Faleceu ontem, em Montes Claros, o empresário Américo Martins Filho, de 81 anos, que se destacou como fundador do jornal “O Norte”, em 1979 e ainda por ser um colecionador, que transformou a Fazenda “Rocinha” em verdadeiro museu, pois tinha ali o acervo dos principais jornas da cidade e ainda carros antigos. No local ainda mantinha a criação de mais de 100 cães. Um dos mais preciosos acervos que tinha em sua casa era a edição do jornal O Globo, de 1930, onde mostrava que o atentado ao então vice-presidente Fernando Melo Viana, em 6 de fevereiro de 1930, iniciou o Golpe de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência da República, por 15 anos.
O empresário Américo Martins estava internado desde 15 de março na Santa Casa de Montes Claros, onde morreu. A origem da família Martins é do Vale do Urucuia, onde seu pai Américo Martins comandou durante muitos anos. No ano de 1979, junto com o amigo Jorge Santos tomou a iniciativa de criar o jornal O Norte, instalado inicialmente no casarão da família, na praça Doutor Carlos. Abriu uma nova linha editorial na imprensa escrita de Montes Claros. Foi membro do Lions Clube Internacional e do Instituto Histórico do Norte de Minas. O seu funeral foi ontem a tarde.
Um dos seus últimos atos foi participar da criação do monumento dos Tropeiros, instalado da Rotatória do Aeroporto, que dá acesso a Estrada da Produção e da Fazenda Rocinha. O local levou o nome do seu filho Alexandre, falecido em acidente. Américo Martins fez questão de participar do acompanhamento da obra de arte. Na inauguração, não escondia sua emoção ao participar do evento em homenagem ao seu filho, ainda mais que no evento, foi anunciada a homenagem também a sua esposa Rosângela Assis Martins, que tinha falecido.
Ontem, a Associação de Imprensa do Norte de Minas divulgou nota, assinada pelo jornalista Benedito Said e denominada “A Imprensa faz história”, onde enfatiza que “normalmente a Imprensa conta a história. Mas quais personagens contam as histórias, os fatos, os atos, as transformações e documentam a vida? Muitos são eles. Todos conforme o olhar que têm, e que vai ficando mais aguçado com o passar dos anos. Américo Martins Filho tinha o olhar aguçado. Além de gestor, trazia a marca da própria história na família, que edificou parte deste sertão norte-mineiro. Américo Martins acreditava sempre que a Imprensa tem viés mais libertador do que de informação factual. Tanto assim que, e não por poucas vezes, abraçava Guimarães Rosa para dizer que o passado joga luz. Pode ser para o próprio passado, como retrovisor, ou para o presente, como clarividência de quem um dia quer ou queira conhecer como será o futuro, e até ajudar para que esse amanhã incerto seja melhor”.
“Fez do seu sítio um museu. Passado de lembranças. Cidade bucólica e parada para contar causos diversos. Linotipos, máquinas de escrever história. Telex para passar adiante, junção de Código Morse e ondas de fibras invisíveis. Criava cães, principalmente os acolhidos que vinham das ruas insanas e frias. Fez do Jornal do Norte esteio de um tempo em que a Ditadura Militar espreitava. Amava as pessoas, voz mansa e olhar ponto para mais ouvir do que emitir a observação. Guardava história. Fez história. Hoje a Imprensa perde parte da sua História. A pandemia de 1917 voltou na cacunda pegajosa e voraz do coronavírus de 2020, 2021, 2022. Pegou o desbravador de história no laço e o jogou misturado ao alicerce do ontem, neste presente. Vai ficar para a história. Na História da Imprensa e na História desta cidade de Sertão, Verso, Lampião, Bucolismo e Progresso. Tudo misturado assim. A Imprensa de Montes Claros e do Norte de Minas não se desvencilhará de Américo Martins porque ele faz parte da história de tudo isso, tudo o que virá. Deus conserve”. (GA)
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