FELIPE KOLESKI
Médico e autor do livro “Histórias de Peso – A obesidade como ela é”
Seis a cada 10 adultos no Brasil estão acima do peso. Cerca de 96 milhões de brasileiros têm sobrepeso ou obesidade, mostra a mais recente Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE. A questão é que ninguém é obeso porque quer. A genética, o estresse, a ansiedade, a cultura familiar e até baques emocionais e medicamentos desencadeiam o ganho de peso. E às vezes tudo junto, pois a obesidade é multifatorial.
O problema é que ainda lançamos um olhar de advogado de acusação para as pessoas portadoras de obesidade, atribuindo equivocadamente ao desleixo algo que não depende só de força de vontade. Por que fazemos isso? A resposta está na desinformação geral, mas também é uma questão de atitude individual. Selecionei três verbos para você identificar se a gordofobia, o preconceito contra quem tem obesidade, está presente na sua vida:
1. Simplificar
Como vimos, a obesidade não é uma escolha. É uma doença crônica, incurável, com múltiplas causas e recidivante, ou seja, mesmo tratada ela volta a se manifestar de modo recorrente. Outra informação que você precisa saber é que a obesidade desencadeia doenças como câncer, diabetes, hipertensão, gordura no fígado e outras. Por isso, encarar a obesidade apenas como escolha ou desleixo com o próprio corpo é revelar desconhecimento. Não existem soluções simples para questões complexas – e a obesidade, decididamente, não é algo simples.
2. Rotular
Usar a característica física para adjetivar uma pessoa portadora de obesidade é um rótulo inadequado. Ninguém se refere a alguém com uma doença crônica como “Fulano é aquele hipertenso ali”. Por que então se referir ao portador de obesidade como “aquele gordo” ou “aquela gordinha”? Outro comentário a vigiar: “Fulana emagreceu e ficou bonita”. Vamos desmistificar a ideia de que a beleza só existe no padrão longilíneo, uma estética hegemônica só na propaganda. Uma pessoa bonita não precisa ser necessariamente magra. Cada ser humano é único, e a verdadeira beleza está em ver a individualidade como ela realmente é.
3. Julgar
Já reparou como todo mundo se acha no direito de dar palpite sobre o corpo da pessoa portadora de obesidade? É dica sobre o que vestir ou não vestir para parecer mais magra, é comentário sobre o que pode ou não pode usar em lugares como praia ou piscina, é patrulha na academia ou na hora de praticar exercício no parque… Vamos deixar pra lá o julgamento e permitir que a própria pessoa decida o que é melhor para ela?
Se você conjuga ou é alvo desses verbos – como já fui, antes de tratar a minha própria obesidade – repense as suas atitudes ou reveja o ambiente onde você anda. Respeito acima de tudo.
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