O papel da natureza na construção de cidades inteligentes (Parte 2) - Rede Gazeta de Comunicação

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O papel da natureza na construção de cidades inteligentes (Parte 2)

ANKE MANUELA SALZMANN

Especialista de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário

A natureza pode ser trazida para dentro de uma cidade de diversas formas. Um método que tem se mostrado muito interessante são as Soluções Baseadas na Natureza (SBN), empregadas para enfrentar desafios como falta de água, grandes enchentes e deslizamentos. Essa abordagem gera benefícios à conservação da biodiversidade ao mesmo tempo em que promove soluções para o desenvolvimento econômico e o bem-estar social. Mas como isso funciona?

Os parques nas margens de rios urbanos atuam como “esponjas” e evitam inundações. Além disso, servem de abrigo para a fauna e flora local. Quanto mais áreas verdes espalhadas pela cidade, mais água infiltrará e será armazenada no solo, o que por sua vez alimenta nascentes e lençóis freáticos. Assim como nós, a vegetação transpira e libera vapor à atmosfera. Com isso, as plantas têm um papel fundamental na regulação térmica de uma cidade. Neste contexto, plantas podem ir além de parques e praças. Hoje, verdadeiros jardins recobrem tetos e paredes!

As áreas verdes urbanas atraem insetos, aves e morcegos que têm a importante função de polinizar os nossos cultivos agrícolas. De todas as plantas cultivadas no Brasil para fins alimentícios, 60% dependem da ação desses pequenos agentes. Infelizmente, o desmatamento, as mudanças do clima e o uso de agrotóxicos têm colocado a vida desses polinizadores em risco. Estudo da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos e da Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador estimou, em 2018, que o valor do serviço de polinização que a natureza presta gratuitamente chega a R$ 43 bilhões.

A cidade inteligente também promove a conservação de áreas naturais que vão além de seus domínios. O movimento Viva Água é um exemplo disso. Idealizado pela Fundação Grupo Boticário, visa garantir a segurança hídrica e a adaptação aos efeitos das mudanças climáticas em bacias hidrográficas localizadas no entorno de áreas urbanas. Iniciado na Bacia do Rio Miringuava, em São José dos Pinhais (PR), está reunindo atores de múltiplos setores para alcançar os objetivos propostos, por meio de ações de conservação e restauração de ambientes naturais e fomento ao empreendedorismo com impactos socioambientais positivos. Assim, ao olhar para além de seus muros, a cidade inteligente reconhece o quanto seu bem-estar depende do equilíbrio ambiental e socioeconômico de seu entono.