O desmonte da ciência (parte 2) - Rede Gazeta de Comunicação

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O desmonte da ciência (parte 2)

GAUDÊNCIO TORQUATO

Jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político

O que se pode alegar? Cortes para viabilizar o chamado “teto de gastos”. Mesmo assim, justifica-se esse corte brutal de gastos? A imagem é dura, porém necessária: para salvar a vida de uma pessoa, ao invés de amputar um dedo, um braço, extirpam-se as veias. É claro que não haverá salvamento. Assim agem os burocratas, esses que, em seus compartimentos na Esplanada dos Ministérios, com a lâmina afiada, cortam as veias do corpo nacional. Ora, a educação é a base matricial de uma Nação. Sem educação, não há processo civilizatório, não há avanços, progresso, vida saudável. Sem educação, um território deixa de ser Nação para continuar a ser um pedaço bruto de terra.

A maior revolução de uma Nação é a da educação. Sem ela emerge aquela moldura descrita pelo filósofo argentino José Ingenieros: “em certos períodos, a nação adormece dentro do país. O organismo vegeta; o espírito se amodorra. Os apetites acossam os ideais, tornando-os dominadores e agressivos. Não há astros no horizonte, nem auriflamas nos campanários. Não se percebe clamor algum do povo; não ressoa o eco de grandes vozes animadoras. Todos se apinham em torno dos mantos oficiais, para conseguir, alguma migalha da merenda. É o clima da mediocridade….O culto da verdade entra na penumbra, bem como o afã de admiração, a fé em crenças firmes, a exaltação de ideais, o desinteresse, a abnegação — tudo o que está no caminho da virtude e da dignidade.”

E onde está a esfera política nessa crise de mediocridade? Preocupada com outras coisitas que podem lhe render recompensas, retorno, resultados, votos. Verbas para comprar tratores, articulações para conseguir inserir emendas no Orçamento, participar de foros que conferem maior visibilidade midiática. Assim é a vida nos espaços da representação parlamentar. Será que suas excelências, em postos nos Ministérios, autarquias e casas congressuais, não devem nada ao motor educacional que impulsionou suas vidas? No momento de decidir, usam a balança do pragmatismo. Pensam: o que pode ser melhor para mim nesse momento?

E assim, a ciência, mesmo sob loas e aplausos de alguns, acaba sacrificada por “outras prioridades”. O que diz o MEC? Os recursos, infelizmente, estão “condicionados”. Não podem ser usados. Ou seja, a educação está “condicionada”. A esta altura, alguém sabe responder à pergunta acima: como é mesmo o nome do ministro da Educação?

P.S. O clamor foi tão intenso que o governo acabou dando um pouco mais de recursos às Universidades.