O Instituto Nacional de Câncer (INCA) coordenou uma pesquisa inédita que revela o alto custo com o tratamento dos cânceres relacionados ao excesso de peso. Dos R$ 3,5 bilhões gastos pelo governo federal em 2018 com o tratamento de câncer, R$ 1,4 bilhão foram usados com cânceres associados ao excesso de peso.
O estudo, publicado em março, na revista científica internacional Plos One, considerou os custos médicos do Sistema Único de Saúde Brasileiro (SUS) e evidenciou que 80% de toda a despesa com os cânceres atribuíveis ao excesso de peso foram com tratamentos de tumores malignos de mama, colorretal e endométrio. Embora a contribuição do excesso de peso seja relativamente pequena para os cânceres de mama e colorretal, quando comparado ao câncer de endométrio, o impacto econômico é alto pela grande incidência desses cânceres no país.
Além dessas três neoplasias, a obesidade também é um fator de risco para o desenvolvimento de outros tipos de câncer, como o de esôfago, estômago, pâncreas, vesícula biliar, fígado, rins, ovário e próstata.
As causas do excesso de peso são multifatoriais e resultam do processo de transição alimentar em curso no país. A preferência por alimentos frescos e pelo preparo tradicional das refeições vem sendo substituída pelo aumento do consumo de alimentos processados e ultraprocessados. O predomínio do sedentarismo também é um fator relevante.
Para Ronaldo Corrêa, da Área Técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA, os resultados da pesquisa são claros.
“O aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre elas o câncer, tem como um forte agente promotor a exposição a fatores de risco comportamentais, como o excesso de peso. É urgente o debate sobre a melhor alocação dos recursos para as ações de saúde em virtude da expectativa de aumento exponencial de gastos futuros, afirmou Corrêa.”
Recentemente divulgados, os dados da Pesquisa Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, retratam o avanço do excesso de peso e da obesidade na população brasileira nos últimos anos. O percentual de pessoas obesas, em idade adulta no país, mais do que dobrou em 17 anos, saltando de 12,2%, entre 2002 e 2003, para 26,8%, em 2019. No mesmo período, a proporção da população adulta com excesso de peso passou de 43,3% para 61,7%, o que representa quase dois terços dos brasileiros.
Entre a população mais jovem, os valores são igualmente preocupantes. Um em cada cinco adolescentes, com idades entre 15 e 17 anos, apresentou excesso de peso e, cerca de um terço das pessoas de 18 a 24 anos, são obesas.
“Esses resultados podem ajudar os formuladores de políticas públicas, como o INCA, a priorizar as ações de controle do câncer, buscando um equilíbrio adequado entre o que é gasto na prevenção, especificamente no excesso de peso, e no que é gasto com o tratamento do câncer”, disse Ana Cristina Pinho, diretora-geral do Instituto.
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