Dezenas de profissionais de saúde e lideranças do Norte de Minas participaram do lançamento do Projeto IntegraChagas Brasil, em Porteirinha e Espinosa. Trata-se de iniciativa estratégica do Ministério da Saúde, que visa diagnosticar a doença de Chagas a partir da realização de teste rápido desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sediada no Rio de Janeiro.
Por meio da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS), o Projeto conta com a participação da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), com o objetivo de ampliar o acesso da população ao diagnóstico rápido e cuidado para a doença de Chagas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Os trabalhos terão envolvimento direto dos profissionais dos serviços municipais de atenção primária à saúde.
Através da qualificação da rede de atenção à saúde o objetivo do Ministério da Saúde é estabelecer um percurso assistencial padronizado, com foco em ações de promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação de pacientes acometidos pela doença. Nesse contexto, Porteirinha e Espinosa foram incluídos entre os cinco municípios prioritários para a execução do IntegraChagas Brasil. As demais localidades participantes do Projeto são: Iguaracy (Pernambuco); São Luiz de Montes Belos (Goiás) e São Desidério (Bahia).
O coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial da Secretaria de Vigilância à Saúde do Ministério da Saúde, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, apresentou o IntegraChagas nas duas cerimônias. Ele explicou que “o projeto é uma pesquisa estratégica do Ministério da Saúde, sob a coordenação do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz) e da Universidade Federal do Ceará (UFC), em estreita parceria com estados e municípios envolvidos. Esta é uma iniciativa que busca integrar ações em um movimento para diagnosticar e cuidar das pessoas acometidas pela doença de Chagas a partir da Atenção Primária à Saúde”.
O lançamento do Projeto no Norte de Minas aconteceu após capacitação durante a Semana de Formação em Doença de Chagas. Com a oferta de mais de 200 vagas para profissionais de saúde, as atividades contemplaram quatro áreas: Teste Rápido e Aconselhamento em doença de Chagas, implementado por profissionais do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos; Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Federal do Ceará (UFC); Processo de Trabalho no Território, em parceria com UFBA e UFC; Manejo Clínico em Doença de Chagas, conduzido pelo Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz e UFC; e Cuidado e Aconselhamento em Doença de Chagas no Território, em parceria com UFBA e UFC.
Durante o lançamento do IntegraChagas em Porteirinha a superintendente regional de saúde de Montes Claros, Dhyeime Thauanne Pereira Marques observou que “o fato de ser pioneiro, o Projeto traz boas perspectivas para o Norte de Minas pois o próprio nome do projeto traduz a sua essência: integração. Nós sabemos o quanto é importante esse trabalho conjunto entre vigilância em saúde e atenção primária, pautado na integralidade do cuidado à pessoa usuária do SUS”.
Desde a fase de articulação com os municípios para a implantação do IntegraChagas no Norte de Minas, a SRS de Montes Claros conta com a participação das referências técnicas da Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica e de Saúde, Nilce Almeida Lima Fagundes e Bartolomeu Teixeira Lopes, além de Núbia Pereira da Silva, referência técnica do Laboratório Macrorregional do Norte de Minas, mantido pela SES-MG.
Especialista destaca a importância da educação para o enfrentamento à doença
O coordenador geral do Projeto IntegraChagas Brasil, Alberto Novaes Ramos Júnior observou que “a partir do lançamento espera-se contribuir com a construção participativa de uma resposta brasileira à doença de Chagas, proporcionando interfaces ainda mais realistas entre vigilância e cuidado nas redes de atenção do SUS, a partir de ações sustentáveis, centradas e ordenadas pela atenção primária, em coerência com a Política Nacional de Saúde”.
Já a presidente da Associação de Chagas da Bahia e membro do Fórum Social Brasileiro para o Enfrentamento de Doenças Infecciosas Negligenciadas, Amélia Bispo, falou da importância da educação para o enfrentamento à doença.
“Nós todos devemos nos comprometer em educar as crianças, orientar sobre os cuidados com a alimentação e a casa, porque não é só do remédio que precisamos. Nós precisamos educar as pessoas para prevenir a doença de Chagas. Os gestores precisam investir no atendimento de saúde para essas pessoas”, pontuou a presidente.
DIAGNÓSTICO
Atualmente a confirmação laboratorial da doença de Chagas é feita por exames parasitológicos, que buscam observar o parasito Trypanosoma cruzi em amostras de sangue. “Em comparação, o teste molecular desenvolvido pela Fiocruz é mais sensível, pois consegue identificar a infecção mesmo com o fragmento de um parasito na amostra, o que não é possível no exame parasitológico”, observa Constança Felícia Britto, coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do Instituto Oswaldo Cruz.
A identificação do Trypanosoma cruzi com o Kit NAT Chagas também é feita a partir de amostras de sangue. O procedimento demora entre quatro a cinco horas e pode ser executado em qualquer laboratório equipado para aplicar a metodologia PCR. Isso permite a descentralização do diagnóstico e agilidade na obtenção de resultados, além da padronização dos testes utilizados em diferentes centros.
Devido à alta sensibilidade e especificidade, o diagnóstico molecular pode trazer avanços para a identificação de casos agudos de doença de Chagas, especialmente em recém-nascidos, que podem contrair a infecção durante a gestação ou no parto, quando a mãe é portadora do Trypanosoma cruzi. A doença também pode ser diagnosticada durante surtos de infecção oral, que atualmente constituem a forma mais comum de transmissão devido à ingestão de alimentos contaminados.
“Esperamos que o Kit NAT Chagas possa aumentar o acesso ao diagnóstico e, consequentemente, ao tratamento das pessoas com doença de Chagas, que são negligenciadas e têm dificuldade de acesso à saúde”, pontua Constança Britto.
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