Montes Claros pode perder empresa multinacional - Rede Gazeta de Comunicação

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Montes Claros pode perder empresa multinacional

GIRLENO ALENCAR

A Fábrica de Cimento de Montes Claros, um dos marcos da industrialização na cidade, pois foi montada na década de 1970, pelo grupo pernambucano Matsulfur e depois vendida para o grupo Lafarge-Holcim corre riscos de ser fechada. A situação preocupa a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Montes Claros, pois o secretário municipal Edilson Carlos Torquarto está na expectativa de que outra empresa assuma a planta de Montes Claros.

O empreendimento tem unidades fabris em Barroso, Pedro Leopoldo e Montes Claros, e filiais em Barbacena e Uberaba. Embora não confirme, o grupo franco-suíço LafargeHolcim, maior fabricante de cimento do mundo, pode estar se preparando para deixar o Brasil. O grupo anunciou o plano de vendas de todos os seus ativos no país, inclusive as unidades fabris em Minas Gerais. A empresa emprega cerca de 1.600 trabalhadores no país, sendo mais de 400 só em Minas Gerais.

“Acredito que sair do Brasil esteja relacionado com a perspectiva macro, da dificuldade de operar no país, em que se tem pouco incentivo e as leis mudam a todo o momento. De qualquer forma, é uma perda enorme”, avaliou o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe. O comunicado da saída da empresa vem acompanhado de diversas multinacionais que têm deixado o país nos últimos meses. Em janeiro, a Ford informou que encerraria sua produção no país, após mais de 100 anos de funcionamento e com a demissão de 5 mil funcionários. Em março, foi a vez de a Sony fechar sua fábrica na Zona Franca de Manaus, após 48 anos. A LG e Mercedes-Benz também anunciaram a saída do Brasil em meio à crise econômica.

TEMOR – Para o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Minas Gerais (Feticom-MG), Wilson Geraldo Sales da Silva, apesar de não se ter informações sobre demissões, produção e prazo para que as transações sejam concluídas, a notícia é preocupante. A empresa tem acordos coletivos e salários muito bons. “O nosso temor é que, com a venda, essa tradição seja interrompida, porque sempre há mudanças quando esses processos ocorrem, e muitas vezes há fechamento de fábricas”, afirma.

Segundo Geraldo, a entidade já solicitou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) detalhes de como será conduzida a venda dos ativos. “A questão é que tudo está sendo decidido pela matriz na Suíça. É uma perda enorme para o país”, diz. A Lafarge-Holcim informou à reportagem que não iria comentar o assunto.

Presidente da Fiemg fala sobre venda de ativos

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Flávio Roscoe destaca que a saída do empreendimento precisa ter o aval do Cade

No ano de 2015 o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) afirma que foram vendidas 15,3 milhões de toneladas no período, sendo 5,5 milhões somente em março. Na comparação entre março de 2021 e março de 2020 o crescimento registrado foi de 34,6%. Mas, para o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, a possível venda de ativos da empresa no país pode estar ligada a prejuízos. “É muito difícil uma indústria decidir sair, porque o investimento industrial é imobilizado, ninguém sai se não tiver um prejuízo razoável. Uma empresa que anuncia que quer vender (seus ativos) e sair do país, ela quer liquidar, ela não está vendendo por oportunidade. É uma perda enorme”, pontuou.

Apesar de tudo isso, a saída da Lafarge-Holcim do Brasil pode não ser fácil, porque o setor é muito concentrado, o que deve levar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a barrar o negócio, caso seja fechado com alguma concorrente de grande porte. Já empresas menores não teriam fôlego financeiro para a aquisição. A venda das operações locais nos planos da Lafarge-Holcim vem ocorrendo de forma gradual desde 2015. Na época, o grupo vendeu ativos avaliados em cerca de US$ 350 milhões para o grupo irlandês CRH, o que diminuiu consideravelmente seu porte no Brasil. À época, o pacote de venda incluiu três fábricas de cimento (Matozinhos e Arcos Jazida, da Lafarge, e Cantagalo, da Holcim), duas estações de moagem (Arcos Cidade e Santa Luzia, da Lafarge) e uma indústria de mistura pronta de cimento (Pouso Alegre, da Holcim).

O mercado de cimento teve um crescimento de 12% a 12,5%, com produção de 58 milhões de toneladas, segundo projeção do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic). Para acompanhar o ritmo nacional, empresas do setor já planejam aumentar a produção em algumas unidades. A Lafarge iniciou investimentos de R$ 60 milhões em sua fábrica em Montes Claros. A meta é passar das 800 mil toneladas ano para 1 milhão – e o objetivo deve ser alcançado em 2011. Outros fabricantes do produto no estado, como a Liz, Votorantim e o Grupo Holcim, não divulgaram seus planos de expansão. (GA)