FERNANDO BARROS
Jornalista e Gerente Executivo do Instituto Fórum do Futuro
A Noruega explora Petróleo e caça baleias, é verdade. Mas, ao mesmo tempo, opera uma agenda sólida e profundamente conectada com Ciência e com as principais tendências do capitalismo moderno. Nestes, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) pautam cada vez mais os mercados, desde o financeiro ao varejo da alimentação. Os noruegueses reservam para usufruto das gerações futuras 40% do fundo de 10.9 trilhões de dólares (https://www.nbim.no/) criado com recursos do petróleo. Para enfrentar a deterioração dos estoques de bacalhau, a Noruega – o País preferencial das empresas ESG (Environmental, Social and Governance ) – criou a “Cod Academy”, um programa de gestão integrada do conhecimento reunindo governo, universidades e iniciativa privada. Em poucos anos, o peixe sustentável do Mar Báltico tornou-se uma grife, uma narrativa que chancela a responsabilidade social e ambiental dos países produtores.
A Agricultura Tropical Sustentável, construída sobre uma Plataforma de Ciência, Tecnologia e Inovação, é provavelmente a maior e mais relevante contribuição já feita pelo Brasil ao processo civilizatório da humanidade. Barateou e democratizou o alimento, transformou um dos biomas mais naturalmente degradados do Planeta – os Cerrados – num celeiro global. Funcionou como escudo protetor de uma Amazônia que estava sendo ocupada antes do conhecimento científico chegar. Revolucionou a saúde, os padrões de longevidade, criou bem-estar, civilização e dezenas de cidades naquilo que há pouco mais de 40 anos era o Brasil profundo, abandonado e deserto.
Não obstante, em quase cinco décadas de conquistas substantivas para o Brasil e para o mundo, o Agro brasileiro continua a não fazer parte do projeto brasileiro de sociedade e a ser percebido como uma ameaça ambiental e à saúde dos consumidores pelos formadores da opinião pública, aqui e no plano internacional.
É preciso ter a coragem de mudar, desenvolver uma narrativa compatível com a excelência da Plataforma de Ciência, Tecnologia e Inovação que sustenta os pilares da Agricultura Tropical Sustentável.
O tempo urge. Temos à disposição uma legião de jovens urbanos, inovadores, ansiosos por uma causa para investir a sua energia criativa na construção de um mundo melhor.
E, existe causa mais nobre do que superar o déficit alimentar, tanto o hoje existente quanto nas próximas décadas; contribuir decisivamente para a redução da desigualdade, para a inclusão social e tecnológica dos povos tropicais; para a contenção das migrações forçadas?
E se essa narrativa vier alinhada com as mais evidentes tendências do capitalismo contemporâneo?
É nesse sentido que a candidatura do Professor Alysson Paolinelli, Presidente do Fórum do Futuro, ao Prêmio Nobel da Paz, pode se transformar num divisor de águas. Sugerida e provocada pela visão política e estratégica do também Conselheiro e ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, a candidatura tem na sua base uma contundente narrativa: tudo o que foi feito no Brasil decorreu de um trabalho em Rede, orientado por Ciência, Tecnologia e Inovação; todas as transformações que poderemos desenvolver doravante podem igualmente ter origem numa Plataforma do Conhecimento voltada para o desenvolvimento sustentável, tendo como ponto de partida a identificação dos limites de uso de cada um dos nossos biomas.
Inúmeros sinais de que a sustentabilidade associada à transparência e à ética se consolidam como vetores de uma das mais consistentes tendências econômicas das próximas décadas.
O Conselheiro do Fórum do Futuro e ex-Ministro do Planejamento, Paulo Haddad, acredita que a narrativa já se tornou uma poderosa arma econômica de grande impacto, capaz de dirigir investimentos globais. Ele traz para esse debate o livro (2019) do Prêmio Nobel de Economia, Robert Shiller, que aborda um dos aspectos mais relevantes para a compreensão desse conceito: “Narrative Economics – How Stories Go Viral and Drive Major Economic Events”.
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