Não é mimimi (Parte 1) - Rede Gazeta de Comunicação

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Não é mimimi (Parte 1)

Desistência de Simone Biles estimula discussão sobre saúde psíquica no trabalho

JOÃO FORTUNATO

Jornalista, mestre em comunicação e cultura midiática, professor universitário

Simone Biles, ginasta norte-americana supercampeã mundial e olímpica, surpreendeu o mundo dos esportes quando desistiu de participar de algumas etapas da competição de ginástica artística da Olimpíada de Tóquio, alegando estafa mental. Sua atitude foi denominada de corajosa por muitos e de covarde por outros tantos. Biles não foi corajosa e muito menos covarde, apenas permitiu que o bom senso prevalecesse. Não estava se sentindo bem, a pressão era grande, então decidiu renunciar aos louros da glória – era franca favorita – e ficar nas arquibancadas aplaudindo as exibições das colegas da equipe e das adversárias. Buscou se divertir.

Biles “ouviu” o seu corpo, que lhe disse que não estava bem e que, se prosseguisse, “o mal” poderia piorar. Este “diálogo interno” é comum em atletas de alto rendimento, que vivem sequências exaustivas de treinamentos, não raro buscando superar seus próprios limites. Depois, nas competições, vem a pressão psicológica pelas vitórias, pela necessidade de se manter no topo, o faturamento em alta e a fama reluzente. Nem todos aguentam, muitos deixam a arena sem que as razões da “despedida” sejam conhecidas ou entendidas. Saem com suas amarguras e em completo silêncio.

Biles tem crédito. Entre mundiais e olimpíadas, esta jovem de 24 anos já acumula mais de 30 medalhas. Ou seja, não tem que provar nada para ninguém. Pode seguir para onde o seu nariz aponta. Mas outros, sofrendo do mesmo mal, não podem, por razões diversas, ou não têm coragem de tomar decisão semelhante. Ninguém pode afirmar que para Biles foi fácil, porém, é possível assegurar que para os demais, que não possuem o mesmo “portfólio” de conquistas, qualquer desistência para preservar a sua saúde mental corre o risco de ser interpretada apenas como mimimi.