O conhecimento e a verdade impossibilitados pelo fanatismo - Rede Gazeta de Comunicação

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O conhecimento e a verdade impossibilitados pelo fanatismo

VINÍCIOS SANTOS

Jornalista

Quando criança, eu aprendi que a Filosofia consiste no “amor pela sabedoria, experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria ignorância”. E ainda que o verdadeiro conhecimento nasce do ‘lógos’, ou seja, da argumentação, lógica, gerando um pensamento racional. A ideia é de que a razão aponte as contradições presentes nos mitos, trazendo, enfim, um conhecimento lógico-racional, que advindo de toda esta experiência.

Mas também escutei, durante toda a minha infância, que Futebol, Religião e (é claro) Política são a trindade indiscutível entre as pessoas, ou seja, não se pode debater sobre estes assuntos, é quase crime (ou quem saiba pecado) questionar determinadas afirmações.

O curioso é poder imaginar os gregos antigos, que acreditavam nos mitos, enfurecidos com os novos pensadores, por estarem trazendo à tona raciocínios e fatos, os quais faziam que suas crenças fossem sendo invalidadas, uma a uma.

Séculos se passaram, mas o Mito da Caverna segue atualíssimo. Há aqueles presos às imagens das sombras, juntamente com suas tribos, e para eles esta é a verdade. Libertar-se e perceber que estão todos errados, é passível de severa punição. Devemos admitir que as pessoas não querem a verdade, nunca foi este o ponto. As pessoas querem estar certas, ainda que erradas, e juntamente com suas tribos reforçarem as crenças umas das outras.

Aqui no Brasil não há busca por conhecimento, por verdade. Há “paixão”, melhor dizendo, “paixões”, definidas, segundo o dicionário como: “sentimentos intensos, que possuem a capacidade de alterar o comportamento, o pensamento; amor demonstrado de maneira extrema. Movimento violento, impetuoso, do ser para o que ele deseja. Excesso de entusiasmo; emoção. Adoração por alguma coisa em específico. Opinião fervorosa acerca de alguma coisa; fanatismo”.

Não é, e talvez nunca tenha sido sobre Futebol, Religião e Política… Não dá para definir, em um diálogo coerente, quem tem os maiores feitos entre Atlético e Cruzeiro; muitas vezes não conseguem dialogar os católicos e os evangélicos, embora, pasmem, todos acreditem no mesmo Jesus Cristo; e definitivamente, não há diálogo entre esquerda e direita no Brasil (a maior parte das pessoas nem saberia defini-las, para ser bem sincero). Mas tudo isso, todos esses debates enfurecidos, porque não se trata de “verdade”. Trata-se de “paixões”, absolutamente convictas e cegas. E também, é claro, da falta de capacidade em admitir que talvez, só talvez, você possa não estar certo.