Gregório José
Jornalista/Radialista/Filósofo
Quando era jovem via meus pais com a mão cheia de remédio. Para pressão arterial, diabetes, insuficiência cardíaca, diurético, analgésico. Isso sem contar os que eles mesmo se medicavam como cálcio, para dor de cabeça, dor nos joelhos e aqueles para massagem com cânfora que amavam passar nas juntas dos braços, pernas e pés. Ah! Ainda tinham aqueles como Omeprazol, sal de fruta para refluxo e queimação. Uma verdadeira farmácia ambulante. E para viajar, era um desespero ter que levar as caixas e saber que hora dar qual e para que. Se faltasse um a viagem estava perdida, uma vez que nem sempre lembravam o nome correto do que ficara em casa!
Ah! Ainda tem os antidepressivos, para insônia, para acalmar, para isso, aquilo que nem sei quantos mais.
Hoje 6 em cada dez idosos consomem mais de cinco remédios por dia. Este fenômeno, denominado polifarmácia, eleva consideravelmente os riscos de interação negativa entre substâncias, resultando em maior taxa de internações e mortalidade.
Um senhor de 89 anos que conheci é um exemplo vivo dos perigos da polifarmácia. Ele informou que consome nove medicamentos diariamente, ele enfrentou uma série de complicações de saúde, incluindo tosse seca e constante, queimação no peito e azia.
Uma pesquisa realizada com mil idosos que utilizam o sistema público de saúde de Ribeirão Preto (SP) revelou que 46,2% deles já tiveram ao menos uma reação adversa causada por interações medicamentosas ou pelo uso inapropriado de medicamentos. Neste universo pesquisado, 60% consumiam mais do que cinco remédios ao dia.
No entanto, o problema vai além da polifarmácia. O Brasil enfrenta uma escassez de especialistas em geriatria. Com apenas 2.756 geriatras para atender 24,9 milhões com mais de 60 anos, o país possui apenas um geriatra para cada 9 mil idosos.
O cuidado com a saúde é frequentemente fragmentado, com os pacientes buscando diferentes especialistas para tratar sintomas específicos. Isso muitas vezes resulta na prescrição de múltiplos medicamentos, sem considerar as possíveis interações entre eles.
Para resolver esse problema, é necessário um sistema de saúde mais integrado, prontuário único e digitalizado para cada paciente. Isso permitiria que os profissionais de saúde acessassem facilmente o histórico do paciente e soubessem quais medicamentos ele toma. Facilitaria o tratamento de doenças e reduziria os riscos de interações medicamentosas.
A desprescrição, que envolve a reavaliação e a suspensão de medicamentos desnecessários, também é uma parte importante do tratamento de idosos.
O envelhecimento da população é uma realidade em todo o mundo, e é essencial que os sistemas de saúde estejam preparados para lidar com os desafios específicos que isso traz. Reduzir a polifarmácia é uma parte fundamental desse desafio, e requer uma abordagem integrada e colaborativa entre pacientes, profissionais de saúde e o sistema de saúde como um todo.
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