As mulheres, na atualidade, ocupam mais espaço na sociedade e no mercado de trabalho, mas o desrespeito, o assédio moral e novas formas de violência de gênero ainda precisam ser vencidos. O cenário é colocado pela professora e pesquisadora Cláudia de Jesus Maia, coordenadora do Grupo de Pesquisa e Estudos Gênero e Violência (GPEG) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), ao abordar a comemoração do Dia Internacional da Mulher – 8 de março.
A professora e pesquisadora da Unimontes salienta que as mulheres vêm ocupando mais espaços, antes a elas negados, sobretudo, no mercado de trabalho, nas carreiras profissionais e na política.
“Isso a meu ver tem resultado em dois movimentos, por um lado tem se desenvolvido maior preocupação com a paridade e maior reconhecimento das competências das mulheres em todos os níveis por alguns; por outro lado, também enfrentamentos muito desrespeito, muito assédio moral e novas formas de violência de gênero nos espaços públicos tem surgido. O sexismo, a misoginia e o desprezo pelo feminino, ainda é uma realidade”, afirma Cláudia Maia, que é vinculada ao Departamento de História da Unimontes.
“Cito como exemplo a violência, que muitas parlamentares têm sofrido no exercício de seus mandatos, assim como o número cada vez mais crescente de mulheres que têm denunciado formas de violência, discriminação e desrespeito dentro das Universidades”, ressalta a coordenadora do GPEG, ligado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História (PPGH) da Unimontes.
A professora e pesquisadora da Unimontes lembra que, na semana passada, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública publicou o relatório da pesquisa “visível e invisível: a vitimização das mulheres no Brasil”. O levantamento aponta que todas as formas de violência contra mulheres aumentou, tendência verificada nos anos anteriores.
De acordo com o estudo, a estimativa é que, em média, 18,6 milhões de mulheres de 16 anos ou mais foram vítimas de alguma forma de violência. “O assédio sexual atingiu números inimagináveis. Cerca de 46,7% das mulheres brasileiras de 16 anos ou mais sofreram alguma forma de assédio sexual”, registra a professora Cláudia Maia.
Estima-se que no ano passado a cada minuto 35 mulheres sofreram algum tipo de violência. A pesquisadora ressalta: “os números do feminicídio, que é quase sempre o desfecho de uma contínua violência, também aumentou e Minas Gerais segue como o estado em que as mulheres mais morrem por razões de gênero”.
Há medidas que são necessárias para a redução das agressões às mulheres. “Sem dúvida, são necessárias políticas públicas mais efetivas, o que implica também investimento público de recursos. É necessário o fortalecimento das redes a apoio à mulheres em situação de violência. Um exemplo é a Rede de Enfrentamento a Violência contra mulheres de Montes Claros, que envolve vários parceiros de órgãos públicos estaduais e municipais, sociedade civil e universidade”.
Ela chama atenção também para as políticas de prevenção da violência de curto prazo, como o acolhimento das vítimas, de ações de médio prazo (como trabalho efetivo junto aos agressores), e a as medidas de longo prazo, como a educação voltada para igualdade de gênero.
“Nós não vamos conseguir frear a violência se não investirmos de fato na educação das crianças e de jovens para criar uma cultura do respeito à diferença, à diversidade e ao outro, especialmente, às mulheres. É preciso alterar os valores da masculinidade que produz as mulheres como sujeitos inferiores, submissos e estimula o ódio às mulheres. É preciso a adoção de políticas de combate às desigualdades econômicas e ao racismo que influenciam diretamente no aumento da violência. Não é por acaso que mulheres negras são a maioria entre as vítimas de violência doméstica e de feminicídio”, comenta a professora Cláudia Maia.
Conquistas das mulheres
A professora Cláudia Maia ressalta que neste 8 de março de 2023, o sexo feminino tem conquistas a serem comemoradas. “O aumento de mulheres parlamentares, especialmente de mulheres negras é um motivo para comemorar; mas acho que o mais importante a ser comemorado é a tomada de consciência cada vez maior das mulheres a respeito dos seus direitos, isso tem feito um número cada vez maior de mulheres denunciarem a violência e não aceitarem posições de subalternidade e opressão”, observa.
“Para mim também é motivo para comemorar um número cada vez maior de mulheres que se identifica com perspectiva feminista de pensar e agir no mundo. Ainda falta muito e os números da violência citados exemplificam isso, mas quando vejo meninas cada vez mais jovens lutando por igualdade de gênero e cultivando a solidariedade feminista, me faz ter esperança de um mundo mais respeitoso, amoroso e igualitário para as mulheres”, conclui Cláudia Maia.
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