SAMUEL HANAN
Engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002)
A necessidade de uma reforma política é ignorada, apesar das evidências de que o instituto da reeleição não deu certo e precisa ser revisto, talvez com a garantia de um mandato maior. Da mesma forma, mais do que promessas o Brasil precisa que a Constituição seja cumprida, notadamente quanto à aplicação de recursos para a diminuição das grandes desigualdades regionais que geram brasileiros de classes distintas de acordo com seu estado de nascimento. Vivemos uma espécie de síndrome do G, isto é, os governantes confundem geografia com genética. Acreditam que o cidadão, simplesmente pelo fato de nascer na região Norte ou Nordeste, é menos capaz e mais dependente de auxílios financeiros, necessitando de menos serviços de saúde, educação e investimentos públicos destinados a melhorar a qualidade de vida. Trata-se de um olhar preconceituoso e, pior, de violação ao artigo 3º, inciso III da Constituição, que define como um dos objetivos fundamentais da República erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
O país, lamentavelmente, insiste no equivocado modelo pelo qual a União é uma repartidora de receitas com absoluta discricionariedade, destinando a seu bel prazer, via renúncia fiscal, mais de R$ 320 bilhões por ano, montante equivalente a 4% do PIB nacional. Além disso, mantem uma visão estreita ao não enxergar a Floresta Amazônica como um imenso potencial econômico. Basta que seja explorada de forma sustentável, mantendo as árvores em pé, negociando créditos de carbono, exportando peixes e frutas tropicais, coibindo a exploração ilegal e o contrabando de madeira, de ouro e outros minerais, bem como a expansão irrefreada das áreas de pastagem extensivas (mas confinadas) às custas da derrubada da floresta.
Há muitos problemas estruturais a serem enfrentados. Para isso, é preciso olhar para o buraco no casco em vez de buscar medidas paliativas como retirar a água que invade o navio. Não é o clima de campanha eleitoral – com a surrada exposição dourada de realizações e promessas milagrosas – a solução que a nação precisa. Novamente, o texto antigo de Rubem Alves é atual: “Confesso que sinto um clima um tanto apocalíptico: uma catástrofe que se aproxima. Clima de “últimos dias” – como se um grave julgamentos estivesse se aproximando para um país que não aprendeu as lições da história e se deixou fascinar pelas tentações do demônio. “O importante é levar vantagem” – é isso que o Tentador tem estado dizendo sem parar; e enquanto se celebram as pequenas vantagens individuais ou de partido, o navio continua a afundar”.
Convém atentar para a advertência do filósofo mineiro, explicitada na mesma obra: “A opção com que se defronta o povo do Brasil, neste momento de eleição, é precisamente esta; o engodo dos que prometem todas as coisas, a fim de subir na hierarquia do poder, e o sóbrio realismo dos que nada prometem à guisa de vantagens, por saber que não haverá vantagens para ninguém se o navio afundar. A esperança é que o povo prefira a vida ao engodo que se lhe oferece.”
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