A Fundação Ezequiel Dias (Funed), por meio de seu Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-MG), iniciou, em março, um projeto piloto de água para consumo das aldeias indígenas Maxakali. Os remanescentes desse grupo vivem em duas áreas indígenas em Minas Gerais: Água Boa e Pradinho, hoje unificadas na Terra Indígena Maxakali, nos municípios de Bertópolis e Santa Helena de Minas, no Vale do Mucuri. Devido ao aspecto tradicionalista dessa cultura, os Maxakalis não permitem o tratamento das águas extraídas de poços superficiais que alimentam reservatórios e são utilizadas para abastecer as aldeias. Diante disso, surtos recorrentes de Doença Diarréica Aguda (DDA) acometem a população, levando inclusive a óbitos, segundo relatórios de atualização de investigação de surtos de anos anteriores.
Em casos de surtos, amostras de água são enviadas para o Serviço de Microbiologia de Produtos (SMBP), da Divisão de Vigilância Sanitária e Ambiental (Divisa) da Funed, que realiza a pesquisa de patógenos como: Salmonella spp., Shigella spp., Aeromonas spp., Escherichia colidiarreiogênica e Pseudomonasaeruginosa. Muitas vezes os surtos não são elucidados, pois uma variedade de outros microrganismos, como vírus, bactérias, fungos e protozoários, que também causam doenças intestinais, podem estar presentes na água.
Com o objetivo de detectar outros patógenos de veiculação hídrica em caráter preventivo, o Serviço de Ciências Bioquímicas (SCB) e o SMBP, ambos da Divisa, iniciaram um Projeto Piloto de Monitoramento de água para consumo das Aldeias Maxakali. “O projeto piloto, com recorte para a população indígena, será realizado no período de março a agosto de 2023, com coletas mensais de água dos reservatórios de sete aldeias, visando à avaliação da qualidade da água consumida pela população indígena, que conta com 1979 indivíduos. Esse é o primeiro passo para propormos um programa de monitoramento de vírus em água e alimentos. Com essas ações preventivas, poderemos subsidiar a tomada de decisão das autoridades competentes antes da ocorrência de surtos de Doença Diarreica Aguda”, explica Roberta de Matos Caetano, chefe do SMBP. As amostras da segunda coleta serão recebidas nesta semana.
Após participar da capacitação para o monitoramento do SARS-CoV-2 em águas residuais e esgoto do Ministério da Saúde, em setembro de 2022, Daniela Peralva, chefe do SCB, projetou a ampliação das análises para detecção de outros agravos nesse tipo de amostras, como: poliomielite, Monkeypox, bactérias resistentes a antibióticos, e outros, assim como para detecção viral em outras matrizes como alimentos e água para consumo. “A biologia molecular é uma ferramenta abrangente, que possibilita realizar diversas análises a partir do material genético extraído de uma única amostra. Com pequenas adequações na metodologia, conseguimos realizar as etapas de concentração viral e extração de RNA das amostras de água das aldeias indígenas e, em seguida, pesquisar a presença de vírus gastroentéricos e Sars-CoV-2, além da pesquisa de bactérias patogênicas pela microbiologia clássica”, explica a chefe do SCB.
Para o coordenador da Divisa da Funed, Kleber Baptista, esse projeto é exemplo de como as áreas de Microbiologia e Biologia Molecular podem se complementar. “Essa atuação conjunta abre as portas para a ampliação do nosso escopo analítico na investigação de surtos que, por vezes, não são elucidados. Isso ocorre pelo fato da maioria dos Lacens não ter em seu escopo o parâmetro de detecção viral. Sendo assim, a proposta é expandir, em breve, as análises de detecção viral para a matriz de alimentos”, completa o chefe da Divisa.
O projeto foi viabilizado por meio de uma parceria com o coordenador Célio César Ferreira e a farmacêutica Aline Carla Moura, responsáveis pelo monitoramento e controle de qualidade de água nas aldeias indígenas do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI-MG/ES), unidade gestora descentralizada do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS). Pela Funed, estão envolvidas as servidoras: Roberta de Matos Caetano, Daniela Peralva Lima, Adriane Angélica da Silva Souza, e a bolsista Anna Julia Quaresma Magalhães. A próxima etapa é a aquisição dos insumos necessários às análises, para possibilitar que sejam realizadas na rotina de elucidação de surtos, e, paralelamente, o alinhamento com a Vigilância Estadual para a implementação da Vigilância em Saúde Ambiental voltada à EBE (Epidemiologia Baseada em Esgoto) em Minas Gerais.
A cultura dos Maxakalis
As doenças, de uma forma geral,são motivo de grandes traumas entre os Maxakali, pois são interpretadas como resultado de uma intervenção voluntária ou provocada por espíritos que capturam as almas das pessoas, fazendo-as ficar doentes. Para vencê-las, os indígenas adotam um ritual de cura que envolve canto e dança e é comandado pelo líder do grupo, visando agradar os espíritos malignos e restaurar o equilíbrio.
Para a assistência à saúde em outros níveis de atenção, a população indígena conta com a rede de assistência fornecida pelos municípios. Os casos que necessitam de assistência hospitalar são encaminhados a três principais hospitais de referência: Cura D’ars (Machacalis), São Vicente (Santa Helena de Minas) e Santa Rosália (Teófilo Otoni). O DSEI-MG/ES promove a reordenação da rede de saúde e das práticas sanitárias e desenvolve atividades administrativo-gerenciais necessárias à prestação da assistência, com o Controle Social. (Agência Minas)
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