência artificial não era nem mesmo debatida. Hoje existem pessoas especializadas e gabaritadas no que diz respeito a estas tecnologias atuando em diferentes órgãos do governo. E pude enxergar nestes três participantes do painel exatamente este perfil.
Werneck, do governo de Goiás, acredita que seja preciso que haja uma reeducação dos servidores públicos, que precisam enxergar de fato a inteligência artificial como aliada. Na Inglaterra, por exemplo, explicou o executivo, a estimativa é que a inteligência artificial corresponda, em 2025, a 11% do PIB. “Lá eles já transcenderam esta visão do senso comum, do temor de que um robô roube meu trabalho”.
Já Souza, do ITS Rio, mencionou o marco civil da internet, um grande avanço neste sentido para o Brasil, e também a experiência que o Japão teve com o uso de robôs alimentados por inteligência artificial para cuidar de idosos, expondo a complexidade envolvendo os processos de adaptação à interação com uma máquina. Era uma alternativa totalmente plausível para um país no qual a população está cada vez mais idosa e, a força de trabalho jovem, responsável pelos cuidados, a cada ano mais prejudicada por problemas de coluna, graças ao peso que precisavam carregar diariamente carregando os pacientes idosos. Seria uma alternativa aparentemente pertinente, não fosse o empecilho de que, depois de fazer primeiros testes, surgiram protestos por parte dos idosos, que passaram a recusar o tratamento automatizado. Ou seja, além de todos os outros percalços envolvendo serviços públicos e inteligência artificial, ainda existem os desafios culturais que, longe de serem exclusivos à idosos, comumente provocam resistência por parte de pessoas, de todas as idades e perfis.
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