Medicina Preventiva x Medicina Curativa: o dilema das duas frentes que impactam o setor de saúde - Rede Gazeta de Comunicação

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Medicina Preventiva x Medicina Curativa: o dilema das duas frentes que impactam o setor de saúde

EUCLIDES MATHEUCCI JR.

Co-fundador e presidente da empresa de biotecnologia DNA Consult, além de professor e orientador no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia na Universidade Federal de São Carlos

A medicina curativa domina o setor de saúde e farmacêutico. Mas existe outro tipo de cuidado em crescimento, chamado de Medicina Personalizada. De forma bem simples, a medicina curativa consiste  em tratar de sintomas que já estão evidentes, com o intuito de que eles não evoluam. Enquanto isso, a Medicina Personalizada ou Preventiva é uma modalidade médica que tem o objetivo de prevenir doenças, antes mesmo de que apareçam, evitando que tais doenças se instalem no indivíduo. Entre as metodologias utilizadas pela Medicina Personalizada, a principal é o mapeamento genético.

A Medicina Personalizada está crescendo, na medida em que os exames genéticos tornam-se mais acessíveis, inclusive com cobertura obrigatória pelas operadoras de saúde. Tais exames permitem verificar quais são as susceptibilidades de cada indivíduo, que também é conhecida como Medicina Personalizada.

A necessidade de se investir em medicina preventiva se dá no contexto que este fortalecimento reduziria riscos de internações e agravamentos de doenças graves, além da redução de custos para os sistemas de saúde, tanto privados, quanto públicos. 

Em artigo de 2014 (BMC Med 12, 136 (2014), os autores citam: “Uma transição de um modelo curativo para um modelo mais holístico que enfatiza a prevenção, detecção e acompanhamento de longo prazo é necessária com urgência. Na ausência dessas mudanças, as doenças crônicas continuarão a ser mal detectadas e a cobertura universal de saúde não será eficaz.”

Outro artigo científico importante (Eur J Health Econ 18, 1065–1067 (2017), cita que: “…apenas nos EUA, estão disponíveis 26.000 testes de diagnóstico genético, cobrindo mais de 3600 genes [ 2 ], tornando a Medicina Personalizada (PM) uma das áreas da saúde global com potencial de crescimento mais rápido. Este novo paradigma de PM desencadeou muitas publicações em várias áreas científicas, totalizando cerca de 2500 no ano de 2012 [ 3 ] e o dobro desse número em 2016 [ 4] O PM tem o potencial de permitir que os pacientes recebam medicamentos específicos para suas doenças individuais e de aumentar a eficiência do sistema de saúde.”

Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) relatou que 72% dos pacientes que tinham doenças crônicas descobriram a enfermidade somente após surgirem os sintomas. A pesquisa também revelou que 48% dos pacientes doentes acreditam que exames feitos com antecedência poderiam prevenir as patologias.

Outro dado relevante que demonstra a importância destes cuidados preventivos é uma estimativa feita pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), reguladora dos planos de saúde do país, ao afirmar que um paciente com doenças crônicas tem um custo sete vezes maior em relação a um paciente saudável da mesma idade. As doenças crônicas podem ser detectadas, mesmo antes do aparecimento dos sintomas através de técnicas de análises do genoma.

Uma frente da medicina preventiva que tem potencial e merece atenção é a área de biologia molecular e mapeamentos genéticos. Por meio de um mapeamento do DNA humano, é possível descobrir inúmeras informações ricas que trazem ao paciente pontos de atenção em relação a sua saúde, como predisposições a doenças crônicas, condições clínicas e até mesmo os tipos de dieta mais adequadas de acordo com o metabolismo de cada indivíduo. A Medicina Personalizada evidentemente, reduz custos e aumenta a qualidade de vida em uma área tão explorada e importante para cada um de nós.

A demanda da Medicina Personalizada em relação à biologia molecular tem sido perceptível com a adoção por parte dos planos de saúde em exames específicos. Por exemplo, a ANS possui um comitê que avalia quais procedimentos são obrigatórios na cobertura dos convênios e cada vez mais os exames de biologia molecular têm entrado neste grupo de exigências, inclusive o sequenciamento do exoma, que avalia todos os genes de uma pessoa.

É importante frisar que a medicina tratativa não será extinta, já que é primordial para o setor. Entretanto, é notória a eficiência de investimentos em medicina preventiva. Com este fortalecimento, será possível vislumbrar economia de tempo e custo financeiro. Muito mais do que isso: os esforços poderão ser concentrados em mais pesquisas e tecnologias visando o avanço e resolução de outras necessidades do setor de saúde.

Por fim, é notável a resistência da indústria da saúde em permitir espaço para a Medicina Personalizada, vários especialistas comentam que existe uma falta evidente de estudos que relacionam a economia de recursos com o uso da Medicina Personalizada, justamente pela resistência da indústria da saúde em progredir para metodologias inovadoras, que poderiam alterar o status quo (EPMA J. 2015 Sep 30;6:19 e Eur J Health Econ 18, 1065–1067, 2017).