BENEDITO SAID
Professor e jornalista, foi vereador, presidente da Câmara Municipal, secretário de Educação de Montes Claros
O tempo é remédio que ondula o esquecimento. Apaga da memória feitos e feitores. Novas gerações acabam perdendo vínculo com o anterior. No entanto, há quem persista incólume na existência que o relógio insiste em deixar para trás.
Bem perto do coração de toda a gente brasileira e, em especial, norte-mineira e montes-clarense, ficará na memória perpétua o prefeito Humberto Souto. No seu tempo anterior, foi deputado, presidente do Tribunal de Cotas da União, líder e defensor da vida.
Humberto Souto capitaneia como prefeito a nau do município de Montes Claros, tem nos olhos o bom porto.
Ao assumir o timão, tinha nas mãos um barco à deriva, casco represando por tormentas diversas, a começar pela tripulação dominada pela descrença e diante do improvável sucesso social e econômico.
A maquinaria da prefeitura em 2017 perdera o azeite e a lubrificação, mantinha-se emperrada com dívidas, sem condições de atender da proa à popa, não havendo fuga pelas laterais, estibordo ou bombordo. O convés requeria medidas drásticas para se manter. Faltavam recursos para atendimento na saúde, educação e a infraestrutura exibia buracos profundos, como casco apodrecido pela maresia, mescla de corrupção, omissão e falta de reparos muito comuns em tempos de má gestão.
A tripulação creu na salvação, dando o comando ao capitão Humberto Souto. Na primeira meia-parte da viagem, dissabores. Febre amarela, falta de coleta de lixo, médicos e hospitais sem receber, caixa de suprimentos apenas para o básico, inanição e famélicos batendo na cabine de comando. Inicio de revolta, com a tripulação querendo resultados imediatos. Lixo jogado na porta da casa do comandante, exigência de pressa nas soluções de problemas decanos. Professores paralisando atividades devido à falta de recursos do Fundo da Educação, cujo governo estadual havia confiscado.
Humberto esperava, mas já projetava nova rota de navegação. Um passo importante foi a criação de fundo destinado a obras de infraestrutura. O dinheiro foi mantido em cofre exclusivo para obras, enquanto projetos de ruas e avenidas, recuperação viária, eram construídos. Os recursos deram fortalecimento às negociações com empreiteiras, sendo as licitações realizadas com descontos generosos e benéficos ao próprio orçamento do município, com garantia que empreendedores e trabalhadores não seriam abandonados ao largo das construções, o que sustentou novas avenidas, pontes, escolas, postos de saúde e circulação de valores na economia. Chegou-se ao ponto que Montes Claros era um dos poucos municípios do Brasil com obras em curso e inauguradas sem percalços ou atropelos, salários em dia, credores estabilizados.
Restabelecida a confiança, principalmente com a visualização da seriedade e honestidade, além da segurança de mão firme do timoneiro, a cidade vislumbrou novos tempos, nova vida. Sorria-se nos parques revitalizados.
Veio a pandemia de Covid-19. Tempos de incertezas e ainda acossados pela intolerância ideológica, radicalismo contra fechamento de comércio e serviços, medida importante para evitar a circulação do vírus mortal. Foi primeira ação que conseguiu deter o avanço dos males de mil faces nunca antes vistos pela humanidade. Depois veio a vacina, passando-se pelo maior número de leitos hospitalares, inclusive para tratamento intensivo, inauguração da UPA do Chiquinho Guimarães, cujas obras se arrastavam por mais de 30 anos em governos anteriores, abertura gradual de setores socioeconômicos para diminuir impactos nas despensas das casas, principalmente dos mais necessitados. A dor era intensa.
Com plano emergencial e envolvimento dos mais diversos segmentos da sociedade, o número de mortes e infectados foi menor que em cidades de igual ou maior porte que Montes Claros.
Manteve-se o funcionamento de alguns pilares da economia, eliminando-se radicalmente reuniões, encontros sociais e celebrações diversas, inclusive religiosas. Isso gerou também contrariedade e mãos nos pés do comandante da embarcação, porém incapazes de jogá-lo ao mar da intolerância.
Humberto Souto se manteve firme e entrou em clausura devido à idade, o que não provocou motim. A mão firme foi mantida no comando do barco voltado para o bom porto.
Por quê? O capitão Humberto Souto foi sustentado pela própria história que construiu ao longo da vida pública. Respeito incrustrado na têmpora de cada um que compreende o dever de servir para o tempo que virá. Naquele momento, como prediz o escritor alemão Goethe “todo nosso saber se reduz a isso: renunciar à nossa existência para podermos existir”.
O capitão foi reconduzido ao posto com aprovação superior a 95% de toda a embarcação, e até mesmo declinou do direito de votar, evidenciando o sabor agora cristalino das águas montes-clarenses.
Neste segundo percurso da viagem, haverá ainda intempéries, e algumas delas poderão ser sombrias. No entanto, as obras avançam, a segurança se mantém e a cidade respira certezas num barco restaurado pela credibilidade.
Humberto está na história porque fez história, personagem e escritor. Navegador no semiárido que se perpetuará na memória pelo bem que fez ao comandar a nau dos Montes Claros. É seguir.
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