JOÃO FORTUNATO
Jornalista, mestre em comunicação e cultura midiática, professor universitário
A “desistência” de Biles nos privou temporariamente de suas piruetas acrobáticas, mas abriu espaços para uma discussão que precisa somente deste “seu” empurrãozinho para começar. Por isso, não causa estranheza que o tema “estafa mental” tenha vazado rapidamente da área esportiva para outras do cotidiano, como Recursos Humanos, por exemplo, onde caiu como uma luva.
Muitos consultores, não é de hoje, chamam a atenção para a questão psíquica, que silenciosamente vem afetando os trabalhadores, sobretudo nestes tempos de pandemia, e que se não for devidamente cuidada deve afetar também o resultado das empresas. Afinal, não é segredo que em um ambiente saudável se produz mais e melhor.
Algumas empresas dizem produzir naturalmente este tipo de ambiente, porém são poucas. E mesmo dentre estas, o que se produz de fato, em muitas, são discursos politicamente corretos. Não resistem a uma observação ainda que ligeira sobre a prática. Por isso, urge que o universo do trabalho comece a tratar esta questão com a seriedade devida. Não se pode mais postergar esta discussão. As pressões impostas pelas empresas, somadas àquelas próprias de cada indivíduo, tornam-se fardos pesados, difíceis de serem conduzidos em linha reta, sem quedas e traumas.
O que aconteceu com Biles não foi brincadeira, um gesto de estrelismo. Não. Foi algo sério e que, por mais incrível que possa parecer, acontece com frequência. Afeta milhões de anônimos dos mais diversos campos de atividades. Mas saber disso não basta, são necessárias ações efetivas. E a primeira, básica, é levar a sério qualquer queixa relativa à saúde psíquica do trabalhador.
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