O impacto do monitoramento em áreas em restauração florestal - Rede Gazeta de Comunicação

PUBLICIDADE

O impacto do monitoramento em áreas em restauração florestal

JOSIANE SIQUEIRA

GUSTAVO PIRES

Engenheiros florestais

A restauração de áreas degradadas tem sido vista como primordial para as questões ambientais, uma vez que auxilia na redução da emissão de gases de efeito estufa e na melhoria da qualidade do solo e da água. A importância é tal que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o período de 2021 a 2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas, a fim de incentivar as políticas públicas e a atuação de empresas para a recuperação dessas áreas. O debate já vinha sido realizado anteriormente, como no Acordo de Paris de 2015, por exemplo, em que o Brasil estabeleceu a meta de recuperar 12 milhões de hectares até 2030.

Mas não basta empregar as técnicas e esperar que o ambiente se transforme. Para reconhecer o sucesso desses projetos é preciso fazer um acompanhamento ao longo do tempo, capaz de intervir quando necessário. Assim, a ferramenta utilizada para tal é o monitoramento de áreas degradadas.

A avaliação das áreas em recuperação ambiental é um importante meio de tomada de decisão. Uma vez que cada projeto tem sua escala e suas particularidades, cada área requer técnicas específicas que precisam ser readequadas sempre que constatada essa necessidade. O monitoramento acompanha então a evolução da área do plantio até ser atestada sua recuperação pelos termos previstos na legislação, que para o caso do Estado de São Paulo, é a Resolução SMA n° 32/2014. Sendo assim, são diversos os indicadores utilizados e para cada um é estabelecido um valor de referência.

No geral, são registrados os dados de espécie, altura e a projeção de copa das mudas plantadas e regenerantes, os fatores de perturbação e a fauna avistada. A riqueza ou número de espécies, por exemplo, é um dos mais importantes indicadores, pois quanto maior a riqueza, maior sua diversidade e a resiliência para as possíveis perturbações. Assim, com essa identificação, é possível saber se as espécies são pioneiras ou não pioneiras, de preenchimento ou de diversidade, e ainda, como elas dispersam suas sementes.

Para uma análise mais estrutural, temos a altura e a copa de cada muda, que indicam se estão se desenvolvendo bem. A saber, na legislação de São Paulo, os ambientes em restauração precisam atingir no mínimo 80% de cobertura de copa. Além desses, outros fatores ligados às práticas de manutenção da área podem ser avaliados, como o controle das gramíneas invasoras e a taxa de mortalidade.

Para tornar mais completa a avaliação do ambiente, é preciso também registrar a fauna silvestre avistada. Ela indica que o ambiente está mais receptivo e se conectando a outras áreas, além de mostrar que os processos ecológicos estão se restabelecendo. Temos obtido assim registros interessantes, inclusive de animais ameaçados de extinção, como a anta e o macaco-prego. Animais carismáticos, como o bicho-preguiça, o tatu-peba e a cuíca, e até mesmo serpentes, como a caninana, também foram encontrados. As aves foram frequentemente avistadas e são as principais dispersoras de sementes, auxiliando na chegada de novas espécies vegetais nas áreas.

Outra ótima ferramenta para complementar o diagnóstico da área é o uso de imagens aéreas feitas por drones, pois mapeiam a área total e mostram possíveis falhas de manutenção, fontes de perturbações e a cobertura de copa.

Enfim, são muitas as possibilidades de análise que o monitoramento traz e cabe a cada projeto definir quais serão seus parâmetros e como avaliá-los. Dessa forma, para atingirmos a meta de 12 milhões de hectares, precisamos estudar como aplicar as técnicas de recuperação de forma que funcionem e, para isso, utilizamos o monitoramento desde o primeiro momento do plantio.

O trabalho é minucioso, mas gratificante: observar a evolução de um ambiente degradado para um ambiente recuperado, diverso, mais resiliente e apto a continuar seus processos ecológicos sem intervenção humana.