NORTE DE MINAS | Renomado professor António Nóvoa palestra sobre o papel dos professores e o futuro da educação - Rede Gazeta de Comunicação

PUBLICIDADE

NORTE DE MINAS | Renomado professor António Nóvoa palestra sobre o papel dos professores e o futuro da educação

Debates e reflexões sobre as demandas da educação e da docência na atualidade marcaram o tom do Seminário Interinstitucional: Um “Espaço Comum” da Formação de Professores da Educação Básica, que aconteceu na última quinta, 31/10/2024. A discussão foi conduzida pelo renomado professor António Manuel Sampaio da Nóvoa, que é professor da Universidade de Lisboa e um dos maiores especialistas internacionais no campo da educação.

O evento foi promovido pelo Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), instituições que estão presentes na metade norte de Minas Gerais.

Após mesas-redondas com gestores dessas instituições, o ilustre convidado da noite promoveu uma palestra aberta na Unimontes, intitulada “Um Espaço Comum da Formação de Professores da Educação Básica”, analisando a importância de valorizar e ampliar o papel dos professores. A gravação da transmissão ao vivo da palestra pode ser acessada nos canais oficiais do IFNMG e da Unimontes.

Compromisso social e político e o futuro da educação

Em sua fala, Antônio Nóvoa destacou como a profissão docente tem sofrido uma “diminuição de espaço”, impactada pela interferência de grandes indústrias, novas tecnologias e até da sociedade. Ele enfatizou a necessidade de restaurar esse espaço e valorizar a voz dos professores, definindo isso como um compromisso social e político.

“Precisamos falar não apenas do que já realizamos, mas também do que desejamos alcançar, pois isso nos dá força e energia. A criação de escolas formadoras é um exemplo desse processo, integrando a universidade e as escolas de educação básica para a formação de professores de maneira colaborativa e inovadora. Essa abordagem enriquece as instituições e fortalece o papel da universidade na sociedade”, destacou o professor.

Nóvoa também relembrou os lemas do Dia Mundial do Professor dos últimos anos, ressaltando o de 2024: “Valorizar as vozes dos professores para um novo contrato social da Educação”. Esse lema, segundo ele, reflete a urgência em atrair mais jovens para a profissão e fortalecer a identidade docente em meio às rápidas transformações educacionais.

Foto 2 Palestra Antonio NovoaAntônio Nóvoa palestrou na Unimontes sobre a valorização do papel dos educadores, que enfrentam uma “diminuição de espaço” por influências externas. Ele destacou a importância de restaurar esse espaço e sugeriu a criação de escolas formadoras para integrar universidades e escolas de educação básica na formação colaborativa de professores

Outro ponto levantado foi a proposta de um “espaço comum” para a formação de professores, que conjugue as qualidades das antigas “escolas normais” e das universidades modernas. Ele explicou que, embora a integração das universidades no processo de formação tenha sido um avanço, esse movimento afastou a formação do contexto prático e concreto das escolas públicas.

A proposta defendida por Nóvoa é criar um “terceiro espaço”, ou uma “terceira margem”, onde universidades e escolas possam colaborar diretamente. Isso traria uma formação mais completa, que preserve o conhecimento teórico das universidades e a prática cotidiana dos professores de Educação Básica:

“Precisamos caminhar para uma terceira revolução na formação de professores, que mantenha as vantagens do ensino universitário – a ciência, a crítica e a proximidade com outras profissões – mas que também recupere o contato direto e a participação ativa dos professores da Educação Básica no processo formativo. Precisamos de espaços comuns que não sejam apenas a soma de universidade e escola, mas que tenham vida, energia, curiosidade e uma capacidade de experimentação que impulsione mudanças reais”, alertou.

“Vivemos tempos desafiadores, e o papel dos educadores se torna cada vez mais essencial na formação de cidadãos críticos e conscientes. É vital que nossas instituições de ensino estejam preparadas para acompanhar as transformações do mundo, construindo novos espaços de formação que preservem a essência do diálogo, dos saberes e do desenvolvimento humano,

Em sintonia com o palestrante, o pró-reitor de Ensino do IFNMG, professor Wallas Siqueira Jardim, reiterou que é essencial que as instituições de ensino se adaptem às transformações sociais, criando novos espaços de aprendizado que valorizem o diálogo e o desenvolvimento humano. Também enfatizou que a experiência e a perspectiva do professor Nóvoa são inestimáveis nesse processo.

“Vivemos tempos desafiadores, e o papel dos educadores se torna cada vez mais essencial na formação de cidadãos críticos e conscientes. É vital que nossas instituições de ensino estejam preparadas para acompanhar as transformações do mundo, construindo novos espaços de formação que preservem a essência do diálogo, dos saberes e do desenvolvimento humano. Que este seminário seja uma oportunidade para aprendermos com suas contribuições ao avanço do conhecimento em educação e formação de professores. Que seja um momento de troca, reflexão e, acima de tudo, de inspiração. Para finalizar, deixo uma frase do professor Antônio Nóvoa: ‘Ser professor no século XXI é reinventar um sentido para a escola, tanto do ponto de vista ético quanto cultural'”, pontuou o professor Wallas.

Laboratórios de práticas educacionais inovadoras

O seminário reforça o papel das instituições com atuação no Norte de Minas na vanguarda da educação, promovendo práticas que unam teoria e prática e que realmente contemplem o protagonismo docente. “Os sistemas de ensino e as redes de ensino são muito fechadas e o trabalho dos professores é muito organizado administrativamente e burocraticamente. É difícil fazer isso que vocês estão fazendo em Minas Gerais, desta rede mineira de formação de professores e isso deve ser um fator de muito orgulho e de projeção”, comentou o palestrante português sobre a integração do IFNMG, Unimontes, UFMG e UFVJM em políticas e ações em prol da educação.

O professor propôs ainda a criação de “escolas formadoras” – instituições de educação básica que assumam um papel ampliado, não apenas de ensinar crianças, mas também de formar futuros professores. Nessas escolas, docentes de educação básica poderiam atuar como professores colaboradores das universidades, em um modelo similar ao que ocorre em áreas da saúde, em que a formação acontece nos próprios centros de atendimento. Para ele, esse modelo pode fortalecer a universidade ao invés de diminuí-la, ampliando sua presença e seu papel na formação profissional. A ideia é que essas escolas formadoras atuem como laboratórios de práticas educacionais inovadoras, contando com apoio das universidades e das secretarias de educação, tanto estaduais quanto municipais.

Síntese do legado de António Nóvoa para a história da educação e inovação

António Nóvoa é um renomado especialista internacional em História da Educação e Educação Comparada, destacando-se por suas contribuições significativas sobre as políticas educativas, particularmente no contexto da União Europeia. Sua obra é amplamente reconhecida nas Américas e Europa, e sua voz é essencial nos debates educacionais contemporâneos, tratando da evolução histórica e das perspectivas futuras do modelo escolar moderno. Nóvoa é conhecido por introduzir a comparação nos estudos históricos da educação e por explorar a interação entre realidades locais e contextos globais.

Nascido em Valença do Minho, Portugal, em 1954, Nóvoa é professor catedrático no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa desde 1986, onde também foi reitor de 2006 a 2013. Durante seu mandato, liderou a fusão histórica da Universidade de Lisboa com a Universidade Técnica de Lisboa, fortalecendo o panorama acadêmico português. Seu percurso inclui uma formação em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra, onde também obteve seu doutorado em 1986, com uma tese considerada transformadora nos estudos da História da Educação.

“Precisamos falar não apenas do que já realizamos, mas também do que desejamos alcançar, pois isso nos dá força e energia. A criação de escolas formadoras é um exemplo desse processo, integrando a universidade e as escolas de educação básica para a formação de professores de maneira colaborativa e inovadora. Essa abordagem enriquece as instituições e fortalece o papel da universidade na sociedade”,

A carreira de Nóvoa é marcada por uma sólida atuação acadêmica e institucional. Ele ajudou a fundar a Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação e presidiu o ISCHE, a principal associação internacional de História da Educação. Além disso, seu trabalho editorial na revista Paedagogica Historica consolidou sua reputação como uma figura de destaque na área.

Ao receber o título de doutor honoris causa pela Universidade do Algarve, Nóvoa enfatizou os princípios de liberdade, conhecimento e compromisso como pilares de sua trajetória acadêmica e pública. Com formação inicial nas artes, especificamente no teatro, ele trouxe para a educação uma abordagem criativa que valoriza a originalidade na produção do conhecimento, evitando a mera repetição de fórmulas estabelecidas. Essa perspectiva alimenta seu trabalho como docente e pesquisador, conferindo-lhe uma posição de destaque no campo da educação.

A conexão de Nóvoa com a educação no Brasil

António Nóvoa é amplamente reconhecido no cenário educacional brasileiro, figurando entre os educadores mais citados na produção acadêmica do país e como um dos teóricos mais influentes nos debates pedagógicos contemporâneos. A revista Nova Escola destacou-o em 2002 como uma das seis personalidades pedagógicas essenciais para se conhecer no Brasil, e a revista Educação listou-o entre os dez principais nomes internacionais para compreender a educação atual. Em 2011, sua relevância foi novamente confirmada ao ser considerado uma das vinte maiores referências educacionais do espaço mediterrânico.

“Precisamos caminhar para uma terceira revolução na formação de professores, que mantenha as vantagens do ensino universitário – a ciência, a crítica e a proximidade com outras profissões – mas que também recupere o contato direto e a participação ativa dos professores da Educação Básica no processo formativo. Precisamos de espaços comuns que não sejam apenas a soma de universidade e escola, mas que tenham vida, energia, curiosidade e uma capacidade de experimentação que impulsione mudanças reais”,

Nóvoa também é membro do Conselho Editorial da revista Educação e Pesquisa e um convidado frequente da Faculdade de Educação da USP, onde proferiu palestras marcantes, incluindo a recente conferência “Pedagogia: a terceira margem do rio”, realizada no Auditório da Escola de Aplicação da USP. Seu trabalho exemplifica uma combinação única de rigor histórico e inovação, consolidando-o como um dos intelectuais mais influentes na reflexão sobre a educação no século XXI.

Reconhecido pelo impacto e inovação de suas pesquisas, Nóvoa também possui doutorados honoris causa por diversas universidades, incluindo a Universidade de Brasília e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua trajetória ilustra um comprometimento contínuo com a valorização e renovação da educação, abordando desafios e propondo práticas que unam teoria e prática de maneira efetiva e inovadora.